(...) a importância de Berryman é de tal modo inegável, que todas as questões relevantes que se discutem à volta da poesia americana têm algum eco na sua poesia. (...) Berryman faz a ponte entre poetas mais eruditos, como Ezra Pound e T. S. Eliot, e poetas com uma dimensão muito experiencial, como os da Beat Generation. E que apesar de não ser muito conhecido, ou “popular”, como Sylvia Plath ou Allen Ginsberg, é absolutamente central para quem lê e conhece a poesia americana. In: site Máquina de Escrever.
A vida de John Berryman é o centro de sua poesia. Tratando com obsessão, tragédia, desejo, comédia irônica, e o sofrimento profundo da vida em si mesma, a poesia de Berryman é brilhante, mas atormentada. Com suas The Dream Songs (As Canções de Sonho), as quais passou 13 anos para concluir, Berryman reinvindicou seu lugar como um dos mais inovadores e importantes poeta americanos do século XX.
John Berryman nasceu John Allyn Smith Jr., em McAlester, Oklahoma, no dia 25 de outubro de 1914, o primeiro filho de John Allyn Smith e Martha Little Smith. O pai de Berryman saiu de seu lar infantil em Minnesota para se restabelecer em Oklahoma, onde ele conheceu e se casou com Little, uma professora primária. Depois de dez anos trabalhando com bancário em Oklahoma, Smith mudou-se com sua família, a qual, então já incluía o segundo filho, Robert Jefferson (nascido em 1917), para a Flórida a fim de se beneficiar com o crescimento econômico que acontecia naquela época. Infelizmente, por volta de meados dos anos de 1920, o crescimento econômico acabou e os empreendimentos financeiros de Smith, no campo da especulação, fracassaram.
Com sua carreira nos negócios oscilando, Smith tornou-se depressivo e ensimesmado. Seu relacionamento com sua esposa, que nunca fora um romance das histórias de amor, tornou-se ainda mais instável e sua esposa começou um relacionamento com John Berryman, o senhorio de Smith. Deprimido e embriagado, Smith cometeu suicídio com um tiro de revólver no dia 26 de junho de 1926. Três meses depois, sua viúva casou-se com Berryman. O jovem John foi, logo em seguida, adotado oficialmente por Berryman e passou a usar o sobrenome de seu padrasto. Os acontecimentos em volta da morte de seu pai, quando Berryman tinha doze anos, afetaram-no profundamente sua vida e sua produção poética.
A família do poeta mudou-se para Nova York em 1926 e, em 1928, Berryman matriculou-se na South Kent School em Connecticut, um internato mais conhecido por seus programas de competição esportiva do que por sua excelência acadêmica. Berryman, que tinha pouca habilidade e nenhum interesse em esportes, não se adaptou de maneira alguma na escola. Sua falta de coordenação aliada a um caso severo de acne, fizeram dele um alvo fácil para assédio. Em 17 de março de 1931, ele tentou suicídio. Apesar daqueles problemas, Berryman distinguiu-se academicamente em South Kent e tornou-se o primeiro garoto na história da escola a se formar mais cedo, não precisando completar o último período.
Em 1932, Berryman entrou para Columbia College (mais tarde a atual Universidade de Columbia) onde recebeu a influência do poeta e erudito Mark Van Doren, que se tornou para Berryman uma figura paterna e um mentor. Berryman era um estudante aplicado e passou a encarar a poesia muito seriamente. Teve, então, vários poemas e resenhas publicadas na Columbia Review (Revista Columbia) e em The Nation (A Nação). Após graduar-se por Columbia College com formação em Inglês, Berryman recebeu a honraria de ser nomeado Kellett Fellow (Membro Kellett), que lhe permitiu estudar em Clare College, em Cambridge, Inglaterra, por dois anos. Durante essa época, ele conheceu escritores como W. B. Yeats, T. S. Eliot, W. H. Auden e Dylan Thomas. Durante seu segundo ano, Berryman ganhou a Oldham Shakespeare Scholarship (Bolsa de Estudos Oldham Shakespeare), uma prestigiada premiação e publicou vários poemas na Southern Review (Revista Sulista).
