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BARBIE MAFIOSA: A POÉTICA DE HUMOR INFALÍVEL DE DENISE DUHAMEL


BARBIE COMO MAFIOSA


Para Dangerous Diane 
Quando lhe repassam o saquinho de cocaína,
Barbie foge para seu beco preferido.
Ela tira sua cabeça e se preenche com o pó
Como se fosse tão inocente quanto um saleiro de curvas gostosas.
Os malandros deixam o tráfico de pequenas coisas para ela-
e enquanto ela desliza pelos aeroportos internacionais
ou os agitados cais dos portos, ninguém lá em cima
se enerva. Seja aninhada entre o receptor
e a base do telefone de um automóvel, ou guardadinha
na gaveta de uma cômoda com um pequeno gravador no
seu torso oco, Barbie ama o divertimento e o tesão da aventura.
Mas por ser uma boneca muito séria, ela também sabe dar o beijo
da morte se precisar. Seus ousados lábios
se recusam a abrir, tornando-a a mais perfeita guardadora de segredos.
Nas conferências de imprensa, ela negará todas as afiliações.
Só estou brincando, dirá ela, ou
Vocês não conseguem provar nada. Mal tenho cérebro.
Quando a Barbie fica assim tão na cara, por vezes
o poderoso chefão passa apertos. Sua mulher fica com ciúmes,
se perguntando porque a Barbie liga para o marido não-boneco de outra
de cabines telefônicas no meio da noite.
Os detalhes das senhas, dos sapatos de cimento e das propostas irrecusáveis,
todos precisam ser bem pensados. O chefão
vai acalmar sua esposa, argumentando que é só ela
que ele ama: esta Barbie nem sequer é uma dama de verdade.
Não sei porque você se preocupa.
A esposa admite que se sente tola, mas ao voltar
para a cama fica de olho aberto. Os policiais
se sentem tolos também, prendendo brinquedos.
Por isso a Barbie anda por onde ela quiser tendo a audácia
de deixar seus óculos escuros em casa. Ela freqüenta
clubes privados enfumaçados e senta à janela nas mesas
dos cafés de Little Italy. Mas são as praias dos resorts
que ela mais gosta, onde pode realmente espairecer
e ser ela mesma. Sua pequena caixa de isopor segura o cantinho
da sua toalha de praia de marca. Ela observa seu namorado loiro
Malibu Ken, mexendo com seus pé-de-pato e óculos.
Ela o ama porque ele não sabe de nada –
mera peça acessória para seus crimes.

Tradução de Miriam Adelman, com revisão de Keo Cavalcanti. In: juntando palavras. Disponível em:< http://conviteapalavra.blogspot.com.br/2013/09/retomando-os-poemas-de-denise-duhamel.html >. Acesso em: 30. Abr. 2016.


BARBIE AS MAFIOSA


- for Dangerous Diane

When she’s slipped the bag of cocaine,
Barbie ducks into her favorite alley.
She pulls her head off and fills herself up
As though she’s as innocent as a shapely salt shaker.
The wise guys leave the trafficking of small things to her –
and as she glides through international airports
or bustling loading docks, no one at the top’s
disappointed. Whether nestled between the receiver
and base of a car phone, or tucked into a bedroom drawer
with a tiny tape recorder in her hollow torso,
Barbie loves fun and the thrill of adventure.
But being a no-nonsense doll, she can also give a kiss
of death if she has to. Her sassy lips
refuse to part, making her the perfect keeper of secrets.
At the press conferences, she’ll deny all affiliations.
I’m just playing, she’ll say, or
you can’t prove a thing. I barely even have a brain.
When Barbie is this visible, sometimes
the big boss sweats. His wife gets jealous,
wondering why Barbie calls another woman’s non-doll husband
from phone booths in the middle of the night.
The details of passwords, cement shoes and unrefusable offers
I’m just playing, she’ll say, or
you can’t prove a thing. I barely even have a brain.
When Barbie is this visible, sometimes
the big boss sweats. His wife gets jealous,
wondering why Barbie calls another woman’s non-doll husband
from phone booths in the middle of the night.
The details of passwords, cement shoes and unrefusable offers
all have to be worked out. The mob leader
will try to calm his spouse, claiming she’s the only one
he loves: this Barbie dame’s not even a real dame.
I don’t know what you’re so worried about.
The wife admits she feels silly, but when she returns
to bed, she keeps one eye open.
The cops feel silly, too, arresting toys,
so Barbie goes everywhere with the gall
of leaving her sunglasses at home. She frequents
the smoky private clubs and gets window tables
in Little Italy cafés. But it’s the resort beaches
she likes best, where she can really unwind
and be herself. Her little cooler weighs down the corner
of her tiny designer towel. She watches her blond boyfriend
Malibu Ken fiddles with his flippers and goggles.
She loves him because he knows nothing –
a mere fashion accessory to Barbie’s crimes.

