ads slot

Últimas Postagens:

O SÁBIO: QUATORZE POEMAS DE DENISE LEVERTOV


ALÉM DO FIM

Não há escolha na “natureza” ─
flores
pendem as cabeças ao vento, sol & lua
são o que são. Mas parecemos
quase ter isso (não apenas
a morte acessível)

É energia: o fio da aranha: não
“continuar vivendo” mas acelerar, ativar: expandir:
Alguns a tem, forçam-na ─
Com trabalho, riso ou mesmo
o ato e comprar, se isso é
tudo que eles podem lançar mão –

garotas lotando lojas onde há
luz, cor, sonhos sólidos ─ que desejo
cinza! É o festival delas,
jogo do anel, festim, mistério.

Não há graça como aquela
da grama, ritmos modestos, a
queda & ascensão de folha e estrela;
é apenas
uma constante. feito sal:
pegue-o ou deixei-o

Os “rachadores de lenha” etc; todo artesão
condenado tem-na enquanto trabalha
mas não é
uma questão de trabalho; em repouso,
alguns brilham com ela. (talvez seja
resposta, o desejo de responder ─ ‘a razão
não pode dar absolutamente nada/como
resposta ao desejo’) talvez
um ranger de dentes, ir apenas
muito mais que adiante, além do fim,
além de tudo que finda: para começar, ser desafiar.

Traduzido por Dalcin Lima em 01 de agosto de 2015.


BEYOND THE END

In 'nature' there's no choice --
flowers
swing their heads in the wind, sun & moon
are as they are. But we seem
almost to have it (not just
available death)

It's energy: a spider's thread: not to
'go on living' but to quicken, to activate: extend:
Some have it, they force it --
with work or laughter or even
the act of buying, if that's
all they can lay hands on--

the girls crowding the stores, where light,
color, solid dreams are - what gay
desire! It's their festival,
ring game, wassail, mystery.
It has no grace like that of
the grass, the humble rhythms, the
falling & rising of leaf and star;
it's barely
a constant. Like salt:
take it or leave it

The 'hewers of wood' & so on; every damn
craftsman has it while he's working
but it's not
a question of work: some
shine with it, in repose. Maybe it is
response, the will to respond--('reason
can give nothing at all/like
response to desire') maybe
a gritting of teeth, to go
just that much further, beyond the end
beyond whatever ends: to begin, to be, to defy.

BEYOND THE END. In: Poem of the Week. Disponível em: < http://thepoemoftheweek.blogspot.com.br/2012/01/poem-of-week-182011-beyond-end.html>. Acesso em: 01. Ago. 2015.


LOUCA CANÇÃO

Minha loucura é-me cara.
Eu que quase sempre fui a mais são entre meus amigos;
aquela para quem os outros vinham a busca de conforto,
agora no meu seio (que parecia tímido e ignorante,
que não parecia como se leite tivesse
fluído dele anos atrás)
acalento uma víbora.
Salve, pequena serpente de ânsia infrutífera
que me pode destruir,
que me pica com semelhantes
dentes de agulha inútil.
Eu que sou amada por aqueles que me amam
pela honestidade,
para quem a vida era um sopro sincero
tomado em boa fé,
esqueci como falar de prazer por causa da amargura.

É-me cara, é-me cara,
veneno azul, dor verde nas veias da mente.
Como posso eu se curada contra minha vontade?

Traduzido por Dalcin Lima em 01 de agosto de 2015.


MAD SONG

My madness is dear to me.
I who was almost always the sanest among my friends,
one to whom others came for comfort,
now at my breasts (that look timid and ignorant,
that don’t look as if milk had flowed from them,
years gone by)
cherish a viper.
Hail, little serpent of useless longing
that may destroy me,
that bites me with such idle
needle teeth.
I who am loved by those who love me
for honesty,
to whom life was an honest breath
taken in good faith,
I’ve forgotten how to tell joy from bitterness.

Dear to me, dear to me,
blue poison, green pain in the mind’s veins.
How am I to be cured against my will?

