Notado por uma oratória e uma poética complexas, dono de uma vida conturbada, Robert Lowell foi chamado de pai dos poetas confessionais – termo usado para rotular poetas tais como W. D. Snodgrass, Sylvia Plath, Anne Sexton e outros mais. O trabalho literário de Lowell é fruto de sua própria infelicidade e foi grandemente influenciado pelos movimentos sociais, políticos e ideológicos ocorridos nos EUA durante três primeiras décadas do pós-guerra.
Filho de um oficial da marinha americana, que também se chamava Robert, e de Charlotte Winslow Lowell, uma figura feminina de destaque para a época, Lowell era descendente de uma antiga família da Nova Inglaterra, que incluía intelectuais como o poeta e crítico James Russell Lowell e a figura emblemática do movimento imagista, a igualmente poeta Amy Lowell. Naquela atmosfera tradicional, nasceu Robert Traill Spence Lowell em 1º de março de 1917, em Massachusetts.
Quando menino, Lowell teve dois apelidos: Cal, de certo modo uma referência ao Imperador Romano Calígula, conhecido por sua crueldade; e Caliban, devido a peça A Tempestade, de William Shakespeare. Frequentou escolas particulares de Boston e, por dois anos, esteve em St. Mark’s School, onde estudou com o poeta Richard Eberhart e, então, muito provavelmente, começou a escrever, decidindo-se, portanto, pela carreira de poeta. Lowell passava, à época, os verões lendo e estudando tradição literária inglesa e apresentava sua lista de leituras aos amigos da escola.
Como os homens da família o tinham feito por gerações, Lowell, após a formatura em St. Mark’s, também se matriculou em Havard, onde permaneceu por dois anos. Em 1937 conheceu Allen Tate, poeta do grupo Fugitive (Fugitivo) e do praticamente não institucionalizado New Criticism (Nova Crítica). Lowell e Tate tornaram-se, de pronto, grandes amigos e, durante o verão daquele ano, Lowell viajou para a casa de Tate, no Tennessee, onde, acampado no jardim, escreveu poemas e estudou ao lado do poeta mais velho. No outono de 1937, sob o conselho de seu analista, Lowell, em vez de voltar para Havard, transferiu-se para Kenyon College, em Ohio, onde veio a estudar com John Crowe Ransom (1888-1974), mentor intelectual de Tate. Em Kenyon, tornou-se amigo de Randall Jarrell e Peter Taylor, ambos com uma carreira literária então já bem-sucedida.
Em 1940, Lowell formou-se summa cum laude em clássicos, por Kenyon College. Data dessa época sua conversão ao Catolicismo Romano, um repúdio ao protestantismo de seus antepassados, bem como uma dedicação àquilo que lhe parecia ser a mais autêntica fé. Em 1941, casou-se com Jean Stafford, uma escritora de contos e romances e, naquele mesmo ano, seguiu, como bolsista, para a Louisiana State University, onde trabalhou com Cleanth Brooks e Robert Penn Warren. Após um ano em Louisiana, Lowell e Stafford mudaram-se para Monteagle, Tennessee, e dividiram a mesma casa com Allen Tate e a esposa deste, a também escritora Caroline Gordon.
Com a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial, Lowell alistou-se para o serviço militar, mas sua pouca acuidade visual levou-o à dispensa por parte das Forças Armadas. Todavia, em 1943, Lowell recebeu uma convocação do Exército, agora obrigatória, para o serviço militar. Chocado, e mesmo horrorizado, com os bombardeios aliados a alvos civis nas cidades alemães, como Dresden, Lowell recusou-se a prestar o serviço argumentando, então, ser ele um opositor consciente. O argumentou levou-o a condenação por deserção, sendo apenado a um ano e um dia de reclusão numa penitenciária federal. É possível que o tempo em que permaneceu na prisão o tenha afetado emocionalmente, a ponto de sua sanidade mental ter-se, posteriormente, complicado e aquelas experiências no cárcere, certamente, foram a base para o poema Memories of West Street and Lepke (Lembranças da Rua West e Lepke). Na verdade, Lowell não cumpriu toda a pena em regime fechado, pois após cinco meses na prisão foi libertado condicionalmente e cumpriu o resto da sentença executando serviços comunitários em Connecticut.