BARBIE AS MAFIOSA. In: juntando palavras. Disponível em:< http://conviteapalavra.blogspot.com.br/2013/09/retomando-os-poemas-de-denise-duhamel.html >. Acesso em: 30. Abr. 2016.


BARBIE ORIENTAL

Ela pode ser do Japão, do Hong Kong, da China,
das Filipinas, do Vietnã, da Tailândia o da Coréia.
A menininha que brinca com ela pode decidir:
O sul, o norte, uma província
nebulosa. Tanto faz, segundo a Mattel, que relata
que esta Barbie continua tendo “olhos arredondados”
porém “boca e busto menores” do que
sua irmã dos EUA. As meninas, como alguns homens já crescidos
gostam da variedade, desde que bonita, desde que
haja cabelo comprido para mexer.
Num comercial nas horas noturnas, a Manhattan Cable
oferece um serviço de acompanhantes “Geishas to Go”
garotas do “Oriente, onde os homens são rei...”
O Ken Branco deita barriga para baixo
enquanto uma Barbie Oriental caminha sobre suas costas.
Ou é uma mulher de verdade pisando no Ken?
Ou uma Barbie Oriental pisando num homem real?
Você precisa viajar ao Japão
para comprar esta Barbie específica. Uma garota geisha
pode chegar à porta do teu apartamento em Nova Iorque
em menos de uma hora. Por sinal,
não existe um Ken Oriental.
Os que estudam o delicado equilíbrio
do comércio e câmbio americanos
entenderão.

Tradução de Miriam Adelman. In: Mallarmargens, Revista de Poesia e Arte Contemporânea. Disponível em:< http://www.mallarmargens.com/2014/02/denise-duhamel-por-miriam-adelman.html>. Acesso em: 30. Abr. 2016.

ORIENTAL BARBIE


She could be from Japan, Hong Kong, China,
the Phillipines, Vietnam, Thailand or Korea.
The little girl who plays with her can decide.
The south, the north, a nebulous
province. It´s all the same, according to Mattel, who says
this Barbie still has “round eyes”
but “a smaller mouth and bust”
than her U.S. sister. Girls, like some grown men,
like variety, as long as it’s pretty, as long
as there’s long hair to play with.
On a late night Manhattan Cable commercial
One escort service sells Geishas to Go,
girls from “the Orient, where men are kings…”
White Ken lies on his stomach
while an Oriental Barbie walks on his back.
Or is it a real woman stepping on Ken?
Or Oriental Barbie stepping on a real man?
You have to travel to Japan
to buy this particular Barbie doll. A geisha girl
can be at your door of your New York apartment
in less than an hour. Of course,
there is no Oriental Ken.
Those who study the delicate balance
of American commerce and trade understand.

ORIENTAL BARBIE. In: Mallarmargens, Revista de Poesia e Arte Contemporânea. Disponível em:< http://www.mallarmargens.com/2014/02/denise-duhamel-por-miriam-adelman.html>. Acesso em: 30. Abr. 2016.


