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AS MÃOS E OUTROS POEMAS ENGAJADOS DE W. S. MERWIN


AS MÃOS


“Ma non è cosa in terra
Che ti somigli...”
Leopardi


Eu as vi quando nada mais restava
além
de pequenas chamas ao levante iluminando o caminho
em recantos
onde estavam à espera
de mim

segregadas de
tudo vieram a mim
e por mais um dia e por uma noite mais
vieram trazendo
seu sangue e eu acordo
para encontrá-las concluídas
comigo

como pássaro reclinado entre as asas
estonteado
pássaro até que estremeçam
e as asas entreabram
vindo aninhar o coração delas
não meu
então me curvo para ouvir quem bate


Tradução de Elizabeth Veiga. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.

THE HANDS


“Ma non è cosa in terra
Che ti somigli...”
Leopardi


I have seen them when there was
nothing else
small swollen flames lightning my way at
corners
where they have waited for
me

cut off from
everything they have made their way to me
one more day one more night leading
their blood and I wake
to find them lying at home
with my own

like a bird lying in its wings
a stunned
bird till they stir and
break
open cradling a heart not theirs
not mine
and I bend to hear who is beating


THE HANDS. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.

QUANDO PARTES


Quando o vento roda para o norte
Os pintores trabalham todo o dia mas ao sol-pôr a tinta cai
Descobrindo as paredes negras
O relógio bate repetidamente a mesma hora
Que não tem lugar nos anos

E à noite acobertado na cama de cinzas
Acordo de repente
É a altura em que a barba dos mortos está a crescer
Eu recordo que caio
Que sou o culpado
E que as minhas palavras revestem o que nunca serei
Como a manga enrolada de um rapaz sem braço.


Tradução de José Alberto Oliveira. In: Canal de Poesia. Disponível em:< http://canaldepoesia.blogspot.com.br/2011/09/w-s-merwin-quando-partes.html>. Acesso em: 30. Abr. 2016.


WHEN YOU GO AWAY

When you go away the wind clicks around to the north
The painters work all day but at sundown the paint falls
Showing the black walls
The clock goes back to striking the same hour
That has no place in the years

And at night wrapped in the bed of ashes
In one breath I wake
It is the time when the beards of the dead get their growth
I remember that I am falling
That I am the reason
And that my words are the garment of what I shall never be
Like the tucked sleeve of a one-armed boy


WHEN YOU GO AWAY. In: Poems by W. S. Merwin. Disponível em:< https://www.ndsu.edu/pubweb/~cinichol/CreativeWriting/323/MiscpoemsMerwin.htm>. Acesso em: 30. Abr. 2016.

LUZ DA CHUVA


O dia todo as estrelas observam de muito tempo atrás
minha mãe disse já estou indo
quando você estiver sozinho ficará bem
sabendo ou não você saberá
olhe para a casa velha sob a chuva na alvorada
todas as flores são formas de água
o sol as recorda através de uma nuvem branca
toca os retalhos espalhados na montanha
as cores lavadas da pós-vida
que viviam ali muito antes de você nascer
veja como despertam sem fazer perguntas
mesmo que o mundo inteiro esteja em chamas


Tradução de Adriana Lisboa. In: caquis caídos. Disponível em:< https://caquiscaidosblog.wordpress.com/2008/03/01/poesia-sabado-w-s-merwin/>. Acesso em: 30. Abr. 2016.


RAIN LIGHT


All day the stars watch from long ago
my mother said I am going now
when you are alone you will be all right
whether or not you know you will know
look at the old house in the dawn rain
all the flowers are forms of water
the sun reminds them through a white cloud
touches the patchwork spread on the hill
the washed colors of the afterlife
that lived there long before you were born
see how they wake without a question
even though the whole world is burning


RAIN LIGHT. In: The New Yorker. Disponível em:< http://www.newyorker.com/magazine/2008/03/03/rain-light>. Acesso em: 30. Abr. 2016.