MAD SONG. In: Way. Disponível em:< http://carolpeters2013.blogspot.com.br/2015/03/denise-levertov_8.html >. Acesso: 01. Ago. 2015.

VIVENDO

A chama em folha e grama
tão verde parece
cada verão o último verão.

O vento soprando, as folhas
estremecendo ao sol,
cada dia o último dia.

Uma salamandra vermelha
tão fria e tão
fácil de pegar, distraidamente

move suas patinhas delicadas
e sua cauda comprida. Deixei
a mão aberta para ela partir.

Cada minuto o último minuto.

Tradução de Wagner Miranda. In: Blog Brincando de Deus. Disponível em:< https://brincandodedeus.wordpress.com/tag/poemas-de-denise-levertov/>. Acesso em: 01. Ago. 2015.
 

LIVING

The fire in leaf and grass
so green it seems
each summer the last summer.

The wind blowing, the leaves
shivering in the sun,
each day the last day.

A red salamander
so cold and so
easy to catch, dreamily

moves his delicate feet
and long tail. I hold
my hand open for him to go.

Each minute the last minute.

LIVING. In: Poem Hunter. Disponível em: . Acesso em: 01. Ago. 2015.

O TEMPO

Os velhos degraus de madeira da porta da frente
onde eu estava sentada naquela manhã de outono
quando você veio descendo as escadas, acabando de acordar,
e minha alegria em contemplá-lo (emergindo
num dia dourado —
o orvalho ainda congelado)
puxando-me pelos meus pés para te dizer
o quanto eu te amava:

aqueles degraus de madeira
se foram agora, apodrecidos
trocados por granito,
duros, cinzentos e elegantes.
Os velhos degraus vivem
somente em mim:
meus pés e minhas coxas
se lembram deles, e minhas mãos
ainda sentem suas lascas.

Tudo o mais sobre e em torno daquela casa
traz lembranças dos outros — do casamento
de meu filho. E os degraus provocam a mesma coisa: eu me lembro
de me sentar ali com minha amiga e seu filhinho que morreu,
ou será que foi o segundo, que vive e está bem?
E me sentar ali ‘na minha vida’, frequentemente sozinha ou com

[meu marido.
Ainda assim naquele instante,
seu alegre, destemido, juvenil, ‘eu também te amo,’
a calma sem ser quebrada por nenhum passarinho, nenhum grilo,

[folhas douradas
caindo, girando, em silêncio sem
qualquer brisa que as levassem
são o que ata
minha cabeça e meu corpo àquelas tábuas de madeira
que um dia foram cálidas, veneráveis, e agora
esperam, em um lugar qualquer, para ser queimadas.

Tradução de André Caramuru Aubert. In: Rascunho, o jornal da literatura do Brasil. Disponível em:< http://rascunho.com.br/denise-levertov-2/>. Acesso em: 02. Ago. 2015.

 
A TIME PAST

The old wooden steps to the front door
where I was sitting that fall morning
when you came downstairs, just awake,
and my joy at sight of you (emerging
into golden day —
the dew almost frost)
pulled me to my feet to tell you
how much I loved you:
those wooden steps
are gone now, decayed
replaced with granite,
hard, gray, and handsome.
The old steps live
only in me:
my feet and thighs
remember them, and my hands
still feel their splinters.

Everything else about and around that house
brings memories of others — of marriage
of my son. And the steps do too: I recall
sitting there with my friend and her little son who died,
or was it the second one who lives and thrives?
And sitting there ‘in my life,’ often, alone or with my husband.
Yet that one instant,
your cheerful, unafraid, youthful, ‘I love you too,’
the quiet broken by no bird, no cricket, gold leaves
spinning in silence down without
any breeze to blow them,
is what twines itself
in my head and body across those slabs of wood
that were warm, ancient, and now
wait somewhere to be burnt.

A TIME PAST. In: Rascunho, o jornal da literatura do Brasil. Disponível em:< http://rascunho.gazetadopovo.com.br/denise-levertov-2/>. Acesso em: 02. Ago. 2015.

