Oscilante pilar de abutres,
Levanta-se como fumo escuro
De um ponto longe nesta planície
Aqui, mesmo
As rochas
Se entrecomem.
Quando o estômago alteia-se e imerge
Nas correntes termais da tarde calma,
Sei que os abutres pairam.
Sob um crânio poroso de animal,
Um lagarto exorbita os olhos para fora de umidade.
A areia dissimula sua cor.
Quando a cunha de pássaros trespassa o horizonte,
A terra inchará e cairá aberta
Em dois torrões tostados. Então os deuses,
Às cotoveladas, descerão, fustigando-se uns aos outros,
Estalando seus secos rostos em todo o espaço
Por este quase nada que é deles.
Tradução de Darcy Damasceno. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
VULTURES
A wavering pillar of vultures
Rises like dark smoke
From a distant point on this plain.
Here, even
The rocks
Eat one another.
When my stomach lifts and plunges
In the thermal currents of steady noon,
I know the vultures are poising.
Beneath a porous animal skull,
A lizard bulges his eyes into the humidity.
The sand swallows his color.
When the wedge of birds pierces the horizon,
The earth will swell and fall open
In two parched clods. Then the gods
Will descend, nudging, flogging one another,
Clacking their dry beaks through all space
For this very little of theirs.
VULTURES. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
O POLVO MAIS INTELIGENTE
Numa fúria de tinta
E fria troca de cor,
Contra mim o pequeno polvo esguinchou.
Então cresceu.
De que se alimentou, eu nunca soube
Até ser muito tarde.
Daí que eu espere sob rochas em poços
Enquanto o mundo gira.
Tradução de Darcy Damasceno. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
THE MOST INTELLIGENT CEPHALOPOD
In a fury of ink
And chilly colour change,
The small Octopus jetted into me.
Then grew.
What it fed upon, I never knew
Until far too late.
It takes me to wait beneath rocks in pools
Between the go and go of world.
THE MOST INTELLIGENT CEPHALOPOD. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
CIVILIZADO
Percebi pelo súbito silêncio
Nas minhas ruas interiores
Que um animal entrara na clareira:
Uma pata macia levantou-se,
Um ouvido preciso acompanhou
A sequência de persianas a fecharem-se.
Tradução de Darcy Damasceno. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
CIVILIZED
I knew by the sudden silence
In the streets inside me
An animal had entered the clearing:
One soft paw upraised,
One precise ear folowed
The sequence of closing shutters.
CIVILIZED. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
QUANDO LOBOS
Quando lobos,
Quando lobos enegrecidos
Com os olhos verde-lua
Afastam-se desconfiados da presa aborrecida,
Os lobos voltam seus olhos glaciais para si mesmos.
Todo o outono
Olhei os pesados machos, solteiros, lentos,
Surgirem ao longo dos cimos azuis em direção à neve,
Depois descerem para o interior dos vórtices da tempestade
De seu mero sangue.
Minha mente voltou-se
Como o alce voltou-se,
Pele, penas,
Tormenta,
E as folhas.
Sob o verde-pálido
Cobra de relâmpago que açoita e se endireita
Através da larga noite de inverno,
Meus olhos se voltam para os seus, meus olhos,
Seus olhos cor de lua.
Tradução de Darcy Damasceno. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
WHEN WOLVES
When wolves,
When black-burnished wolves
With their moon-green eyes,
Turn suspicious of stupid prey,
Wolves turn their icy eyes upon themselves.
All autumn
I watched the heavy bulls, single, slow,
Rise along blue peaks toward snow,
Then descend into the storm-centres
Of their merest blood.
My mind turned
As the moose turned,
Fur, feathers,
Weather,
And the leaves.
Beneath the pale-green
Snake fire that strikes and straightens
Across the wide winter night,
My eyes turn to yours, my eyes,
Your moon-coloured eyes.
WHEN WOLVES. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
Do CICLO DO TECIDO QUEIMADO
Os homens indo tão para o distante norte quanto podem,
Alguns perseguidos, outros em perseguição,
Darão pouco tento.
O norte espera pra queimar
E eles atiçarão as pequenas lanternas
De suas duas certezas
Nos cantos móveis da escuridão do norte.