Concluídos os trabalhos comunitários, Lowell publicou, em 1944, Land of Unlikeness (Terra da Desigualdade), uma coleção de poemas autobiográficos nos quais o poeta usou o simbolismo cristão e justapôs o mundo da graça à vida urbana. Dois anos depois, em 1946, confirmou-se sua reputação como poeta com a publicação de Lord Weary's Castle (O Castelo de Lord Weary). Os poemas desta coleção ocupam-se de um retorno ao milieu da Nova Inglaterra quando descrevem a formação e a linhagem familiar de Lowell. Neste volume está incluído o famoso The Quaker Graveyard in Nantucket (O Cemitério Quaker em Nantucket), assim como poemas de cunho religioso. Ressalte-se que por quase todo o Lord Weary's Castle vê-se o declínio moral e espiritual que Lowell vislumbrava na sociedade de então. Lord Weary's Castle recebeu o Prêmio Pulitzer, em 1947, e prestígio de Lowell, enquanto sua liderança de uma nova geração estava consolidada.
Em 1948, Lowell e Stafford divorciaram-se e, em 1949, o poeta casou-se com Elizabeth Hardwick, jovem escritora de Kentucky que já circulava desenvolta na comunidade intelectual de Nova York. Em 1950, o poeta perde o pai, que faleceu após uma longa enfermidade. No ano seguinte, 1951, é publicado The Mills of the Kavanaughs (Os Moinhos de Kavanaughs). O livro é composto de um poema narrativo de seiscentos versos e mais cinco outros poemas. Por ser uma mistura de mitos clássicos com a paisagem da Nova Inglaterra e apresentar uma rigidez extremada nos monólogos dramáticos que o permeiam, a crítica não poupou esforços em classificá-lo como inferior ao Lord Weary's Castle. O próprio Lowell reconheceu o argumento da crítica, mas a notoriedade deste volume, assim como do anterior, é a expressão de desespero do poeta numa linguagem altamente simbólica e ricamente alusiva.
De 1951 a 1954, Lowell e a Hardwick estabeleceramm-se na Europa, especialmente na Itália. Foram anos de intenso sofrimento para o poeta, pois além do álcool, do qual era dependente, os colapsos nervosos tornaram-se mais intensos em virtude de episódios maníaco-depressivos que se iniciaram em 1949 e que o atormentariam pelo resto da vida.
De volta aos EUA, em 1954, Lowell estabeleceu-se em Boston, onde começou a ensinar na Universidade de Boston, pelo período de 1955 a 1960. Nessa época Lowell foi leitor visitante nas Universidades de Cincinnati e Harvard. Depois da morte da mãe, em 1954, o poeta foi hospitalizado no McLean’s, um hospital mental em Massachusetts.
Em 1959, Lowell publicou Life Studies (Estudos da Vida), livro que renovou a reputação do poeta e que, em 1960, recebeu o National Book Award (Prêmio Nacional do Livro). Iniciado com o poema Skunk Hour (A Hora do Gambá), um poema que o poeta escreveu em 1957 em resposta ao poema The Armadillo (O Tatu), escrito pela amiga Elizabeth Bishop, e dedicado a ele. Algumas considerações, no entanto, devem ser feitas sobre o Life Studies: Lowell revisara os trabalhos de William Carlos Williams e fortemente influenciado pelas formas poéticas mais relaxadas de Williams, resolveu, então, abandonar a rigidez e a severidade da estrutura que caracterizara, por exemplo, livros como Lord Weary's Castle. Ressalte-se que, à época, Lowell fora aconselhado também, por seus psiquiatras, escrever sobre sua infância. O resultado daqueles conselhos resultou em Life Studies, onde o poeta criou uma poética autobiográfica, contendo algo do relaxamento prosódico de Williams, uma informalidade, diga-se de passagem, nunca antes encontrada em nenhuma de seus trabalhos anteriores. Ainda que alguns leitores, como Allen Tate, não tenham gostado dos novos poemas, taxando-os de um tanto descuidados e pessoalmente embaraçantes, muitos outros identificaram no novo livro nada menos que uma mudança no cenário poético norte-americano. Ao lado do poema Heart's Needle (Agulha do Coração), de W.D. Snodgrass, publicado um pouco antes de Life Studies, esta nova coletânea de Lowell inaugurou a poesia que veio a ser chamada, na cunhagem de M. L. Rosenthal, de Confessional.