AH PROVEM E VEJAM

O mundo não está
conosco o bastante
Ah Provem e vejam
dizia o cartaz bíblico no metrô,
implicando o Senhor, implicando
cada coisa no tudo que vive
para a o sabor da imaginação,
mágoa, mercê, tangerina, temperatura,
respirá-las, morder,
saber, mascar, engolir, transformar
em nossa carne nossas
mortes, atravessar a rua, ameixa, marmelo
vivendo no pomar e tendo
fome, e colhendo
a fruta.

Tradução de Ruy Vasconcelos. In: REVISTA ZUNÁI. Disponível em:< http://www.revistazunai.com/traducoes/denise_levertov.htm>. Acesso em: 02. Ago. 2015.

O TASTE AND SEE

The world is
not with us enough
O taste and see
the subway Bible poster said,
meaning The Lord, meaning
if anything all that lives
to the imagination's tongue,
grief, mercy, language,
tangerine, weather, to
breathe them, bite,
savor, chew, swallow, transform
into our flesh our
deaths, crossing the street, plum, quince,
living in the orchard and being
hungry, and plucking
the fruit.

O TASTE AND SEE. In: REVISTA ZUNÁI. Disponível em:. Acesso em: 02. Ago. 2015.


AO LEITOR

Enquanto você lê, um urso branco tranquilamente
faz xixi, tingindo de açafrão
a neve

e enquanto você lê, os deuses
repousam entre as trepadeiras: olhos de obsidiana
observam a reprodução das folhas,

e enquanto você lê
o mar está virando as suas páginas negras
virando
as suas páginas negras.

Tradução de André Caramuru Aubert. In: Rascunho, o jornal da literatura do Brasil. Disponível em:< http://rascunho.com.br/denise-levertov-2/>. Acesso em: 02. Ago. 2015.

TO THE READER

As you read, a white bear leisurely
pees, dyeing the snow
saffron

and as you read, many gods
lie among lianas: eyes of obsidian
are watching the generations of leaves,

and as you read
the sea is turning its dark pages,
turning
its dark pages.

TO THE READER. In: Rascunho, o jornal da literatura do Brasil. Disponível em:. Acesso em: 02. Ago. 2015.

ANCESTRAIS ILUSTRES

O Rabi
do Norte da Rússia Branca declinou,
na sua juventude, de aprender a
língua dos pássaros, porque
o estranho não lhe interessava; entretanto
quando envelheceu, descobriu-se
que ele os entendia de qualquer modo, tendo
ouvido bem, e como se dizia, "rezado
com o banco e o chão". Ele usava
o que estava à mão-como o fez
Angel Jones de Mold, cujas meditações
eram cosidas a casacos e calções.

Bem, eu gostaria de fazer,
pensando numa linha ainda tesa entre mim e eles,
poemas diretos como o que os pássaros diziam,
duros como chão, sonoros como bancos,
misteriosos como o silêncio quando o alfaiate
estaca com sua agulha no ar.

Tradução de Ruy Vasconcelos. In: REVISTA ZUNÁI. Disponível em:< http://www.revistazunai.com/traducoes/denise_levertov.htm>. Acesso em: 02. Ago. 2015.

ILLUSTRIOUS ANCESTORS

The Rav
of Northern White Russia declined,
in his youth, to learn the
language of birds, because
the extraneous did not interest him; nevertheless
when he grew old it was found
he understood them anyway, having
listened well, and as it is said, "prayed
with the bench and the floor." He used
what was at hand-as did
Angel Jones of Mold, whose meditations
Were sewn into coats and britches.

Well, I would like to make,
thinking some line still taut between me and them,
poems direct as what the birds said,
hard as floor, sound as a bench,
mysterious as the silence when the tailor
would pause his needle in the air.

ILLUSTRIOUS ANCESTORS. In: In: REVISTA ZUNÁI. Disponível em:< http://www.revistazunai.com/traducoes/denise_levertov.htm>. Acesso em: 02. Ago. 2015.