SIM

De acordo com Choque Cultural:
Um Guia de Boas Maneiras e Etiqueta
Dos Filipinos, quando meu marido diz sim,
Também pode estar dizendo uma das seguintes coisas:
a) não sei.
b) tu dizes.
c) se você acha.
d) espero que tenha dito sim o suficientemente 
sem paixão para que te dês conta de que na realidade eu quero dizer não.
Pode imaginar a confusão
A volta de nossos encontros, na lavanderia
Quem vai pegar o lixo e quando. Eu o relembro
Que sou americana, que todos os sins me soam iguais,
Digo-lhe que na América temos psiquiatras
Que podem ajudá-lo a ser menos condescendente.
Temos os pequenos que adoram gritar “não!”
Quando não conseguem o que desejam
Digo-lhe
que na América tem um livro muito famoso,
Quando Digo Não Eu me Sinto Culpado
Queres um exemplar, pergunto.
Diz que sim, mas acredita que na realidade quer dizer
“Se te agrada”, isto é, “não vou lê-lo”.
“Vou tentar”, digo-lhe, “mas você tem que tentar também”.
“Sim”, me diz, mas logo faz tempo;
Uma maneira de se enojar que o livro do Choque Cultural descreve como “hostilidade subliminar... retirada tradicional da alegria na
Presença do outro que está enojado.
O livro diz que está em mim fazer as coisas certas,
“restaurar a boa vontade, sem jogar o problema para longe sem mostrar a preocupação com o bem-estar da pessoa afetada”. Esqueça, penso, ainda que eu saiba
Que se não me comportar bem, o tempo pode escalar rapidamente a nagdadabog;
Pistons, grunhidos, portas que açoitam.
Em vez de falar com meu marido, sigo enjoada
A falar de minha porcelana de Kwan Yin,
A deusa chinesa da piedade
Que comprei na Rua do Canal quando meu marido e eu
Começamos a namorar.
“A verdadeira Kwan Yin está em Manila”
Me diz: “Se chama Nossa Senhora da Guia
E seus traços asiáticos provam que o cristianismo
Chegou na Filipinas antes dos espanhóis”.
Quando meu marido me disse isso,
Também estava dizendo o que sente.
Kwan Yin me pisca o olho,
Felicitando-me – minha pequena prece.
“Você me amará para sempre?” eu pergunto,
Então estudo seus lábios, perguntando-me se serei capaz de decifar
O que ele me diz com um sim.

Traduzido por Dalcin Lima baseado na tradução espanhola de Beatriz Estrada, postada no blog POESÍA DE MUJERES. Disponível em: < http://www.poesiademujeres.com/2012_01_01_archive.html>. Acesso em: 30. Abr. 2016.


YES

According to Culture Shock:
A Guide to Customs and Etiquette
of Filipinos, when my husband says yes,
he could also mean one of the following:
a.) I don’t know.
b.) If you say so.
c.) If it will please you.
d.) I hope I have said yes unenthusiastically enough
for you to realize I mean no.
You can imagine the confusion
surrounding our movie dates, the laundry,
who will take out the garbage
and when. I remind him
I’m an American, that all his yeses sound alike to me.
I tell him here in America we have shrinks
who can help him to be less of a people-pleaser.
We have two-year-olds who love to scream “No!”
when they don’t get their way. I tell him,
in America we have a popular book,
When I Say No I Feel Guilty.
“Should I get you a copy?” I ask.
He says yes, but I think he means
“If it will please you," i.e. “I won’t read it.”
“I’m trying," I tell him, “but you have to try too.”
“Yes," he says, then makes tampo,
a sulking that the book Culture Shock describes as
“subliminal hostility . . . withdrawal of customary cheerfulness
in the presence of the one who has displeased” him.
The book says it’s up to me to make things all right,
“to restore goodwill, not by talking the problem out,
but by showing concern about the wounded person’s
well-being.” Forget it, I think, even though I know
if I’m not nice, tampo can quickly escalate into nagdadabog--
foot stomping, grumbling, the slamming
of doors. Instead of talking to my husband, I storm off
to talk to my porcelain Kwan Yin,
the Chinese goddess of mercy
that I bought on Canal Street years before
my husband and I started dating.
“The real Kwan Yin is in Manila,"
he tells me. “She’s called Nuestra Señora de Guia.
Her Asian features prove Christianity
was in the Philippines before the Spanish arrived.”
My husband’s telling me this
tells me he’s sorry. Kwan Yin seems to wink,
congratulating me--my short prayer worked.
“Will you love me forever?” I ask,
then study his lips, wondering if I’ll be able to decipher
what he means by his yes.

YES. In: Academy of American Poets. Disponível em:< https://www.poets.org/poetsorg/poem/yes >. Acesso em: 30. Abr. 2016. 
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Sobre Jus et Humanitas

Sou Dalcin Lima, advogado, tradutor e um apaixonado por Línguas e Literatura, especialmente poesia. Sou protetor de animais em geral.
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