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UMA BREVE INTRODUÇÃO À POESIA CONFESSIONAL

 
A poesia Confessional e a poesia do pessoal ou do "Eu". Este estilo de composição poética desenvolveu-se nos fins de anos de 1950 e princípios de 1960 e está associado a poetas tais como Robert Lowell, Sylvia Plath, Anne Sexton e W. D. Snodgrass. O termo Confessional foi usado primeiramente por M.L. Rosenthal numa resenha de 1959 de Lowell Life Studies (Estudos da Vida), a coletânea de poemas na qual Robert Lowell revelou seus conflitos com uma doença mental e com um casamento problemático. Estes relatos altamente pessoais de sua vida e laços familiares tiveram um impacto significante na poesia americana.

Ainda que o rótulo "poesia confessional", cunhado por M.L. Rosenthal, tenah se concentrado na obra Life Studies, de Robert Lowell, publicado em 1959, foi Heart's Needle (Agulha do Coração), de W. D. Snodgrass, publicado no mesmo anos, foi a pedra angular do movimento confessional, ainda que Snodgrass antipatizasse o rótulo "confessional" e seus nuances religiosos. Heart's Needle trata diretamente da própria vida de Snodgrass, particularmente da perda de sua filha Cynthia numa cruel batalha pela custódia com sua primeira esposa. O título do poema demonstra muito formidavelmente o alcance o poder deste trabalho de Snodgrass.

Considerado por muito como um dos mais influentes poetas da última metade do século XX, Lowell e seu trabalho Life Studies tiveram profundo impacto que é perceptível não apenas diretamente na poesia de seus contemporâneos, como W. D. Snodgrass, Sylvia Plath e Anne Sexton, mas também no tratamento de detalhes biográficos por incontáveis poetas que viriam em seguida.

A poesia Confessional da metade do século XX tratou de assuntos subjetivos que antecipadamente não tinham sido abertamente discutidos na poesia americana. Experiências particulares com sentimentos sobre a morte, traumas, depressão e relacionamentos foram tratados neste tipo de poesia, frequentemente de uma maneira autobiográfica. Sexton, em particular, interessou-se pelo aspecto psicológico da poesia, tendo começado a escrever por sugestão de seu terapeuta.

Os poetas confessionais não estavam meramente grafando suas emoções no papel; habilidade e estrutura foram extremamente importantes em seu trabalho. Enquanto seu tratamento ao eu poético pode ter sido inovador e tenha chocado alguns leitores, estes poetas mantiveram um alto nível de habilidade artística através de sua atenção cuidadosa para/e no uso da prosódia.

Um dos mais bem conhecidos poemas de uma poeta confessional é "Papaizinho", de Sylvia Plath. Endereçado ao seu pai, o poema possui referências ao Holocausto, mas usa um ritmo de verso monótono que repete as rimas das creches infantis:

Daddy, I have had to kill you.
You died before I had time--
Marble-heavy, a bag full of God,
Ghastly statue with one gray toe
Big as a Frisco seal

Paizinho, eu tive de matar-te,
Morreste antes que eu tivesse tempo,
Mármore pesado, saco repleto de Deus,
Estátua medonha de dedo grande cinzento
Do tamanho de uma foca de Frisco (tradução inédita de Pedro Calouste).


Um outro poeta confessional desta geração foi John Berryman. Seu trabalho principal foi The Dream Songs (As Canções de Sonho), que consiste de 385 poemas sobre um personagem chamado Henry e seu amigo Mr. Bones. Muitos dos poemas possue elementos da própria vida e traumas de Berryman, tal como o suicídio de seu pai. Abaixo eis um trecho da "Dream Song 1" (Canção de Sonho 1):

All the world like a woolen lover
once did seem on Henry’s side.
Then came a departure.
Thereafter nothing fell out as it might or ought.
I don’t see how Henry, pried
open for all the world to see, survived.

Todo o mundo como uaa amante de lã
alguma vez pareceu estar do lado de Henry.
Logo sobreveio um partir.
Desde então nada caiu como podia ou devia.
Não entendo como Henry, aberto
Com alavancadas para que todo mundo visse, pode sobreviver (tradução de Dalcin Lima).


