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Elizabeth Bishop



Elizabeth Bishop torna-se a figura emblemática da mulher que quebra tabus sociais ao mesmo tempo em que se debate na resolução de graves problemas de saúde. (...) É importante destacar que Bishop estava constantemente de partida e nos seus rituais viajeiros a poetisa levava consigo cada viagem, inclusive incorporando-a em sua produção poética. Não é à toa que muitas de suas obras têm nomes ligados à geografia, como os títulos North & South, Questions of Travel, Geography III (Santos, Tiago Ribeiro dos. Elizabeth Bishop: notas biográficas de uma escritora norte-americana. In: Diálogos & Ciência. www. f t c .br /di a logos).

Elizabeth Bishop quase não conheceu seus pais. Seu pai morreu com a moléstia de Bright oito meses depois que ela nasceu em Worcester, Massachusetts, em 8 de fevereiro de 1911. Sua mãe, Gertrude, nunca se recuperou da morte do marido William e sofreu um colapso nervoso e, por fim, enlouqueceu. Ela foi internada num sanatório quando Elizabeth Bishop tinha cinco anos.

Uma das mais antigas e mais vívidas das lembranças de sua mãe era de um passeio num cisne a pedal no Jardim Público de Boston. A mãe estava vestida de preto como se vestira desde que seu marido morrera. Um dos cisnes de verdade remando a nossa volta bicou o dedo de minha mãe quando ela ofereceu um amendoim, Bishop escreveu. Eu me lembro do buraco na luva preta e uma gota de sangue nela. Assim foi o princípio do hábito de uma vida inteira de observar os detalhes sempre significantes de cada simples minuto.

Muito de seus primeiros anos foram vividos com parentes, de quem Bishop, tempos depois, descreve como tomando conta dela porque eles sentiam dó dela. Ela nunca ficou num lugar por bastante tempo, nem sempre por escolha. Seu repentino deslocamento de lares que tomavam cuida de sua infância, de seus avós maternos na cidade costeira de Great Village, Nova Scotia, foi uma traumática experiência. Ela gostava do Canadá e estava infeliz na rica residência dos Bishop em Worcester, onde seu pai nascera. Ela escreveu no póstumo The Country Mouse (A Casa de Campo):

I had been brought back unconsulted and against my wishes … to be saved from a life of poverty and provincialism, bare feet, suet puddings, unsanitary school slates, perhaps even from the inverted r's of my mother's family. With this surprising extra set of grandparents, until a few weeks ago no more than names, a new life was about to begin.


Eu fui trazida de volta sem me consultar e contra minha vontade … ser salva de uma vida de pobreza e provincialismo, descalça, pastelão de gordura, das ardósias sem higiene da escola, talvez ainda dos “rs” invertidos da família de minha mãe. Com este conjunto extra de avós, até algumas semanas atrás não mais que nomes, uma nova vida estava prestes a começar.

Em The Country House (A Casa de Campo), uma narrativa humorística dos nove meses vividos como uma hóspede relutante na casa de Sarah e John Wilson Bishop, um bem sucedido empreiteiro que tinha construído prédios em Harvard e Princeton, Bishop apresenta algumas das cenas que encontram sua forma em seus poemas. Uma das mais comoventes foi a sala de espera do consultório do dentista para o qual ela acompanhara sua tia Jenny (Consuelo no poema). Embora ela não tivesse ainda sete anos, ela já era capaz de ler e estava navegando pelas páginas de uma National Geographic, de 1918, enquanto sua tia estava sendo atendida.

Suddenly, from inside, came an oh of pain—Aunt Consuelo's voice—

De repente, de dentro, veio um oh de dor – a voz de Tia Consuelo – 


Aquilo não a surpreendeu porque ela achava sua tia uma louca, uma mulher tímida. O que a pegou desprevenida era a constatação de que ela era sua tia louca … caindo, caindo … no frio, no espaço azul escuro .

…I felt: you are an I, you are an Elizabeth, you are one of them.

