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A Hora do Gambá e outros poemas de Robert Lowell


A HORA DO GAMBÁ

(para Elizabeth Bishop)


Lá em sua morada espartana
pelo inverno todo ainda mora a solitária senhora herdeira
da Ilha Nautilus:
suas ovelhas ainda pastam nas colinas acima do mar.
Seu filho é um bispo. Seu vigia,
eminente membro de nossa comunidade;
ela chegou à senilidade.

Ansiando por
um sossego sacerdotal
como do século da Rainha Vitória,
compra mil coisas,
máculas que guardam sua praia,
e deixa que se desfaçam

A estação está doente -
perdemos nosso milionário de verão,
aquele que parecia ter saído duma revista de modas.
Seu escaler foi leiloado a pescadores.
Um vasto vermelho vivo veste a Colina Azul.

Agora nosso efeminando
decorador limpa sua lojinha para o outono;
sua rede de pescar está cheia de enfeites, rolhas alaranjadas,
e amarelas como seus banquinhos e corujinhas;
bugigangas sem venda,
ele gostaria mesmo é de se casar.

Numa noite escura
meu Ford trepou até o topo da colina;
procurei carros de namorados. Luzes baixas,
estavam alinhados juntos uns dos outros, cascos contra cascos,
onde os gavetões do cemitério da cidade...
Minha mente está doente.

Um rádio de carro choraminga
"Amor, o displicente amor..." Ouço
minha alma doente soluçar em cada gota de sangue,
como se minhas mãos estrangulassem
cada uma de suas gargantas...
sou o próprio inferno;
não há ninguém aqui -

somente gambás que procuram
o que devorar à luz do luar.
Caminham passo a passo até o Centro;
listras brancas, chamas vermelhas de olhos lunáticos
à sombra da torre estreita e espiralada branca de cal
da Igreja da Santíssima Trindade.

Fico de pé na sacada dos fundos
e respiro ar puro -
uma gambá com uma fieira de filhotes fareja restos de comida
numa lata de lixo. Mete sua cabeça de espátula num pote
de creme de leite, abaixa sua cauda de avestruz.,
e não se deixa assustar.

Tradução de Ary Gonzalez Galvão. In: Escritablog. Disponível em:< http://escritablog.blogspot.com.br/2013/09/abertura-dois-poemas-de-robert-lowell.html>. Acesso em 24. Dez. 2014.


SKUNK HOUR

(for Elizabeth Bishop)


Nautilus Island's hermit
heiress still lives through winter in her Spartan cottage;
her sheep still graze above the sea.
Her son's a bishop. Her farmer is first selectman in our village;
she's in her dotage.

Thirsting for
the hierarchic privacy
of Queen Victoria's century
she buys up all
the eyesores facing her shore,
and lets them fall.

The season's ill--
we've lost our summer millionaire,
who seemed to leap from an L. L. Bean
catalogue. His nine-knot yawl
was auctioned off to lobstermen.
A red fox stain covers Blue Hill.

And now our fairy
decorator brightens his shop for fall;
his fishnet's filled with orange cork,
orange, his cobbler's bench and awl;
there is no money in his work,
he'd rather marry.

One dark night,
my Tudor Ford climbed the hill's skull;
I watched for love-cars. Lights turned down,
they lay together, hull to hull,
where the graveyard shelves on the town....
My mind's not right.

A car radio bleats,
"Love, O careless Love...." I hear
my ill-spirit sob in each blood cell,
as if my hand were at its throat...
I myself am hell;
nobody's here--

only skunks, that search
in the moonlight for a bite to eat.
They march on their soles up Main Street:
white stripes, moonstruck eyes' red fire
under the chalk-dry and spar spire
of the Trinitarian Church.

I stand on top
of our back steps and breathe the rich air--
a mother skunk with her column of kittens swills the garbage pail.
She jabs her wedge-head in a cup
of sour cream, drops her ostrich tail,
and will not scare.


SKUNK HOUR. In: PoemHunter.com. Disponível em: . Acesso em: 24. Dez.2014.