O SÁBIO

O gato está comendo as rosas:
ele é assim.
Não o faça parar, não o faça
o mundo girando,
é assim que as coisas são.
O três de maio
foi encoberto; o quatro de maio
ninguém sabe. Espalhe
o miolo da rosa, espalhe os pedaços
lá fora na chuva.
Ele nunca come
todos os fragmentos, diz
que os corações são amargos.
Este é o jeito dele, ele conhece
o universo e o clima.

Tradução de André Caramuru Aubert. In: Rascunho, o jornal da literatura do Brasil. Disponível em:. Acesso em: 02. Ago. 2015.


THE SAGE

The cat is eating the roses:
that’s the way he is.
Don’t stop him, don’t stop
the world going round,
that’s the way things are.
The third of May
was misty; fourth of May
who knows. Sweep
the rose-meat up, throw the bits
out in the rain.
He never eats
every crumb, says
the hearts are bitter.
That’s the way he is, he knows
the world and the weather.

THE SAGE. In: Rascunho, o jornal da literatura do Brasil. Disponível em:. Acesso em: 02. Ago. 2015.

FALANDO À MÁGOA

Ah, Mágoa, não te devo tratar
como um cão sem dono
que vem à porta dos fundos
para uma migalha, para um osso descarnado.
Tenho que te dar crédito.

Devo adular tua entrada
e te oferecer
teu próprio canto,
um capacho gasto pra jazer,
teu depósito de água.

Tu pensas que não sei que tens vivido
sob minha soleira.
Tanto esperaste por teu lugar redisposto
antes do inverno chegar. Precisas
do teu nome,
coleira, crachá. Precisas do direito
de advertir intrusos,
de considerar
tua a minha casa
e a mim tua dona
e tu minha
cadela.

Tradução de Ruy Vasconcelos. In: REVISTA ZUNÁI. Disponível em:. Acesso em: 02. Ago. 2015.

TALKING TO GRIEF

Ah, Grief, I should not treat you
like a homeless dog
who comes to the back door
for a crust, for a meatless bone.
I should trust you.

I should coax you
into the house and give you
your own corner,
a worn mat to lie on,
your own water dish.

You think I don't know you've been living
under my porch.
You long for your real place to be readied
before winter comes. You need
your name,
your collar and tag. You need
the right to warn off intruders,
to consider
my house your own
and me your person
and yourself
my own dog.

ILLUSTRIOUS ANCESTORS. In: In: REVISTA ZUNÁI. Disponível em:< http://www.revistazunai.com/traducoes/denise_levertov.htm>. Acesso em: 02. Ago. 2015.


HOMEM SÓ

Um mundo aberto
junto à borda da montanha:
árvores na planície, elevando
suas cabeças, leves pinceladas
de vegetação rasteira, esticando-se para respirar
o resto de luz.
Quando um homem
montado num cavalo, levanta poeira
sob os eucaliptos, um longo caminho, a poeira
é cinza-dourada, uma nuvem
de pólen. No campo
os girassóis púrpura se viram,
viram, todas as suas inúmeras faces
de flores bem abertas, para o oeste, para a luz.

É a sua solidão
sua energia
desfazendo-se na serenidade
que dá às sombras uma moldura —
a grande extensão da sombra da montanha,
sombras de formigas e folhas,
as pedras da estrada cada uma com sua sombra
e você com sua longa sombra
fechando o seu livro e se levantando
para se esticar, as sombras de seus braços
esticando-se atrás de você, desfazendo-se.

Tradução de André Caramuru Aubert. In: Rascunho, o jornal da literatura do Brasil. Disponível em:< http://rascunho.com.br/denise-levertov-2/>. Acesso em: 02. Ago. 2015.

LONELY MAN

An open world
within its mountain rim:
trees on the plain lifting
their heads, fine strokes
of grass stretching themselves to breathe
the last of the light.
When a man
riding horseback raises dust
under the eucalyptus trees, a long way off, the dust
is gray-gold, a cloud
of pollen. A field
of cosmea turns
all its many faces
of wide-open flowers west, to the light.

