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CANÇÃO DE SONHO 14 E OUTRAS SETE CANÇÕES DE JOHN BERRYMAN


CANÇÃO DE SONHO 14 (*)
 
A vida, amigos, é um tédio. Não devemos dizê-lo.
Afinal, o céu se acende, o verde mar anseia,
nós mesmos acendemos e ansiamos,
e ademais disse-me a mãe em pequeno
(repetidamente) 'Confessar-se entediado
significa que não tens

Recursos Interiores´. Concluo agora que não tenho
recursos interiores, pois estou entediado às profundas.
As gentes me entediam,
a literatura me entedia, especialmente a grande literatura,
Henry me entendia, com seus apertos & apuros
tão graves quanto os de Aquiles,

que ama as gentes e a arte valorosa, que me entendiam.
E as plácidas colinas, & o gim, parecem uma chatice
e de algum modo um cachorro
levou-se a si próprio & ao rabo consideravelmente embora
para as montanhas ou o mar ou o céu, deixando
para trás: a mim, balanço.

Tradução de Ismar Tirelli Neto. In: Revista Modo de Usar. Disponível em:. Acesso: 28. Dez. 2014.

(*) O título foi colocado por Dalcin Lima, uma vez que Ismar Tirelli Neto apenas numerou cada poema traduzido, sem fazer menção ao título em inglês, qual seja, Dream Song.


DREAM SONG 14

Life, friends, is boring. We must not say so.
After all, the sky flashes, the green sea yearns,
we ourselves flash and yearn,
and moreover my mother told me as a boy
(repeatingly) 'Ever to confess you're bored
means you have no

Inner Resources.' I conclude now I have no
inner resources, because I am heavy bored.
Peoples bore me,
literature bores me, especially great literature,
Henry bores me, with his plights & gripes
as bad as achilles,

who loves people and valiant art, which bores me.
And the tranquil hills, & gin, look like a drag
and somehow a dog
has taken itself & his tail considerably away
into mountains or sea or sky, leaving
behind: me, wag.

DREAM SONG 14. In: Revista Modo de Usar. Disponível em:< http://revistamododeusar.blogspot.com.br/2010/07/john-berryman-1914-1972.html>. Acesso: 28. Dez. 2014.

CANÇÃO DE SONHO 22 (**)

Eu sou o homem pequenino que fuma & fuma.
Eu sou a garota que, apesar de sabida.
Eu sou o rei da piscina.
Eu sou tão sábio que pedi costurassem minha boca.
Eu sou um oficial do governo & um maldito idiota.
Eu sou uma dama que leva na esportiva.

Eu sou o inimigo da mente.
Eu sou o vendedor de automóveis e te amo.
Eu sou um câncer adolescente, com um plano.
Eu sou o homem desmaiado.
Eu sou a mulher poderosa como um zôo.
Eu sou dois olhos parafusados ao aparelho, cuja cega –

É Independência.
A cobrar: enquanto o moribundo,
abandonado por teu criador, que perdoa,
vai arfando “Thomas Jefferson ainda vive”
em vão, em vão, em vão.
Eu sou Henry Gatinho! Meus bigodes voam.

(**) Esta canção e as canções seguintes (26,29 e 55) também são traduções de autoria de Ismar Tirelli Neto, e estão postados no site Revista Modo de Usar.


DREAM SONG 22

I am the little man who smokes & smokes.
I am the girl who does know better but.
I am the king of the pool.
I am so wise I had my mouth sewn shut.
I am a government official & a goddamned fool.
I am a lady who takes jokes.

I am the enemy of the mind.
I am the autosalesman and love you.
I am a teenage cancer, with a plan.
I am the blackt-out man.
I am the woman powerful as a zoo.
I am two eyes screwed to my set, whose blind –

It is the Fourth of July.
Collect: while the dying man,
forgone by your creator, who forgives,
is gasping “Thomas Jefferson still lives”
in vain, in vain, in vain.
I am Henry Pussy-cat! My whiskers fly.