MEIA IDADE


A monotonia do solstício de inverno
está agora em mim, Nova Iorque
atravessa-me os nervos,
enquanto percorro
as ruas maceradas.

Quarenta e cinco,
e a seguir?, e a seguir?
A cada esquina,
encontro meu Pai,
da minha idade, ainda vivo.

Pai, perdoa as
minhas ofensas,
como eu perdoo
aqueles que
tenho ofendido!

Nunca escalaste
o Monte Sião, porém deixaste
pegadas de dinossauro
na crosta
por onde devo caminhar.

Traduzido por João Luís Barreto Guimarães. Disponível em: < http://poesiailimitada.blogspot.com.br/2006/03/robert-lowell.html>. Acesso em: 24. Dez. 2014.


MIDDLE AGE


Now the midwinter grind
is on me, New York
drills through my nerves,
as I walk
the chewed-up streets.

At forty-five,
what next, what next?
At every corner,
I meet my Father,
my age, still alive.

Father, forgive me
my injuries,
as I forgive
those I
have injured!

You never climbed
Mount Sion, yet left
dinosaur
death-steps on the crust,
where I must walk. 


MIDDLE AGE. In: Pensylvania University.  Acesso em: 24. Dez. 2014.


À VENDA


Brinquedo mais acanhado,
preparado com pródiga animosidade,
durou só um ano—
o chalé de meu pai em Beverly Farms
foi a mercado no mês de sua morte.
Vazio, aberto, íntimo,
a mobília de prefeitura
na ponta dos pés
esperava pelo proponente
no calcanhar do agente funerário.
Atenta, temerosa
de viver só até os oitenta,
mamãe sonhava à janela
como se estivesse num trem
uma parada após a dela.

Tradução de Ruy Vasconcelos. In: ZUNÁI - Revista de poesia & debates.  Acesso em: 24. Dez. 2014.


FOR SALE


Poor sheepish plaything,
organized with prodigal animosity,
lived in just a year—
my Father’s cottage at Beverly Farms
was on the market the month he died.
Empty, open, intimate,
its town-house furniture
had an on tiptoe air
of waiting for the mover
on the heels of the undertaker.
Ready, afraid
of living alone till eighty,
Mother mooned in a window,
as if she had stayed on a train
one stop past her destination. 


FOR SALE. In: ZUNÁI - Revista de poesia & debates.  Acesso em: 24. Dez. 2014. 

VOLTANDO DE RAPALLO POR MAR

[Fevereiro, 1954]


A enfermeira só falava italiano,
Mas em vinte minutos pude imaginar as últimas semanas,
E lágrimas escorreram à face...
Quando embarquei na Itália com o corpo de minha mãe,
Todo o litoral do Golfo de Genova
Rompia-se em fogosas flores.
Os doidos amarelos e celestes malhos-de-mar
Tinindo como britadeiras ao longo
Do borbulha-espumante rastro do navio
Lembravam as cores berrantes do meu Ford.
Mamãe viajava de primeira classe no porão;
Seu casquete do Risorgimento preto e áureo
Era como Napoleão nos Inválidos...

Enquanto passageiros bronzeavam
No Mediterrâneo em espreguiçadeiras,
O cemitério de nossa família em Dunbarton
Jazia sob as Montanhas White
Em temperatura abaixo de zero.
O solo do cemitério empedrava-se—
Tantas foram as mortes inverno a meio.
Severo e sombrio contra a ofuscante corrente de neve,
Seu arroio negro e troncos de abeto eram macios como mastros.
Uma cerca de ferro em ponta-de-lança
Ladeava em negro as lápides mais coloniais,
A única alma “a-histórica” a parar ali foi
o Pai, agora enterrado sob o recente
mármore rosa-venado, sem marcas de tempo.
Mesmo o latim do lema dos Lowell:
“Ocasionem Cognosce”,
Soava ali um tanto mercantil e deslocado,
Onde o frio abrasivo iluminava
As sepulturas rachadas dos parentes de Mamãe:
Vinte ou trinta Winslows e Starks.
A nevasca deu a seus nomes uma borda diamante...