Em 1939, Berryman achou-se de volta a Nova York, trabalhando meio expediente com editor de poesia de The Nation (A Nação) e como instrutor em Inglês na Universidade Wayne em Detroit (hoje Universidade Estadual Wayne). Em dezembro de 1939, Berryman foi hospitalizado por estafa e sintomas diagnosticados como epilepsia. Por toda a vida, ele continuaria a lutar por paz emocional e mental, uma luta que se fez cada vez mais difícil por sua crescente dependência do álcool. Em 1940, ele aceitou um posto de professor na Universidade de Havard e seus primeiros poemas foram publicados, ao lado de trabalhos de Mary Barnard, Randall Jarrell, W. R. Moses e George Marion O'Donnell na coletânea Five Young American Poets (Cinco Jovens Poetas Americanos). Berryman publicou estes mesmo poemas separadamente em 1942. Recebeu, então, reconhecimento pela precisão técnica de seus versos e alguns críticos elogiaram seu estilo impessoal. Outros críticos acharam que Berryman era muito estruturado, que ele se ocupava demais da forma e de menos do conteúdo e que lhe faltavam emoção, profundeza e substância em sua produção literária.
Em 24 de outubro de 1942, ainda em Harvard, Berryman casou-se com Eileen Patricia Mulligan. No ano seguinte, Berryman deixou Harvard, mas fracassou em imediatamente assegurar uma outra posição desejável. Em meados de 1943, ensinou latim e inglês numa escola preparatória. Todavia, antes que o ano terminasse, Berryman foi convidado pelo poeta Richard Blackmur para integrar a faculdade da Universidade de Princeton como instrutor de Inglês. Ele passaria os próximos dez anos em Princeton.
Após ensinar por um ano, Berryman ocupou-se por dois anos e meio de um estudo independente da crítica textual shakespiriana. Foi designado para ensinar novamente em 1946. O círculo de amigos de Berryman ampliou-se consideravelmente durante sua estadia em Princeton e ele foi professor de escritores como W. S. Merwin, Frederick Buechner e William Arrowsmith. Em sala de aula, ele tornou-se rapidamente famoso por seu estilo carismático de ensinar. Por meados de 1940, Berryman ganhou a reputação de beberrão, mulherengo e de ter um temperamento imprevisível que podia mudar-se de terno para intimidador. Ficava patente para seus amigos íntimos e alunos que seu comportamento excêntrico era uma manifestação de profunda angústia interior. Por todos os anos de 1940, Berryman fez uso de álcool mais e mais para encarar suas inseguranças, confusão e auto desprezo.
The Dispossessed (Os Despossuídos) foi publicado em 1948. Este volume de poemas de Berryman estava repleto de desesperança e desordem, frequentemente usando o holocausto europeu para refletir suas lutas interiores. A sintaxe era rebuscada e os poemas, em geral, de difícil compreensão. Embora vários críticos admitissem o potencial de Berryman, novamente foi criticado por desprender muito energia nas formas técnicas de seus versos e, de certo modo, deixar faltando certa profundidade de sentimentos e percepção. Apesar das críticas misturadas, Berryman recebeu o Sherry Memorial Award (Prêmio Sherry Memorial), da Poetry Society of America (Sociedade de Poesia da América).
Em 1947, a poesia de Berryman encontrou sua voz emocional no verso que ele escreveu sobre um relacionamento extra matrimonial com a esposa de um estudante graduado de Princeton. Publicado apenas em 1967, os Sonnets (Sonetos) de Berryman forneceram um rápido comentário sobre seus conflitantes sentimentos de júbilo, culpa, ansiedade e esperança. Os sonetos são de forma petrarquiana e geralmente são agitados e distorcidos. A forma inovadora permite ao leitor sentir o conflito interior de um amante obcecado. Berryman usou o nome Lise para o personagem feminino, cujo nome verdadeiro era Chris. Alguns estudiosos sugerem que ele estava usando o estilo elisabetano do diagrama para mentira (lies, em inglês). Os sonetos foram reimpressos postumamente em 1988 nos Collected Poems (Poemas Colecionados), 1937-1972 sob o título de Sonnets to Chris (Sonetos para Chris).