Mas os dias juncados de minutos negros começaram.
O crânio é uma interrupção da brisa
Por trás dos olhos, cinzas peneiram-se em moles dunas.
Sangue o mastim figurado
Holocausto.
As árvores da corporeidade
Queimam desigualmente.
As árvores do inferno: não inflamáveis.
Saciedade é uma pequena ilha não mapeada
No laranja mar aberto da fome.
Meu tempo é das velhas árvores:
Perigoso, instável, queima
Rapidamente perto de outros.
Qualquer cientista lhes dirá
Que as coisas queimam melhor na bruma.
Os peixes que acendam o mar
À noite não são mero fósforo volteante,
E a água não está fervendo
Quando a corrente de verde torna-se vermelha com nadadeiras e chamas.
Oxidação, digamos, e desmontando-o, chamemos a isso podridão,
Mas que se explique devagar, claramente e de uma vez por todas
Para você mesmo
Que isso é o orgânico, o ciclo, perfeição.
E as cinzas oleosas
Dos peixes o hão de salvar.
Tradução de Darcy Damasceno. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
From BURN TISSUE CYCLE
The men going as far north as they can go,
Some persued, some in pursuit,
Will pay little attention.
The north waits to burn
And they will poke the small lanterns
Of their two certainties
Into the removing corners of the northern dark.
But the days littered with black minutes have begun.
The skull is an interruption of breeze.
Behind the eyes, ashes sift into soft dunes.
Blood the hound-figured
Holocaust.
The trees of the heavens
And the trees of corporeity
Burn inequally.
The trees of hell: nonflammable.
Satiety is a small uncharted isle
In the orange open ocean of the hunger.
My time is of the old trees:
Dangerous, unstable, combusts
Quickly near others.
Any scientist will tell you
Things burn best in the mist.
The fish which light the sea
At night are not mere phospors turning,
And the water is not boiling
When the stream-green goes red with fins and flames.
But explain slowly, clearly, and decisively
To yourself
That this is the organic, the cycle, perfection.
And the oily ashes
Of the fish will save you.
From BURN TISSUE CYCLE. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
UMA MATEMÁTICA
A besta
Na fímbria
Do rebanho imenso
Descansa para o retorno
Da fome, apenas.
Chacina segue
Até meu nauseado e meu moroso
Para preservar suas longas doenças.
Os mortos
Alimentam a terra
E a terra alimentará
O inevitável.
Venha a perfídia d estação,
Venha a traição da peliça
Ou folhagem, este negro inverno,
Mesmo assim os inermes sobreviverão:
Seus amargos intragáveis números...
Tradução de Darcy Damasceno. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
A MATHEMATICS
The beast
At the fringe
Of the limitless herd
Pauses for return
Of hunger, only.
Slaughter goes
To my sick and my slow
For preserving their long maladies.
The dead
Feed the earth
And the earth will
The inevitable.
Come treachery of season,
Come betrayal of pelt
Or foliage, this dark winter,
Even the defenseless shall survive:
Their bitter inedible numbers....
A MATHEMATICS. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
Do CÂNTICO PARA MÚSICA ELETRÔNICA
CANTO CINCO
Sou o espelhismo que penetro
Para entrar nestas zonas de pura cor.
Solitude não se deve confundir com santidade.
A mulher gorda: seu sexo flutua num mar
De carne, o anãozinho nadando atrás dele.
O que, quando a vida escurece, mais escuro do que a morte?
Guardo as várias simultâneas
Estações dentro dela: uma luz seca
Partida sobre água negra.
Como senti sobre coisas
Era claro par mim, mas não para palavras. Sons
Pregam no deserto a uma congregação de insetos.
Queimam a biblioteca dentro, onde
Catalogamos as coisas que sabemos: fogo, fumo, fumaça
De apenas partes de páginas. Não há outro lugar.
Ser não é ser.
Jamais houve tal questão.
Fogo, mero fogo, dentro da terra.
Fissão de luz na água movente ou
Silêncio turquesa entre pendulares árvores de água:
Falar de nada ou simplesmente não falar.
Ela era lei, eu, um marginal,
Lua de seu solstício de inverno –
Começa o longo curso para o delta.