It is your loneliness
your energy
baffled in the stillness
gives an edge to the shadows —
the great sweep of mountain shadow,
shadows of ants and leaves,
the stones of the road each with its shadow
and you with your long shadow
closing your book and standing up
to stretch, your shadow-arms
stretching back of you, baffled.

LONELY MAN. In: Rascunho, o jornal da literatura do Brasil. Disponível em:< http://rascunho.gazetadopovo.com.br/denise-levertov-2/>. Acesso em: 02. Ago. 2015.

A QUEIXA DE ADÃO

Alguns,
não importa o que lhes é dado,
ainda querem a lua.
O pão, o sal,
carne branca ou vermelha,
ainda dão fome.
O leito nupcial
E o berço
ainda cruzam braços.
Recebem terras,
seu próprio chão sob os pés,
e ainda tomam estradas.
E água: escava-se poço mais fundo,
não é fundo bastante
para beber a lua.

Tradução de Ruy Vasconcelos. In: REVISTA ZUNÁI. Disponível em:< http://www.revistazunai.com/traducoes/denise_levertov.htm>. Acesso em: 02. Ago. 2015.


ADAM'S COMPLAINT

Some people,
no matter what you give them,
still want the moon.

The bread, the salt,
white meat and dark,
still hungry.

The marriage bed
and the cradle,
still empty arms.

You give them land,
their own earth under their feet,
still they take to the roads.

And water: dig them the deepest well,
still it's not deep enough
to drink the moon from.

ADAM'S COMPLAINT. In: In: REVISTA ZUNÁI. Disponível em:. Acesso em: 02. Ago. 2015.


A DOR DO CASAMENTO
 
fêmur e língua, amor,
pesam com ela,
ela lateja nos dentes

Buscamos comunhão
e somos desviados, amor,
para cada e cada

É o leviatã e nós
em seu ventre
atrás de prazer, algum prazer
que não possa ser fruido lá fora

dois a dois na arca
na dor.

Tradução de Ruy Vasconcelos. In: REVISTA ZUNÁI. Disponível em:< http://www.revistazunai.com/traducoes/denise_levertov.htm>. Acesso em: 02. Ago. 2015.


THE ACHE OF MARRIAGE

thigh and tongue, beloved,
are heavy with it,
it throbs in the teeth

We look for communion
and are turned away, beloved,
each and each

It is leviathan and we
in its belly
looking for joy, some joy
not to be known outside it

two by two in the ark of
the ache of it.

THE ACHE OF MARRIAGE. In: In: REVISTA ZUNÁI. Disponível em:. Acesso em: 02. Ago. 2015.

OS MUDOS

Esses suspiros que os homens
soltam quando passam por uma mulher na rua
ou nas escadas do metrô

a fim de lhe dizer que é uma fêmea
pois assim sentem suas carnes,

são talvez espécie de som,
canção muito feia, feia mesmo, sussurrada
por um pássaro de língua serrada
mas feita para música?

Ou são grunhidos
de surdos-mudos encurralados numa sala que
aos poucos se enche de fumaça?

Talvez as duas coisas.

Tais homens parecem que
só sabem soltar tais sussurros,
no entanto uma mulher, apesar de si mesma,

sabe que lhes chama atenção:
se ela não tivesse graça
passariam por ela em silêncio:

logo, não é só porque ela seja
um buraco quente. É uma palavra

em língua sofrida, longe de ser
primitiva nem primária;
língua prenhe, doentia, senilizada,

em decrepitude. Ela deseja
desfazer-se do sussurro, repug-
nada, mas não consegue,

o sussurro prossegue zurrando em seus ouvidos,
muda o ritmo de seus passos,
os cartazes rasgados em corredores que ecoam,

verbalizam-no, ele
se estremece e range à chegada do trem.
O pulso dela sombriamente

acelerava-se, mas os vagões
param estridentes
enquanto sua compreensão

prossegue transladando
“Vida após vida após vida prossegue

sem poesia,
sem decência,
sem amor”.