O trabalho seguinte de Berryman, Homage to Mistress Bradstreet (Homenagem à Senhora Bradstreet), iniciados em 1948, foram primeiramente publicados em 1953 na Partisan Review (Revista Partisan) e, então, na forma de livro em 1956. O poema é baseado na vida da poeta americana do século XVII, Anne Bradstreet. O poeta cita adiante Bradstreet e então se apaixona por ela. O que se segue é uma mistura de acontecimentos históricos e embelezamento artístico no qual Berryman encontra e responde a poeta morta. O leitor experimenta Bradstreet como uma personagem trágica e ainda criativa que se rebela contra o seu pai, seu marido e contra Deus, equiparando-se a própria existência trágica e critiva de Berryman. O poema é longo e contém 57 estrofes de oito versos rimados e está dividido em cinco seções: a invocação de Berryman da poeta Bradstreet, um monólogo de Bradstreet, um diálogo dos dois poetas, um outro monólogo de Bradstreet e, finalmente, uma conclusão por Berryman. Homage to Mistress Bradstreet (Homenagem à Senhora Bradstreet) recebeu altos elogios da crítica, a qual o saudou como o mais maduro trabalho de Berryman, uma tentativa bem-sucedida do estilo poético de The Dispossessed (Os Despossuídos). Críticos reconheceram Berryman, assim como seu companheiro e amigo o poeta Robert Lowell, como os melhores poetas americanos desde T. S. Eliot.
Em 1950, Berryman ensinou na Universidade de Washington e foi, então, indicado para Elliston Professor of Poetry (Professor de Poesia Elliston) na Universidade de Cincinnati para o ano acadêmico seguinte. Neste mesmo ano publicou uma biografia crítica de Stephen Crane, considerado por alguns críticos como uma prosa torturada que se estriba excessivamente no modelo psicológico de Berryman para interpretação literária. Outros críticos, todavia, acreditava ser este um trabalho importante e digno de nota. Em princípios de 1950, Berryman também continuava sua pesquisa shakespiriana. Escreveu ainda sobre Christopher Marlowe, Monk Lewis, Walt Whitman, Theodore Dreiser e Saul Bellow. Em 1950, recebeu o prêmio da Academia Americana para poesia.
Embora a produção poética e carreira de professor de Berryman estivessem em ascensão, sua obsessão por uma auto crítica, sua crescente dependência alcoólica e notória atividade de mulherengo estavam provocando uma tensão em sua vida pessoal. Apesar de ter procurado ajuda de um psiquiatra e tentado terapia em grupo, Berryman encontrou um pequeno alívio de seus conflitos interiores ou de sua dependência do álcool. No outono de 1953, depois de dez anos de casamento, sua primeira esposa o deixou.
Na primavera de 1954, ensinou na Oficina de Trabalho de Escritores, na Universidade de Iowa, depois passou o verão seguinte em Harvard. Sua reputação de professor carismático, intenso e apaixonado seguia-o de sala de aula para sala de aula. Ele voltou para a Universidade de Iowa no outono, ma foi forçado e renunciar depois de passar uma noite na cadeia. Voltando para casa bêbado, não conseguiu achar sua chave e tentou entrar em casa a força. A mulher do senhorio chamou a polícia e Berryman foi acusado de provocar desordem. Dois dias depois, pediu demissão do cargo na universidade.
Em 1955, Allan Tate, um poeta que Berryman admirava profundamente, convidou-o para a Universidade de Minnesota. Berryman foi indicado leitor em humanidades. Aquele seria o lar de Berryman pelo resto de sua vida. Na Universidade de Minnesota, Berryman se tornou extremamente interessado na análise de sonhos, que ele estudou profundamente e que consequentemente levou-o ao seu maior trabalho, The Dream Songs (Canções de Sonho) (1969).
Em 1956, uma semana depois de ter-se divorciado de sua primeira esposa, Berryman casou-se com Anne Levine, de apenas 24 anos de idade. O relacionamento não foi bem-sucedido e o casal brigava constantemente. Em 1957, Berryman foi promovido a professor associado e participou de uma excursão à Índia patrocinada por um departamento estatal. No ano seguinte, de volta à Minnesota, foi hospitalizado por estafa e crise nervosa. Berryman seria hospitalizado, pelo menos, uma vez no ano pelo resto de sua vida. Em 1959, após um ano de sua separação de fato, ele e sua esposa divorciaram-se. Paul, o filho do casal, tinha dois anos à época. Em 1961, Berryman casou-se com Kate Donahue, de apenas 22 anos de idade. Deste casamento nasceram Martha e Sara.