EXERCÍCIO


Primeiro esquece que horas são
por uma hora
faz isto regularmente todos os dias

depois esquece em que dia da semana estás
faz isto regularmente por uma semana
depois esquece em que país estás
e pratica esta ação acompanhado
por uma semana
depois faz as duas coisas juntas
por uma semana
com tão poucas interrupções quanto possível

em seguida esquece como se adiciona
ou como se subtrai
tanto faz
podes substituir uma ação por outra
passada uma semana
ambas te ajudarão
mais tarde
a esquecer como contar

esquece como contar
a começar pela tua própria idade
a começar por como se conta para trás
a começar pelos números pares
a começar pelos números romanos

a começar pelas frações de números romanos
a começar pelo antigo calendário
seguido do velho alfabeto
seguido do alfabeto
até ser tudo contínuo outra vez

passa então ao esquecimento dos elementos
a começar pela água
logo depois a terra
a crescer em fogo

esquece o fogo


Tradução de António Ladeira. In: Do Trapézio, sem rede. Disponível em:< http://arspoetica-lp.blogspot.com.br/search/label/W.%20S.%20Merwin>. Acesso em: 30. Abr. 2016.


EXERCISE


First forget what time it is
for an hour
do it regularly every day

then forget what day of the week it is
do this regularly for a week
then forget what country you are in
and practice doing it in company
for a week
then do them together
for a week
with as few breaks as possible

follow these by forgetting how to add
or to subtract
it makes no difference
you can change them around
after a week
both will help you later
to forget how to count

forget how to count
starting with your own age
starting with how to count backward
starting with even numbers
starting with Roman numerals
starting with fractions of Roman numerals
starting with the old calendar
going on to the old alphabet
going on to the alphabet
until everything is continuous again

go on to forgetting elements
starting with water
proceeding to earth
rising in fire

forget fire


EXERCISE. In: The Writers Almanac. Disponível em:< http://writersalmanac.publicradio.org/index.php?date=2006/09/30>. Acesso em: 30. Abr. 2016.


CONTO


Muitos invernos depois o musgo
encontra o pó da madeira cascas esmagadas de árvore
e diz velho amigo
velho amigo


Tradução de António Ladeira. In: Do Trapézio, sem rede. Disponível em:< http://arspoetica-lp.blogspot.com.br/search/label/W.%20S.%20Merwin>. Acesso em: 30. Abr. 2016.


TALE


After many winters the mossmoss by nellie foster
finds the sawdust crushed bark chips
and says old friend
old friend


TALE. In: The Merwin Conservancy. Disponível em:< http://www.merwinconservancy.org/2014/06/poem-of-the-week-tale/>. Acesso em: 30. Abr. 2016.


QUEDA DE NEVE


para a minha mãe


A certa altura a altas horas
eu podia ser uma centelha subindo
a rua negra
com a minha morte a ajudar-me a subir
um eu branco a ajudar-me a subir
como um irmão
que cresce
mas esta manhã
reparo que os familiares silenciosos que amei em criança
chegaram todos juntos de noite
do país antigo
de que se lembravam
e de que todas as coisas se lembram
tomo alimento das mãos
do que durante anos foram zimbros
o sabor não mudou
estou a começar
outra vez
mas um sino toca em alguma aldeia que não conheço
nem posso ouvir
e à luz do sol solta-se a neve dos ramos
deixando o seu nome no ar
e uma única pegada

irmão


Tradução de António Ladeira. In: Do Trapézio, sem rede. Disponível em:< http://arspoetica-lp.blogspot.com.br/search/label/W.%20S.%20Merwin>. Acesso em: 30. Abr. 2016.

SNOWFALL


for my mother


Some time in the dark hours
it seemed I was a spark climbing
the black road
with my death helping me up
like a brother
growing
but this morning
I see that the silent kin I loved as a child
have arrived all together in the night
from the old country
they remembered
and everything remembers
I eat from the hands
of what for years have been junipers
the taste as not changed
I am beginning
again
but a bell rings in some village I do not know
and cannot hear
and in the sunlight snow drops from branches
leaving its name in the air
and a single footprint

brother


SNOWFALL. In: The Merwin Conservancy. Disponível em:< http://www.merwinconservancy.org/2016/01/poem-of-the-week-snowfall/>. Acesso em: 30. Abr. 2016.