Tradução de Darcy Damasceno. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
From CANTICLE FOR ELETRONIC MUSIC
CANTO FIVE
I’m the mirrorism I entered
To enter these zones of pure color.
Solitude should not confuse with holiness.
The fat woman: her sex afloat in a sea
Of flesh, the midget swimming after it.
What when life darkness darker then death?
I record the several simultaneous
Seasons within her: a dry light
Broken over black water.
How I felt about things
Was clear to me, but not to words. Sounds
Preach in the desert to a congregation of insects.
There’s fire in the library inside where we
Catalogue the things we know: smoke, smoulder, scorch
Of only parts of pages. There is no other place.
To be isn’t to be.
There’s never been that question.
Fire, sheer fire, inside the earth.
Fission of light on moving water or
Turquoise silence among pendulous water trees:
To speak of nothing or not to speak at all.
She was law, I, outlaw,
Moon of her winter solstice –
The long drift to the delta begins.
From CANTICLE FOR ELETRONIC MUSIC (CANTO FIVE). In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
Do CÂNTICO PARA MÚSICA ELETRÔNICA
CANTO SEIS
A velocidade e o Platão de tempo e espaço.
Tudo mais é distância e dilação.
Certas prostituições são mais corajosas que outras.
Que música é para o magro carneiro
Pastando entre os altos picos violeta?
Há um buraco no fundo de nosso surrão de deuses.
A água do sonho tem sido quieta e clara.
Nenhuma superfície real em que afogar-se: todo o mundo
Olha o ginete da margem cavalgando pela margem.
Eu perderia o que nunca tive:
O peixe certo: o incerto fado. Sei
Onde estou por saber onde estive.
Ela vagava no íntimo de uma das silenciosas
Cordilheiras entre minhas palavras.
Ambos, salmão e peixe-roda estão dentro de mim.
O que não foi: gerei a mim mesmo nessa filha.
E aquele outro incesto: engendrei a mim mesmo
Também sobre o que tenha sido, talvez – aquela mãe.
Roubei as frias chaves de latão de todos os meus relógios.
Todo o calmo enluarado mar derrama-se quietamente
Por uma cratera sem fundo no centro.
O que sou é onde estou.
Uma busca de súbita torrente do mal.
Uma procura da mosca do sono.
Tradução de Darcy Damasceno. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
From CANTICLE FOR ELETRONIC MUSIC
CANTO SIX
Spread is the Plato of time and space.
All else is distance and delay.
Some prostitutions are bolder than others.
Which music is for the lean rams
Feeding among the high violet peaks?
There’s a hole in the bottom of our rag-bag of gods.
Dream water has been still and clear.
No real surface to drown in: all
Watch the rim-rider riding on the rim.
I would lose what I never had:
Certain fish: uncertain fate. I know
Where I am by where I have been.
She strayed into one of the silent
Mountain ranges between my words.
Both salmon and fish-wheel are within me.
What hasn’t been; I begot myself on that daughter.
And that other incest: I’ve sired myself
Also upon what, perhaps, was – that mother.
I’ve stolen the cold brass keys to all my clocks.
All the calm moonlit sea pours quietly
Down a bottomless crater at the center.
What I am is where I am.
A quest of sudden flooding evil.
A search for the tse-tse fly.
From CANTICLE FOR ELETRONIC MUSIC (CANTO SIX). In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
BALEIA
Quando a escuridão aparece apenas um pouco mais escura
Do que deveria, vai líquido, é apenas
A baleia erguendo-se. A besta maior não é
Inesperada; o momento da chegada é surpreendente.
Vai líquido. Escurece mais que a escuridão.
Quando, inesperadamente, a maior escuridão
Vai surgindo mais negra do que toda a escuridão deveria,
A massa de gelo se fende em vez de
Simplesmente derreter-se. Engole a água.
A baleia é menor que a água. Engole.
Tradução de Darcy Damasceno. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
WHALE
When the darkness apears just a little darker
Than it should, go liquid, it is only
The whale rising. The biggest beast is not
Unexpected; the instant of arrival is surprising .
Go liquid. Get darker than the dark.