The Dream Songs (Canções de Sonho) foi primeiramente publicado em duas partes. 77 Dream Songs (77 Canções de Sonho) (1964) deram à Berryman o Prêmio Pulitzer. His Toy (Seu Brinquedo), His Dream (Seu Sonho), His Rest (Seu Descanso) (1968), a sequência para setenta e sete Song Dreams (Sonhos de Canção), completaram a série The Dream Songs (Canções de Sonho), que foi lançada em 1969, e ganhou o National Book Award (Prêmio Nacional do Livro) e o Bollingen Prize (Prêmio Bollingen). São 385 canções, sendo cada canção composta de estrofes de trinta e seis versos. As canções são uma narrativa de um personagem, Henry, que fala dele mesmo na primeira, segunda e terceira pessoas e, às vezes, encontra um amigo sem nome que frequentemente lhe dá conselhos inúteis e humorísticos. Embora sustentasse que Henry não era ele mesmo, mas um americano branco, de meia idade, às vezes, aparecendo com um humor negro, que sofreu uma tremenda perda, o poema é obviamente uma reflexão dos próprios pensamentos de Berryman, suas obsessões, dores e frequente entendimento cômico escuro da vida. As canções são a própria auto destrutiva vida de Berryman através de um único estilo de verso criado por ele mesmo. A sintaxe é desajeitada e exigente para o leitor, ainda que intensa e dinâmica.
Em 1969, Berryman foi indicado Professor de Humanidades em Regents e a Universidade Drake concedeu-lhe um grau honorífico. Com The Dream Songs (Canções de Sonho) Berryman foi amplamente reconhecido como um grande poeta americano. Infelizmente seu trabalho seguinte carecia do brilhantismo de The Dream Songs (Canções de Sonho). Em Love & Fame (Amor & Fama) (1970) sua volta a forma lírica trouxe um verso de vanguarda que era, às vezes, espirituoso e irônico e, ainda, vulgar e ofensivo. Berryman continuava a abusar do álcool e com frequência durante suas récitas, suas palavras eram grosseiras e suas emoções devidas os efeitos de sua bebida. Ele internou-se num centro de reabilitação de alcoólatras pela primeira vez em 1969 e três vezes em 1970. Ele compôs Recovery (Recuperação), (publicado em 1973), um romance autobiográfico de um alcoólatra em recuperação, que os críticos acreditaram que foi a mais importante enquanto narrativa sobre a vida pessoal em forma de romance. Seu último livro de poemas, Delusions, Etc. (Desilusões Etecera) continha poemas individuais que revelavam o melhor de Berryman, mas como um todo não agradou os críticos nem se comparou em importância aos seus trabalhos anteriores, Homage to Mistress Bradstreet (Homenagem à Senhora Bradstreet) e The Dream Songs (Canções de Sonho).
Em 1971, Berryman foi agraciado com uma Senior Fellowship (Bolsa Sênior) do National Endowment for the Humanities (Doação Nacional para Humanidades), dando-lhe condições para concluir sua biografia crítica sobre Shakespeare. Infelizmente, ele não pôde encontrar sua maneira do mesmo desespero e complacência que fizeram sua poesia única e forte.
Berryman, ao lado de Robert Lowell, foi identificado com o movimento conhecido como Poesia Confessional – e, como todo poeta já identificado com um movimento, rejeitava o rótulo. Sua vida explicava sua poesia. E ele mesmo, publicamente, afirmou:
O artista é extremamente sortudo que é presenteado com a pior provação possível, a qual verdadeiramente não o matará. Neste momento, ele é o negócio.
Mas é a arte, não o sofrimento, que importa: como o título sugere, o material vem através daquilo que Freud chamou de trabalho do sonho. De qualquer forma, a arte redime o sofrimento.
Em 7 de janeiro de 1972, ainda assombrado pelo suicídio de seu próprio pai e com sua filha mais nova de seis meses de idade, Berryman pôs fim a sua vida ao pular da Washington Avenue Bridge (Ponte da Avenida Washington) em Minneapolis, Minnesota.
Perfil bibliográfico elaborado por Dalcin Lima a partir do texto publicado no site Your Dictionary. Disponível em:< http://biography.yourdictionary.com/john-berryman>. Acesso em: 28. Dez. 2014.
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