AR


Naturalmente é de noite.
Sob o alaúde virado com a sua
Única corda eu sigo o meu caminho
O qual tem um som estranho.

Pó aqui, pó daquele lado.
Escuto os dois lados
Mas prossigo.
Lembro-me das folhas
Paradas nas suas deliberações
E depois o inverno.

Lembro-me da chuva com o seu feixe de estradas.
A chuva conduzindo todas as suas ruas.
A lugar algum.

Jovem como eu, velha como eu.

Esqueço o amanhã, o homem cego.
Esqueço a vida entre janelas enterradas.
O olhar das cortinas.
A parede
Crescendo entre as perpétuas.
Esqueço o silêncio
O autor do sorriso.

Isto deve ser o que eu quis fazer.
Caminhar de noite entre os dois desertos,
Cantando.


Tradução de António Ladeira. In: Do Trapézio, sem rede. Disponível em:< http://arspoetica-lp.blogspot.com.br/search/label/W.%20S.%20Merwin>. Acesso em: 30. Abr. 2016.

AIR


Naturally it is night.
Under the overturned lute with its
One string I am going my way
Which has a strange sound.

This way the dust, that way the dust.
I listen to both sides
But I keep right on.
I remember the leaves sitting in judgment
And then winter.

I remember the rain with its bundle of roads.
The rain taking all its roads.
Nowhere.

Young as I am, old as I am,

I forget tomorrow, the blind man.
I forget the life among the buried windows.
The eyes in the curtains.
The wall
Growing through the immortelles.
I forget silence
The owner of the smile.

This must be what I wanted to be doing,
Walking at night between the two deserts,
Singing.


AIR. In: Read a little poetry. Disponível em:< https://readalittlepoetry.wordpress.com/2008/11/05/air-by-w-s-merwin/>. Acesso em: 30. Abr. 2016.


A MINHA MÃO


Repara como o passado não terminou
aqui no presente
está sempre acordado
nunca à espera
é a minha mão agora mas não o que continha
não é a minha mão mas o que continha
é o que recordo
mas nunca é bem igual
nenhum outro o lembra
uma casa há muito transformada em ar
a vibração de pneus sobre uma estrada de empedrado
luz fria num quarto que desapareceu
o cintilar do papa-figos
entre uma vida e outra
o rio que uma criança viu.


Tradução de António Ladeira. In: Do Trapézio, sem rede. Disponível em:< http://arspoetica-lp.blogspot.com.br/search/label/W.%20S.%20Merwin>. Acesso em: 30. Abr. 2016.


MY HAND

See how the past is not finished
here in the present
it is awake the whole time
never waiting
it is my hand now but not what I held
it is not my hand but what I held
it is what I remember
but it never seems quite the same
no one else remembers it
a house long gone into air
the flutter of tires over a brick road
cool light in a vanished bedroom
the flash of the oriole
between one life and another
the river a child watched


MY HAND. In: The Nomad Flute. Disponível em:< http://asthewayopens.blogspot.com.br/2010/07/ws-merwin-nomad-flute.html>. Acesso em: 30. Abr. 2016.


MAIS UM ANO

Nada tenho a lhe pedir,
Futuro, paraíso do pobre.
Ainda visto as mesmas coisas.

Continuo vendo o mesmo problema
Pela mesma luz,
Comendo a mesma pedra,

E as agulhas do relógio ainda espetam sem entrar.


Tradução de Antonio Carlos Secchin. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.

ANOTHER YEAR COME


I have nothing new to ask of you,
Future, heaven of the poor.
I am still wearing the same things.

I am still begging the same question
By the same light,
Eating the same stone,

And the hands of the clock still knock without entering.


ANOTHER YEAR COME. In: Merwin and Merwin. Disponível em:< http://merwinandmerwin.blogspot.com.br/2012/01/another-year-come.html>. Acesso em: 30. Abr. 2016. 



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Sobre Jus et Humanitas

Sou Dalcin Lima, advogado, tradutor e um apaixonado por Línguas e Literatura, especialmente poesia. Sou protetor de animais em geral.
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