DREAM SONG 22. In: Revista Modo de Usar. Disponível em:< http://revistamododeusar.blogspot.com.br/2010/07/john-berryman-1914-1972.html>. Acesso: 28. Dez. 2014.


CANÇÃO DE SONHO 26
As glórias do mundo me bateram, fizeram-me ária, certa vez.
- Que então, Mr. Bones?
se tu num se incomoda.
- Henry. Henry tomou interesse pelo corpo das mulheres,
suas virilhas foram & foram palco de feitos estupendos.
Estupor. De joelhos, meu bem. Ore.

Todos as saliências & suavidades de, Deus meu,
o agachar-se & a confusão isto enxameava em Henry,
certa vez.
- Que então, Mr. Bones?
tu parece como que excitado.
Descaiu Henry, as costas no crime que origina: arte, rima

além dum sentimento do alheio, Deus meu, Deus meu,
e inveja da honra (vivente) de sua terra.
o que haveria de mais estranho?
e desgosto das gangues prosperantes & de heróis.
- Que então, Mr. Bones?
Tive uma sorte veramente fabulosa. Morri.


DREAM SONG 26

 
The glories of the world struck me, made me aria, once.
-- What happen then, Mr. Bones?
if be you cares to say.
-- Henry. Henry became interested in women's bodies,
his loins were & were the scene of stupendous achievement.
Stupor. Knees, dear. Pray.

All the knobs & softnesses of, my God,
the ducking & trouble it swarm on Henry,
at one time.
-- What happen then, Mr. Bones?
you seems excited-like.
-- Fell Henry back into the original crime: art, rime

besides a sense of others, my God, my God,
and jealousy for the honour (alive) of his country,
what can get more odd?
and discontent with the thriving gangs & pride.
-- What happen then, Mr. Bones?
-- I had a most marvellous piece of luck. I died.

DREAM SONG 26. In: Revista Modo de Usar. Disponível em:< http://revistamododeusar.blogspot.com.br/2010/07/john-berryman-1914-1972.html>. Acesso: 28. Dez. 2014.


CANÇÃO DE SONHO 29

Sentou-se, certa vez, no coração de Henry algo
tão pesado, que se tivesse cem anos
& mais, & aos prantos, insone, por todo esse tempo
Henry não poderia tornar o Bem.
Recomeça e sempre em seus ouvidos,
a pequena tosse em algum lugar, um odor, um badalo.

E há outra coisa que ele tem em mente
como um grave rosto de Siena, milenar
não conseguiria borrar sua censura quieta e perfilada. Horrendo,
olhos abertos, ele atenta, cego.
Todos os sinos dizem: tarde demais. Isto não se pranteia:
pensar.

Mas nunca Henry, conforme pensara,
dá cabo de alguém e esquarteja seu corpo
e esconde os bocados onde possam encontrá-la.
Ele sabe: verificou a todos, & ninguém está desaparecido.
Com frequência, ao amanhecer, ele faz as contas.
Ninguém nunca está desaparecido.


DREAM SONG 29

There sat down, once, a thing on Henry's heart
so heavy, if he had a hundred years
& more, & weeping, sleepless, in all them time
Henry could not make good.
Starts again always in Henry's ears
the little cough somewhere, an odour, a chime.

And there is another thing he has in mind
like a grave Sienese face a thousand years
would fail to blur the still profiled reproach of. Ghastly,
with open eyes, he attends, blind.
All the bells say: too late. This is not for tears;
thinking.

But never did Henry, as he thought he did,
end anyone and hacks her body up
and hide the pieces, where they may be found.
He knows: he went over everyone, & nobody's missing.
Often he reckons, in the dawn, them up.
Nobody is ever missing.

DREAM SONG 29. In: Revista Modo de Usar. Disponível em:< http://revistamododeusar.blogspot.com.br/2010/07/john-berryman-1914-1972.html>. Acesso: 28. Dez. 2014.

