Muito esticado, percorre
Muito deste chão para estar quieto
Ou fazer algo mais do que vibrar
E desaparecer à esquerda ou à direita
Até onde os olhos enxergam
Subindo morros, entrando em matas,
Descendo estradas, para chegar enfim
Outra vez onde se ata,
De volta do outro lado,
De animais, que definem sua condição terrena
Ao mudar-se a relva em neve
Enquanto imóveis se postam e sonham
Com relva e neve.
O falcão hibernal pousado em seu mourão,
Sentindo a corrente sutil dos arames,
Torna-se um tordo, vê que está errado,
A seguir um menino, e um homem que apóia
A palma no fio mais alto e de muita tensão
Com a fazenda toda convergindo lenta
E nervosamente na sua mão.
Cortado o arame em qualquer lugar
Todo o sangue dele se derramaria
Deixando-o postado e pasmado
Com a face branca de uma faca Hereford.
Desde anos de circundar trigo,
Gado, cavalos, máquinas que tentam tornar-se
Ferrugem, a cada segundo chega o zumbido,
Um som que organiza estes alqueires
E os mantém tensos e encantados.
Por causa da leve mão gelada
Sobre o fio mais alto afinado em Mi
Como a corda baixa de um violão
O cereal morto é mais
Equilibrado na morte que antes,
Os animais são mais conscientes
Dentro do amplo amplexo humano
Sustentado e estendido até sumir
Pelas estacas baixas e inquebráveis
Por onde a terra governada
Parece salmodiar: corretamente,
Com os olhos fechados,
Quer ao lado dos animais
Ou não, quer desaparecendo
À direita, à esquerda, por arvoredo ou descendo estradas,
Quer lá fora, ao redor, ou dentro.
Tradução de Paulo Vizioli. In: Quincumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Ed. Bilíngue, antologia organizada por Kerry Shawn Keys, 1980, Ed. Escrita
FENCE WIRE
Too tight, it is running over
Too much of this ground to be still
Or to do anything but tremble
And disappear left and right
As far as the eye can see
Over hills, through woods,
Down roads, to arrive at last
Again where it connects,
Coming back from the other side
Of animals, defining their earthly estate
As the grass become snow
While they are standing and dreaming
Of grass and snow.
The winter hawk that sits upon its post,
Feeling the air current of the wires.
Turns into a robin, sees that this is wrong,
Then into a boy, and into a man who holds
His palm on the top tense strand
With the whole farm feeding slowly
And nervously into his hand.
If the wire were cut anywhere
All his blood would fall to the ground
And leave him standing and staring
With a face as white as a Hereford’s
From years of surrounding again,
Cows, horses, machinery trying to turn
To rust, the humming arrives each second,
A sound that arranges these acres
And holds them highstrung and enthralled.
Because of the ligh, chilled hand
On the top thread tuned to na E
Like the low string of a guitar
The dead corn is more
Balanced in death than it was,
The animals more aware
Within the huge human embrace
Held up and borne out of sight
Upon short, unbreakable poles
Wherethrough the ruled land intones
Like a psalm: properly,
With its eyes closed,
Whether on the side of the animals
Or not, whether disappearing
Right, left, through trees or down roads,
Whether outside, around, or in.
James Dickey, Fence Wire. In: The New Yorker. Disponível em: < https://www.newyorker.com/magazine/1962/02/24/fence-wire>. Acesso em: 29. Mar. 2018.
O CÉU DOS ANIMAIS
Cá estão. Suaves olhos abertos.
Se viveram num bosque
São o bosque.
Se nos prados viveram
São a grama girando
Sob seus pés para sempre.
Não tendo alma chegaram,
Mesmo assim, sem perguntas.
Seus instintos brotam plenos
E eles crescem.
Suaves olhos abertos
Para igualá-los, viceja a paisagem,
Excede-se ansiosa
Além do que é pedido:
A selva mais rica,
O campo mais fértil.
Para alguns deles,
Não seria o lugar
Se não houvesse o sangue.
A caça, como convém,
Mas com garras e dentes aperfeiçoados,
Mais mortais do que acreditam ser.
Aproximam-se, furtivos.
Saltam dos braços das árvores,
E seu assalto
Sobre o dorso brilhante das presas
Pode levar anos
Num régio e alegre arremate.
Os que são caçados
Sabem-no como a própria vida
E recompensa: caminhar
Sob as árvores, é estar consciente
Do que acima é beatitude.
E não sentir pavor
Porém acordo, complacência,
Chegando à plenitude sem sofrer
No meio da jornada,
Tremem, perambulam
Sob a árvore, e
Tombam, e são massacrados.
