CARTA REVOLUCIONÁRIA #1
Acabo de perceber que o que está em jogo sou eu
Não tenho outra moeda de resgate, nada para
quebrar ou trocar, a não ser minha vida
meu espírito parcelado, em fragmentos, esparramado sobre
a mesa de roulette, eu recupero o que posso
só isso para enfiar embaixo do nariz do maitre de jeu
só isso para jogar pela janela, nenhuma bandeira branca
só tenho minha pele para oferecer, para fazer minha jogada
com esta cabeça imediata, com aquilo que inventa, é a minha vez
enquanto deslizamos sobre o tabuleiro, e sempre pisando
(assim esperamos) nas entrelinhas
Tradução de Miriam Adelman. In: Juntando Palavras. Disponivel: < http://conviteapalavra.blogspot.com.br/2011/05/um-poema-de-diane-di-prima.html>. Acesso em: 30. Mar. 2018.
REVOLUTIONARY LETTER #1
I have just realized that the stakes are myself
I have no other
ransom money, nothing to break or barter but my life
my spirit measured out, in bits, spread over
the roulette table, I recoup what I can
nothing else to shove under the nose of the maitre de jeu
nothing to thrust out the window, no white flag
this flesh all I have to offer, to make the play with
this immediate head, what it comes up with, my move
as we slither over this go board, stepping always
(we hope) between the lines.
Diane di Prima, Revolutionary Letter #1. In: Poem of the Day. Disponível em:< http://poemof-theday.blogspot.com.br/2010/04/revolutionary-letter-1-diane-di-prima.html>. Acesso em: 30.Mar. 2018.
“EU SOU UMA SOMBRA…”
Eu sou uma sobra cruzando gelo
Eu sou faca enferrujando na água
Eu sou pereira mordida pela geada
Eu sustento a montanha com minha mão
Meus pés estão cortados por vidro
Eu ando na floresta tempestuosa após anoitecer
Eu estou envolta em uma nuvem dourada
Eu assobio entre meus dentes
Eu perco meu chapéu
Meus olhos jogados às águias & minha mandíbula
presa por um fio de prata
Eu queimei muitas vezes e meus ossos são sopa
Eu sou estátua de pedra gigante num penhasco
Eu sou louca feito uma nevasca
Eu encaro por frestas de armários quebrados
Tradução de Mel Lima. In: Ímpeto & Tempestade. Disponível em:< http://impetotempestade.blogspot.com.br/2016/02/diane-di-prima-cinco-poemas-da-loba.html>. Acesso em: 30.Mar. 2018.
“I AM A SHADOW…”
I am a shadow crossing ice
I am rusting knife in the water
I am pear tree bitten by frost
I uphold the mountain with my hand
My feet are cut by glass
I walk in the windy forest after dark
I am wrapped in a gold cloud
I whistle thru my teeth
I lose my hat
My eyes are fed to eagles & my jaw
is locked with silver wire
I have burned often and my bones are soup
I am stone giant statue on a cliff
I am mad as a blizzard
I stare out of broken cupboards
Diane di Prima, I am a shadow. In: poempire. Disponível em:< https://poempire.wordpress.com/2012/01/31/diane-di-prima-five-poems-from-loba/ >. Acesso em: 30.Mar. 2018.
RÉQUIEM
eu acredito
que você não vai
achar o caixão
assim tão bom
Baby-O.
Eles te amarraram
tão apertado
eu ouço
aí é frio
e os vermes e as outras coisas
estão aí por motivos próprios
eu acredito
que você vai querer
virar de lado
seu cabelo
não deverá
ficar onde está
para sempre
e as suas mãos
não vão querer
ficar cruzadas
assim
eu acredito
que seus lábios
não gostarão disso
por eles mesmos.
Tradução de André Caramuru Aubert. In: Rascunho. Disponível em:< http://rascunho.com.br/diane-di-prima-2/>. Acesso em: 30. Mar. 2018.
REQUIEM
I think
you’ll find
a coffin
not so good
Baby-O.
They strap you in
pretty tight
I hear
it’s cold
and worms and things
are there for selfish reasons
I think
you’ll want
to turn
onto your side
your hair
won’t like
to stay in place
forever
and your hands
won’t like it
crossed
like that
I think
your lips
won’t like it
by themselves
Diane di Prima, Requiem. In: Rascunho. Disponível em:< http://rascunho.com.br/diane-di-prima-2/>. Acesso em: 30. Mar. 2018.
A JANELA
você é meu pão
e o fino
ruído
dos meus ossos
você é praticamente
o mar
você não é rocha
ou som derretido
eu penso
você não tem mãos
esse tipo de passarinho voa para trás
e este amor
se quebra numa vidraça
onde nenhuma luz fala
esta não é a hora
de cruzar as línguas
(a areia aqui
nunca muda)
eu penso
amanhã
se virou para você com seu casco
e você irá
brilhar
e brilhar
escondido e sem ser consumido
Tradução de André Caramuru Aubert. In: Rascunho. Disponível em:< http://rascunho.com.br/diane-di-prima-2/>. Acesso em: 30. Mar. 2018.