Tradução de Ary Gonzalez Galvão. In: o fingidor. Disponível em:< http://ofingidor2008.blogspot.com.br/2010/02/poesia-em-traducao_13.html>. Acesso em: 02. Ago. 2015.


THE MUTES

Those groans men use
passing a woman on the street
or on the steps of the subway

to tell her she is a female
and their flesh knows it,

are they a sort of tune,
an ugly enough song, sung
by a bird with a slit tongue

but meant for music?

Or are they the muffled roaring
of deafmutes trapped in a building that is
slowly filling with smoke?

Perhaps both.

Such men most often
look as if groan were all they could do,
yet a woman, in spite of herself,

knows it’s a tribute:
if she were lacking all grace
they’d pass her in silence:

so it’s not only to say she’s
a warm hole. It’s a word

in grief-language, nothing to do with
primitive, not an ur-language;
language stricken, sickened, cast down

in decrepitude. She wants to
throw the tribute away, dis-
gusted, and can’t,

it goes on buzzing in her ear,
it changes the pace of her walk,
the torn posters in echoing corridors

spell it out, it
quakes and gnashes as the train comes in.
Her pulse sullenly

had picked up speed,
but the cars slow down and
jar to a stop while her understanding

keeps on translating:
‘Life after life after life goes by

without poetry,
without seemliness,
without love.'

THE MUTES. In: Academy of American Poets. Disponível em:< https://www.poets.org/poetsorg/poem/mutes>. Acesso em: 02. Ago. 2015.


A CHUVA
 
Tentando lembrar velhos sonhos. Uma voz. Que veio.
E, no entanto, a chuva o dia todo, toda a noite,
som impassível e calmo. Antes que ficasse bastante escuro
olhei o lírio azul inclinando sob a chuva,
a chama de papoulas gotejadas e apagando-se.
Uma voz. Quase um novo chamado. Houve momentos
em que deuses entraram. Entraram num quarto, numa toca?
Um grande recinto em que eu estava, a quarta parede dele
muito distante ou muito escura para vê-la. Os pássaros estavam mudos,
não havia mariposas nas janelas iluminadas. Apenas um roseiral oscilante
atravessava no reflexo da mesa, gotas fitando dalí.
Havia mãos pousadas sobre meus ombros.
O que foi dito a mim,
Como respondeu minha vida?
A chuva, a chuva...

Tradução de original inglês por Dalcin Lima, aos 02 de agosto de 2015, baseado na versão espanhola de Sandra Toro. In: DENISE LEVERTOV en castellano. Disponível em:< http://deniselevertov.blogspot.com.br/2011/06/la-lluvia.html>. Acesso em: 02. Ago. 2015.

THE RAIN

Trying to remember old dreams. A voice. Who came in.
And meanwhile the rain, all day, all evening,
quiet steady sound. Before it grew too dark
I watched the blue iris leaning under the rain,
the flame of the poppies guttered and went out.
A voice. Almost recalled. There have been times
the gods entered. Entered a room, a cave?
A long enclosure where I was, the fourth wall of it
too distant or too dark to see. The birds are silent,
no moths at the lit windows. Only a swaying rosebush
pierces the table’s reflection, raindrops gazing from it.
There have been hands laid on my shoulders.
What has been said to me,
how has my life replied?
The rain, the rain...

THE RAIN. In: In: DENISE LEVERTOV en castellano. Disponível em:< http://deniselevertov.blogspot.com.br/2011/06/la-lluvia.html>. Acesso em: 02. Ago. 2015.




Compartilhe no Google Plus

Sobre Jus et Humanitas

Sou Dalcin Lima, advogado, tradutor e um apaixonado por Línguas e Literatura, especialmente poesia. Sou protetor de animais em geral.
    Blogger Comment
    Facebook Comment

0 comentários:

Postar um comentário