No início da década de 60, Lowell dedicou-se ativamente à luta pelos direitos humanos e contra a guerra, sem contudo, abandonar a poesia. No ano de 1960, o poema For the Union Dead (Aos Mortos da União), é lido no Boston Arts Festival (Festival de Artes de Boston). Neste poema, Lowell vislumbra a terrível possibilidade de aniquilação nuclear da humanidade e a cultura miserável que endossa esta possibilidade. For the Union Dead dará título à próxima coletânea de poemas de Lowell, que a publicará em 1964. No resto dos anos 60, encontrar-se-á o poeta publicando uma coletânea intitulada Imitations (Imitações), traduções livres de poemas de Rilke, Rimbaud e outros poetas. Imitations ganhou o Bollingen Poetry Translation Prize (Prêmio Bollingen de Tradução de Poesia), em 1962. Ainda nesse período, Lowell trabalha as peças que, em 1965, serão publicadas e encenadas sob o título de The Old Glory (A Velha Glória), uma trilogia baseada nos trabalhados de Herman Melville e Nathaniel Hawthorne.
O interesse histórico evidenciado na poesia e peças de Lowell, durante os anos 60, traduziu-se num ativismo político pessoal. Convidado para White House Arts Festival (Festival de Artes da Casa Branca), em 1965, Lowell publicamente recusou o convite do Presidente Lyndon Johnson como uma manifestação de sua discordância com a escalada americana na Guerra do Vietnam. Em outubro de 1967, Lowell participou, ao lado de centenas de pessoas, da Marcha ao Pentágono (aquela marcha seria a temática dos poemas The March I - A Marcha I - e The March II - A Marcha II). Ainda em 1967, o poeta publica Near the Ocean (Perto do Oceano), uma coletânea de poemas mais formal do que qualquer trabalho produzido desde Life Studies (Estudos da Vida). Neste mesmo ano, Lowell assistiu à produção de sua tradução de Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, em Yale (a peça fora publicada dois anos depois). Todavia o trabalho no qual Lowell ficou mais profundamente imerso durante aquele ano foi o diário em verso que seria publicado no ano seguinte com o título de Notebook, 1967-68 (Caderno, 1967-68). Em poemas cuja forma está livremente baseada no soneto (cada qual com quatorze versos aproximadamente em pentâmetro iâmbico, ainda que a maioria em verso branco), Lowell registrou suas reações aos acontecimentos contemporâneos no mundo assim como seus conceitos sobre a história americana e sobre sua família. O livro claramente almeja a algo como o pensamento de Ezra Pound o poema incluindo a história e tem momentos de atordoante sucesso, ainda que alguns dos poemas pareçam excessivamente constrangidos pela forma escolhido por Lowell e pela pressão em manter-se produzindo poemas rapidamente. Notebook (Caderno) é a base para os três livros que Lowell publicou em 1973: History (História), que inclui alguns dos poemas de edições públicas do primeiro livro assim como um número de novos poemas, For Lizzie and Harriet (Para Lizzie e Harriet), que inclui alguns dos poemas sobre sua esposa e sua filha, do volume Notebook (Caderno) e alguns novos poemas documentando o rompimento de seu casamento com Hardwick, e The Dolphin (O Golfinho), que inclui um número de poemas sobre seu casamento com Caroline Blackwood (eles se casaram em 1972). The Dolphin (O Golfinho) ganhou o Prêmio Pulitzer de 1974.
Lowell lecionou em Havard de 1963 a1970. Em 1972, divorciado de Elizabeth Hardwick, casa-se com Caroline Blackwood. A década de 70 encontrou o poeta morando na Inglaterra onde foi membro visitante no All Souls College, Oxford (1970) e leitor visitante nas Universidades de Essex (1970-1972) e Kent (1970-1975).
Lowell morreu de um ataque cardíaco, num táxi, em Nova York, em 12 de setembro de 1977, quando ia visitar Elizabeth Hardwick, após romper com Caroline Blackwood. Neste mesmo ano foi publicado Day By Day (Dia a Dia), uma coletânea de versos livres onde Lowell fala de sua própria história. Day By Day (Dia a Dia) recebeu, postumamente, o National Book Critics Circle Awards (Prêmio do Círculo de Críticos do Livro Nacional), em 1978.
Perfil biobibliográfico elaborado por Dalcin Lima aos 23 de dezembro de 2014, a partir dos sites da Academy of American Poets e Poetry Foundation.
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