THE WINDOW
you are my bread
and the hairline
noise
of my bones
you are almost
the sea
you are not stone
or molten sound
I think
you have no hands
this kind of bird flies backward
and this love
breaks on a windowpane
where no light talks
this is not time
for crossing tongues
(the sand here
never shifts)
I think
tomorrow
turned you with his toe
and you will
shine
and shine
unspent and underground
Diane di Prima, The Window. In: Rascunho. Disponível em:< http://rascunho.com.br/diane-di-prima-2/>. Acesso em: 30. Mar. 2018.
FRAGMENTOS DE UM DISCURSO AO FBI
Ai vocês de borsalino ou impermeável dão testemunho
Dos dias fugidios, data & horário?
As viagens de metrô para amantes esquecidos
(Vocês em verdade os têm para sempre, identidade & 3x4?)
Os velhos números de telefone, cujo ritmo não mais
Canta por nós, descrições de carros há muito mortos?
Ai cronistas ternos de nossas vidas irisadas
Obreiros benditos no arquivo labiríntico
Querubins gravadores que relegarão ao fogo
Identidade & formulário, papéis e corpo enquanto nós
Ascendemos em cânticos acima das árvores
Tradução de Ricardo Domeneck. In: Revista Modo de Usar. Disponível: . Acesso em: 30. Mar. 2018.
FRAGMENTED ADDRESS TO THE FBI
O do you in fedora or trenchcoat bear record
Of the elusive days, date & hour
The subway journeys to forgotten loves
(Do you indeed have them forever, name & picture)
The old phone numbers, whose rhythm no longer
Sings for us, descriptions of long dead cars?
O gentle chroniclers of our rainbow lives
Blessed laborers in the labyrinthine archive
Recording angels who will consign to fire
Name & form, body & papers while we
Rise singing above the trees.
Diane di Prima, Fragmented Address to the FBI. In: Revista Modo de Usar. Disponível: . Acesso em: 30. Mar. 2018.
UM EXERCÍCIO DE AMOR
para Jackson Allen
Meu amigo tem meu xale preso a sua cintura
Eu dou a ele pedras da lua
Ele me dá conchas & algas
Ele vem de uma cidade distante & eu o encontro
Nós juntos plantaremos berinjelas e aipo
Ele agita minha roupa
Muitos trouxeram os presentes
Que eu uso para o seu prazer
seda, & colinas verdes
& garças da cor da manhã
Meu amigo caminha macio como uma trama do vento
Ele ilumina os meus sonhos
Ele construiu altares ao lado da minha cama
Eu acordo como o aroma de seu cabelo & não consigo lembrar
o seu nome, ou o meu.
Tradução de André Caramuru Aubert. In: Rascunho. Disponível em:< http://rascunho.com.br/diane-di-prima-2/>. Acesso em: 30. Mar. 2018.
AN EXERCISE IN LOVE
for Jackson Allen
My friend wears my scarf at his waist
I give him moonstones
He gives me shell & seaweeds
He comes from a distant city & I meet him
We will plant eggplants & celery together
He waves my cloth
Many have brought the gifts
I use for his pleasure
silk, & green hills
& heron the color of dawn
My friend walks soft as a weaving on the wind
He backlights my dreams
He has built altars beside my bed
I awake in the smell of his hair & cannot remember
his name, or my own.
Diane di Prima. An Exercise in Love. In: Rascunho. Disponível em:< http://rascunho.com.br/diane-di-prima-2/>. Acesso em: 30. Mar. 2018.
CRONOLOGIA
eu te amei em outubro
quando você se ocultou atrás de seu cabelo
e conduziu sua sombra
pelos cantos da casa
e em novembro você invadiu
preenchendo o ar
acima da minha cama com sonhos
gritos por algum socorro
lá no fundo em meu ouvido
em dezembro eu segurei suas mãos
numa tarde; a luz falhou
e voltou num amanhecer na costa da Escócia
você cantando para a terra e para nós
agora é janeiro, você se dissolve
em seu duplo
joias em seu colar, a sua sombra na neve,
você desliza para longe no vento, o ar cristalino
carrega suas novas canções em soluços através das janelas
de nossos tristes, altos, lindos quartos
Tradução de André Caramuru Aubert. In: Rascunho. Disponível em:< http://rascunho.com.br/diane-di-prima-2/>. Acesso em: 30. Mar. 2018.
CHRONOLOGY
I loved you in October
when you hid behind your hair
and rode your shadow
in the corners of the house
and in November you invaded
filling the air
above my bed with dreams
cries for some kind of help
on my inner ear
in December I held your hands
one afternoon; the light failed
it came back on
in a dawn on a Scottish coast
you singing us ashore
now it is January, you are fading
into your double
jewels on his cape, your shadow on the snow,
you slide away on wind, the crystal air
carries your new songs in snatches thru the windows
of our sad, high, pretty rooms.
Diane di Prima, Chronology. In: Rascunho. Disponível em:< http://rascunho.com.br/diane-di-prima-2/>. Acesso em: 30. Mar. 2018.
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