When, unexpectedly, the largest darkness
Is rising darker than all darkness should,
The ice floe is breaking up instead
Of merely melting. Swallow the water.
The whale is smaller than water. Swallow.
WHALE. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
DUAS VEZES TRÊS LINHAS
Dentro do rio, pedras rolam
E descobrem seus escuros, molhados traseiros.
Debaixo delas, tudo morre de viagem e luz.
Olhe para cima.
Confira os gansos.
Siga no rumo oposto.
Tradução de Darcy Damasceno. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
THREE LINES TWICE
Inside the river, rocks roil over
And disclose their dark, well undrs.
Beneath them, everything dies of travel and light.
Look up.
Check the geese.
Go the other way.
THREE LINES TWICE. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.
DEPOIS
Depois do terremoto,
As ondas eram certas.
E certo deixar a cidade dupla
Morta ou profundamente mudada.
Dizemos sim a água
Veio sobre nós, embora
Estruturas, ruas, velhos
Gestos todos permaneçam.
Vivemos no perigo de nada agora
Na terra de infinito entardecer.
Tradução de Dalcin Lima, aos 21 de maio de 2016.
AFTER
After the earthquake,
The wave was certain.
And certain to leave the double city
Dead or deeply changed.
We say yes the water
Came over us, although
Structures, streets, the old
Gestures all remain.
We live in peril of nothing now
On earth of infinite afternoon.
AFTER. In: J. Michael Yates Official Site. Disponível em:< http://www.jmichaelyates.com/read.php?ct=1&id=41>. Acesso em: 21. Mai. 2016.
ACIDENTE DE CARRO
Com isto ela partiu:
Como arias de sirenes turbilhonando,
Como carmesim no ébano estampado.
No lá fora ele passeia,
Além da batida de lata
Da vívida máquina de carne.
Abaixo desta enorme obsidiana,
Ela desliza, suas rugas sibilando
Sobre as curvas da respiração.
Isto era uma montanha de veludo:
Fora dela, uma corneta zunindo...
Uma pálpebra dentro, agitando.
Tradução de Dalcin Lima, aos 21 de maio de 2016.
AUTOMOBILE ACCIDENT
Like this she should have gone:
Like arias of sirens whirling,
Like crimsons on ebony whirling.
In the out-there she walks,
Beyond the tin clashing
Machine-flash of the living.
Beneath this huge obsidion,
She flows, her folds swishing
Over the curves of breathing.
This was a velvet mountain:
Outside it, a horn droning ...
An eyelid within, fluttering.
AUTOMOBILE ACCIDENT. In: J. Michael Yates Official Site. Disponível em:< http://www.jmichaelyates.com/read.php?ct=1&id=41>. Acesso em: 21. Mai. 2016.
DEUSES, HOMENS E AFINS
A metáfora é um centauro
Parte uma coisa
Parte outra coisa
Coisa é coisa
E muitas outras coisas
Assim se fala
De como eu vivo
De como eu morro
Um homem e um cavalo
Tem sangue e respiração
Não há abril no Paraíso
Tradução de Dalcin Lima, aos 22 de maio de 2016.
GODS, MEN, AND ALSO
Metaphor is centaur
Part one thing
Part everything
Thing is thing
And many other things
This speaks
Of how I live
Of how I die
A man and a horse
Have blood and breath
There is no April in Heaven
GODS, MEN, AND ALSO. In: J. Michael Yates Official Site. Disponível em:< http://www.jmichaelyates.com/read.php?ct=1&id=41>. Acesso em: 21. Mai. 2016.
POEMA
Deve falar de coisas
Que corre ligeiro
Pelas sombras da consciência
Como animais pequenos na passagem
Você não pode exatamente
Estar certo do que você viu.
Tradução de Dalcin Lima, aos 22 de maio de 2016.
POEM
It must speak of things
Which go quickly
Through shadows of consciousness
Like small animals in the ticket
You cannot quite
Be sure you’ve seen.
POEM. In: J. Michael Yates Official Site. Disponível em:< http://www.jmichaelyates.com/read.php?ct=1&id=41>. Acesso em: 21. Mai. 2016.
0 comentários:
Postar um comentário