CANÇÃO DE SONHO 55

Peter não é amigável. Dá-me olhares de soslaio.
A arquitetura está longe de reconfortar.
Sinto-me inquieto.
É pena,-- a entrevista começou tão bem:
mencionei coisas vilanescas, ele mandou-as embora
e mal preparou um martini

estranhamente precisado. Tratamos de assuntos indiferentes --
a saúde de Deus, o vago inferno do Congo,
a energia de John,
questões de anti-matéria. Senti-me bem.
Mas veio uma mudança trás para frente. Caiu um frio.
A conversa ralentou,

morreu, e ele começou com os olhares de soslaio.
'Cristo', pensei, 'e agora?' e bem teria pedido mais um
mas não ousei.
Senti que minha petição fracassava. Está escurecendo,
um outro som se sobrepondo. Suas últimas palavras foram:
'Nós traímos a mim'.


DREAM SONG 55

Peter's not friendly. He gives me sideways looks.
The architecture is far from reassuring.
I feel uneasy.
A pity, -- the interview began so well:
I mentioned fiendish things, he waved them away
and sloshed out a martini

strangely needed. We spoke of indifferent matters --
God's health, the vague hell of the Congo,
John's energy,
anti-matter matter. I felt fine.
Then a change came backward. A chill fell.
Talk slackened,

died, and he began giving me sideways looks.
'Christ', I thought, 'what now?” and would have askt for another
but didn't dare.
I feel my application failing. It's growing dark,
some other sound is overcoming. His last words are:
'We betrayed me'.

DREAM SONG 55. In: Revista Modo de Usar. Disponível em:< http://revistamododeusar.blogspot.com.br/2010/07/john-berryman-1914-1972.html>. Acesso: 28. Dez. 2014.

CANÇÃO DE SONHO 105

Como um garoto acreditei na democracia: eu
não via outra alternativa- ensinando em Princeton eu
apliquei-a
numa sondagem para um longo romance: por um voto-
E Tudo o Vento Levou, votaram todos: rangi um «não»
e sentámo-nos com Guerra e Paz.

Como um homem acreditei na democracia(ninguém
sabe sempre tudo) : num dia de folga
o meu assistente, chamado James Dow,
& Eu estivemos tagarelando, em desacordo,
eu perguntei curioso «Qual é a sua verdadeira política?»
«Oh, eu sou monárquico»

Finalizando a sua dissertação, em Ciência Política.
Resigno-me. O desprezo universal pelo Sr.Nixon,
de quem nunca gostei mas o qual
vigilante enérgico serviu-nos anos a fio debaixo de segredos
desde a invasão da dinastia K. Deixem-nos ter um Rei
talvez, antes de alguns votos estúpidos.

Tradução de J. T. Parreira. In: Poeta Salutor. Disponível em:< http://poetasalutor.blogspot.com.br/2007/01/traduo-john-berryman.html>. Acesso: 28. Dez. 2014.

DREAM SONG 105

As a kid I believed in democracy: I
'saw no alternative'—teaching at The Big Place I ah
put it in practice:
we'd time for one long novel: to a vote—
Gone with the Wind they voted: I crunched 'No'
and we sat down with War & Peace.

As a man I believed in democracy (nobody
ever learns anything): only one lazy day
my assistant, called James Dow,
& I were chatting, in a failure of meeting of minds,
and I said curious 'What are your real politics?'
'Oh, I'm a monarchist.'

Finishing his dissertation, in Political Science.
I resign. The universal contempt for Mr Nixon,
whom never I liked but who
alert & gutsy served us years under a dope,
since dynasty K swarmed in. Let's have a King
maybe, before a few mindless votes.

DREAM SONG 105. In: All Poetry. Disponível em:< https://allpoetry.com/Dream-Song-105:-As-a-kid-I-believed-in-democracy:-I >. Acesso: 28. Dez. 2014.