Nas letras grandiloqüentes sobre o caixão de Mamãe,
Lowell grafara-se em gralha por LOVEL.
O corpo fora embrulhado como panettone em papel de estanho italiano.

Tradução de Ruy Vasconcelos. In: ZUNÁI - Revista de poesia & debates. Disponível em:< http://www.revistazunai.com/traducoes/robert_lowell.htm>. Acesso em: 24. Dez. 2014.

SAILING HOME FROM RAPALLO

[February 1954]


Your nurse could only speak Italian,
but after twenty minutes I could imagine your final week,
and tears ran down my cheeks....

When I embarked from Italy with my Mother’s body,
the whole shoreline of the Golfo di Genova
was breaking into fiery flower.
The crazy yellow and azure sea-sleds
blasting like jack-hammers across
the spumante-bubbling wake of our liner,
recalled the clashing colors of my Ford.
Mother traveled first-class in the hold;
her Risorgimento black and gold casket
was like Napoleon’s at the Invalides....

While the passengers were tanning
on the Mediterranean in deck-chairs,
our family cemetery in Dunbarton
lay under the White Mountains
in the sub-zero weather.
The graveyard’s soil was changing to stone—
so many of its deaths had been midwinter.
Dour and dark against the blinding snowdrifts,
its black brook and fir trunks were as smooth as masts.
A fence of iron spear-hafts
black-bordered its mostly Colonial grave-slates.
The only “unhistoric” soul to come here
was Father, now buried beneath his recent
unweathered pink-veined slice of marble.
Even the Latin of his Lowell motto:
Occasionem cognosce,
seemed too businesslike and pushing here,
where the burning cold illuminated
the hewn inscriptions of Mother’s relatives:
twenty or thirty Winslows and Starks.
Frost had given their names a diamond edge....

In the grandiloquent lettering on Mother’s coffin,
Lowell had been misspelled LOVEL.
The corpse
was wrapped like panettone in Italian tinfoil.

SAILING HOME FROM RAPALLO. In: PoemHunter.com. Acesso em: 24. Dez.2014.


EPÍLOGO


Essas benditas estruturas, trama e rima—
por que não são de ajuda alguma para mim agora
que quero fazer
algo imaginado, não recordado?
Escuto o barulho de minha própria voz:
a vista do pintor não é uma lente,
treme ao acariciar a luz.
Mas, às vezes, tudo que escrevo
com a puída arte dos meus olhos
parece uma instantânea,
escabrosa, apressada, espalhafatosa, agrupada,
iluminada de vida,
mas paralisada pela realidade.
Tudo é pacto mal feito.
Por que não dizer, todavia, o que aconteceu?
Reza pela graça da precisão
que Vermeer deu à iluminação do sol
avançando como uma maré pelo mapa
até esta garota firme com desejos.
Somos pobres realidades transitórias,
advertidos por aquilo que concedemos
a cada figura da fotografia
seu verdadeiro nome.

Tradução de Dalcin Lima, em 24.12.2014.


EPILOGUE


Those blessèd structures, plot and rhyme—
why are they no help to me now
I want to make
something imagined, not recalled?
I hear the noise of my own voice:
The painter's vision is not a lens,
it trembles to caress the light.
But sometimes everything I write
with the threadbare art of my eye
seems a snapshot,
lurid, rapid, garish, grouped,
heightened from life,
yet paralyzed by fact.
All's misalliance.
Yet why not say what happened?
Pray for the grace of accuracy
Vermeer gave to the sun's illumination
stealing like the tide across a map
to his girl solid with yearning.
We are poor passing facts,
warned by that to give
each figure in the photograph
his living name.

EPILOGUE, In: LE MONOCLE DE MON ONCLE. Disponível em: < http://lemonocledemononcle.blogspot.com.br/2011/05/epilogo-de-robert-lowell.html>. Acesso em: 24. Dez.2014















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Sobre Jus et Humanitas

Sou Dalcin Lima, advogado, tradutor e um apaixonado por Línguas e Literatura, especialmente poesia. Sou protetor de animais em geral.
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