Os poetas confessionais dos anos de 1950 e de 1960 foram os precursores de um tipo de escrita que mudou para sempre o panorama poético americano. Com seus vanguardismos profundos e diretos, com um tratamento pessoal dado à temas não convencionais da época, os confessionais sedimentaram o caminho para que poetas de hoje se expressassem de maneira nunca antes imaginada. Estes espíritos auto reflexivos e imaginativos, que ousaram desviar-se da norma, deixaram a herança da melhor produção poética escrita no pós-guerra. É certo ainda que os confessionais foram os pioneiros num tipo de poesia que mudou o panorama da poesia norte-americana. A tradição que criaram, a auto exposição ousada e, às vezes, chocante, foi a maior influência em gerações de escritores desde então e perpetua-se atualmente em poetas como Marie Howe, Sharon Olds, Tory Dent e Ted Berrigan. Pode-se citar como poetas pertencentes a esta corrente Frederick Seidel e o britânico Ted Hughes, ex marido de Sylvia Plath.

Resumindo, a poesia confessional é, na visão de Caroline Hall, um específico e legítimo movimento do século XX e é, por sua vez, uma moderna manifestação de uma tradição progressiva, uma reação contra moda previamente dominante. Não devíamos ficar surpresos, diz a autora, que seu advento tenha provocado assim uma violenta e emocional reação entre críticos e leitores igualmente. Tais reações foram, sem dúvida, motivadas e inspiradas, em parte, pela natureza bastante pessoal, violenta e emocional da poesia em si mesma.

O confessionalismo foi um tipo de poesia sui generis nas letras norte-americanas e, embora tenha influenciado escritores além-fronteiras, não chegou a firmar-se como escola literária. No Brasil, a voz mais expressiva do confessionalismo foi Ana Cristina César. Nascida no Rio de Janeiro no Rio de Janeiro em 2 de junho de 1952, desde cedo, demonstrado talento e gosto pela arte de escrever. Já em 1959, tinha as primeiras poesias publicadas no “Suplemento Literário” da “Tribuna da Imprensa”. Foi Licenciada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, em 1975, obtendo o grau de Mestre em Comunicação, pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1979 e Master of Arts in Theory and Practice of Literary Translation, pela Essex University, na Inglaterra em 1980. Escreveu para revistas e jornais alternativos, saiu na antologia 26 Poetas Hoje, de Heloísa Buarque, publicou, pela Funarte, pesquisa sobre literatura e cinema, fez mestrado em comunicação, lançou seus primeiros livros em edições independentes: Cenas de Abril e Correspondência Completa. Dez anos depois, outra vez a Inglaterra, onde, às voltas com um M.A. em tradução literária, escreveu muitas cartas e editou Luvas de Pelica. Ao retornar, descobriu São Paulo e fixou residência no Rio. Trabalhou em jornalismo, televisão e escreveu A Teus Pés. Suicidou-se no dia 29 de outubro de 1983, atirando-se do apartamento dos pais.

Armando Freitas Filho no livro "Inéditos e Dispersos - poesia/Prosa" Editora Brasiliense – 1985, assim descreve Ana Cristina César: ­ Cristina encarava a modernidade. Talvez por isso tenha morrido cedo – pura passagem permanente – muitas asas e um desdém pelo que poderia ser raiz. O lugar que ocupa é na linha do horizonte - virtual e veloz. Seu verso, que pertenceu à vertente cultivada da geração que apareceu em 70, é, hoje, pedra de toque para toda poesia que se quer nova; com seus motivos e matizes estilizadas que se deixam acompanhar, ao fundo, por uma brusca e inusitada melodia que parece ter sido feita pela mistura de cristais, heavy metal e tafetá. A obra é breve, um cinema essencial, e depressa. Morria de sede no meio de tanta seda. Nunca nos esquecemos de sua paixão acesa e seca. O que mais queima: a pedra de gelo ou o ferro em brasa? Vulcão de neve. Ela não foi - ela fica - como uma fera.


Texto traduzido e adaptado por Dalcin Lima a partir do site da Academy of American Poets aos 26 de julho de 2016.
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Sobre Jus et Humanitas

Sou Dalcin Lima, advogado, tradutor e um apaixonado por Línguas e Literatura, especialmente poesia. Sou protetor de animais em geral.
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