CANÇÃO DE SONHO 118
 
Ele questionou-se: Amarei eu? todos estes aplausos,
jovens beldades sentadas a meus pés & tudo,
e tudo.
Cansa-me, ponderou: ou quebro as regras
e amo-me a mim próprio, ou as estúpidas questões que me colocam
levar-me-ão ao homicídio –

tantas beldades, de um lado ao outro,
os muros atrás de mim, para os quais rastejo
fora da minha voz repetitiva –
o micro dobrado para baixo, os perguntadores tolos caem
sobre si próprios numa audiência de cinzas
e Henry volta a regozijar-se

no escuro e no sossego, e uma única beldade solitária
que nunca se aproximara de Henry enquanto a populaça
se reunira à sua volta:
viu para além do óbvio, ela viu que ele estava só
e esperou que ele se escondesse atrás do muro
e tudo.

Tradução de HMBF. In: Insónia. Disponível em:< http://antologiadoesquecimento.blogspot.com.br/2005/06/dream-song-118.html>. Acesso: 28. Dez. 2014.

DREAM SONG 118

He wondered: Do I love? all this applause,
young beauties sitting at my feet & all,
and all.
It tires me out, he pondered: I'm tempted to break laws
and love myself, or the stupid questions asked me
move me to homicide —

so many beauties, one on either side,
the wall's behind me, into which I crawl
out of my repeating voice —
the mike folds down, the foolish askers fall
over theirselves in an audience of ashes
and Henry returns to rejoice

in dark & and still, and one sole beauty only
who never walked near Henry while the mob
was at him like a club:
she saw through things, she saw that he was lonely
and waited while he hid behind the wall
and all.

DREAM SONG 118. In: little donkey’s getting retless. Disponível em:< http://florrible-and-misrabella.tumblr.com/post/13282099877/ohtakemeon-john-berryman-dream-song-118-he>. Acesso: 28. Dez. 2014.


CANÇÃO DE SONHO 100

Como esta mulher teve coragem, como teve
Coragem, Henry se preocupava numa noite
Quente e frenética de oito de julho, -
De onde veio, por acaso o Senhor franziu o cenho
Sobre o berço antigo pensando "Esta
vá fazer antes de morrer

por dois e setenta anos de gastas humilhações
pelo menos", e com seu alarido golpeou uma promessa?
naquela cidade distante
quem avistou minha mãe com pena & raiva
que ninguém suportaria igual peregrinação,
rosnou Henry suando, crescido

mas não crescido com o hábito da bondade desta mulher
em sua grande força, em sua esperança sobre humana,
não, não, habituado em absoluto.
Proclamo um mistério, resmungou para si,
do amor, e pegou o whiskey da prateleira
e a bebeu de um grande trago, grande trago.

Tradução de Dalcin Lima apoiado na versão espanhola de Yanina Audisio. In: Outro Páramo. Disponível em:< http://www.otroparamo.com/cinco-poemas-de-john-berryman/>. Acesso: 28. Dez. 2014.


DREAM SONG 100

How this woman came by the courage, how she got
the courage, Henry bemused himself in a frantic hot
night of the eight of July,
where it came from, did once the Lord frown down
upon her ancient cradle thinking ‘This one
will do before she die

for two and seventy years of chipped indignities
at least,’ and with his thunder clapped a promise?
In that far away town
who looky upon my mother with shame & rage
that any should endure such pilgrimage,
growled Henry sweating, grown

but not grown used to the goodness of this woman
in her great strength, in her hope superhuman,
no, no, not used at all.
I declare a mystery, he mumbled to himself,
of love, and took the bourbon from the shelf
and drank her a tall one, tall.

DREAM SONG 100. In: Otro Páramo. Disponível em:< http://www.otroparamo.com/cinco-poemas-de-john-berryman/>. Acesso: 28. Dez. 2014.


























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Sobre Jus et Humanitas

Sou Dalcin Lima, advogado, tradutor e um apaixonado por Línguas e Literatura, especialmente poesia. Sou protetor de animais em geral.
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