Mas erguem-se, caminham de novo.
Tradução Jane Arduíno Pertcarati e Mário Livramento. In: Quincumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Ed. Bilíngue, antologia organizada por Kerry Shawn Keys, 1980, Ed. Escrita
THE HEAVEN OF ANIMALS
Here they are. The soft eyes open.
If they have lived in a wood
It is a wood.
If they have lived on plains
It is grass rolling
Under their feet forever.
Having no souls, they have come,
Anyway, beyond their knowing.
Their instincts wholly bloom
And they rise.
The soft eyes open.
To match them, the landscape flowers,
Outdoing, desperately
Outdoing what is required:
The richest wood,
The deepest field.
For some of these,
It could not be the place
It is, without blood.
These hunt, as they have done,
But with claws and teeth grown perfect,
More deadly than they can believe.
They stalk more silently,
And crouch on the limbs of trees,
And their descent
Upon the bright backs of their prey
May take years
In a sovereign floating of joy.
And those that are hunted
Know this as their life,
Their reward: to walk
Under such trees in full knowledge
Of what is in glory above them,
And to feel no fear,
But acceptance, compliance.
Fulfilling themselves without pain
At the cycle’s center,
They tremble, they walk
Under the tree,
They fall, they are torn,
They rise, they walk again.
James Dickey, “The Heaven of Animals” in: Poetry Foundation. Disponível em:< https://www.poetryfoundation.org/poems/42711/the-heaven-of-animals>. Acesso: 29. Mar. 2018.
ESCUTANDO OS CÃES DE CAÇA
Quando, no ouro das chamas,
Recolhido em silêncio,
Entre aqueles que são irmãos dos cães de caça
O primeiro tom, o primeiro som Você ouve,
De um cão em sua pista, de rosto a rosto Você espreita
Aquele que se ilumina.
Quando a luz de desvela,
No interior do círculo escuro de fogo,
Você sabe que o homem eleito escutou
Algo como o que lhe é mais caro
Exprimir-se num voz maravilhosa e sem remédio,
Que há muito tempo lutava por escutar.
À muitas milhas de distância, no escuro,
O seu cão encantado pode sentir
Como brilham os seus traços, como os de um salvador.
E começa a caçar,
Numa agonia de orgulho desesperado.
Entre nós, nenhum coração se acende
Pela raposa vermelha,
Saindo da pista e a ela regressando
Pulando pedras, saltando sobre a água.
Aquele que corre com a raposa
Deve permanecer como a sua própria imagem,
Nada revelando de si mesmo
Às chamas sensíveis,
Não deixando transparecer alegria humana,
Em sua face, para ser vista.
E é duro
Quando a raposa entre em seu abrigo,
Manter em surdina o coração,
Permanecer com o fogo
Escondido em nossos traços secretos,
E todos os olhos regressando
Da floresta escura,
Até que chegam, surpresos,
A uma face que não brilha,
De dentro de si mesma,
Que prende a sua própria luz, e absorve mais,
Como a face dos mortos, quietamente sentado,
Não dando sinal,
Nada revelando, quem quer
Que esteja lutando para escutar.
Tradução de Henrique Mesquita. In: Quincumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Ed. Bilíngue, antologia organizada por Kerry Shawn Keys, 1980, Ed. Escrita
LISTENING TO FOXHOUNDS
When in that gold
Of fires, quietly sitting
With the men whose brothers are hounds,
You hear the first tone
Of a dog on scent, you look from face
To face, to see whose will light up.
When that light comes
Inside the dark light of the fire,
You know which chosen man has heard
A thing like his own dead
Speak out in a marvelous, helpless voice
That he has been straining to hear.
Miles away in the dark,
His enchanted dog can sense
How his features glow like a savior’s,
And begins to hunt
In a frenzy of desperate pride.
Among us, no one’s eyes give off a light
For the red fox
Playing in and out of his scent,
Leaping stones, doubling back over water.
Who runs with the fox
Must sit here like his own image,
Giving nothing of himself
To the sensitive flames,
With no human joy rising up,
Coming out of his face to be seen.
And it is hard,
When the fox leaps into his burrow,
To keep that singing down,
To sit with the fire
Drawn into one’s secret features,
And all eyes turning around
From the dark wood
Until they come, amazed, upon
A face that does not shine
Back from itself,
That holds its own light and takes more,
Like the face of the dead, sitting still,
Giving no sign,
Making no outcry, no matter
Who may be straining to hear.
James Dickey, Listening to Foxhounds. In: The New Yorker. Disponível em: < https://www.newyorker.com/magazine/1960/11/26/listening-to-foxhounds>. Acesso em: 29. Mar. 2018.
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