...Eu senti: você é um eu, você é uma Elizabeth, você é um deles.

Foi a primeira vez que ela se referira a si mesma em sua poesia.

Bishop era mais que observadora com um vívido sentido de lugar. Ela visitou a Nova Scotia de sua infância, passou dois anos na Europa imediatamente após se formar por Vassar e viajou para a África do Norte, México, Key West, e Brasil. Ela desembarcou no Rio de Janeiro a caminho enquanto velejava para o Estreito de Magalhães, após sofrer uma violenta reação alérgica ao comer um caju.

Helder Ferreira, numa resenha do Cult, descreve dessa sua chegada de Elizabeth ao Brasil seu reencontro com a a arquiteta Lota de Macedo Soares:

Em 1951, para tentar escapar de um bloqueio criativo, a poeta norte-americana Elizabeth Bishop resolvera visitar uma amiga dos tempos de faculdade que estava morando no Brasil. Sua ideia inicial era passar uma semana no Rio de Janeiro e depois seguir viagem para outros lugares da América do Sul, mas acabou ficando lá por quase 15 anos. Seu motivo tinha nome e sobrenome: Maria Carlota Costallat de Macedo Soares, a arquiteta carioca responsável pela construção do Parque do Flamengo, mais conhecida como Lota, com quem se relacionou dos 40 aos 55 anos, em meio a uma espécie de triângulo amoroso com a ex-colega de faculdade, Mary Morse, com quem, até então, Lota era “casada”.

Em fins dos anos de 1960, o relacionamento de Bishop com Lota Macedo Soares estava fragmentado. Bishop decide volta para os Estados Unidos, de onde recebera uma proposta de lecionar numa universidade e ignora os pedidos de Lota para que a mesma ficasse. Era o final do romance de tantos anos. Bishop retorna a sua pátria e Lota se suicida em Nova Iorque, profundamente deprimida, aos 57 anos, em 1967.

Bishop escreveu frugalmente, publicando apenas cinco finos volumes de poesia em 35 anos, mas o que ela escreveu recebeu a mais alta aclamação. Em 1945 seu trabalho foi selecionado entre cerca de 800 inscrições na Competição de Poesia da Houghton Mifflin e os 30 poemas enviados foram publicados no ano seguinte como North & South (Norte & Sul). Esta coleção, junto com seu segundo volume, A Cold Spring (Uma Fria Primavera), ganhou o Prêmio Pulitizer de 1956. Ela recebeu o National Book Award (Prêmio Nacional do Livro) por The Complete Poems (Os Poemas Completos) em 1970. Ela foi a primeira americana a receber o Books Abroad/Neustadt International Prize for Literature (Livro do Exterior/Prêmio Internacional Neustadt para Literatura) — ela foi escolhida por um júri internacional de escritores — e o National Book Critics Circle Award (Prêmio do Círculo dos Críticos do Livro Nacional) por Geography III (Geografia III), seu último livro de poemas, em 1977.

Como se pode depreender de seus títulos, a paixão de toda sua vida por viajar influenciou sua poesia. Eu acho que a geografia aparece primeiro no meu trabalho, e os animais m seguida. Mas eu gosto de pessoas também. Escrevi alguns poemas sobre pessoas.

Apropriadamente, um de seus primeiros poemas, The Map, (O Mapa) descreve o amarelo do labrador, onde o lunático esquimó o lubrificou com óleo e aponta que por causa do espaço apertado os nomes das cidades costeiras correm para o mar e cidades cruzam vizinhas montanhas. Todavia mapas não são meros guias para espaços geográficos, nem são tão somente objetos estéticos. Tanto como a maioria de seus poemas, The Map (O Mapa) alguém vê não apenas as cores do arco-íris confinado as formas irregulares. Alguém vê o poema de Bishop como um guia para o modo como ela vê e percebe os padrões da vida.

"Man-Moth," (Mamute) inspirado num erro tipográfico no New York Times—que achava que a apalavra se grafava daquele jeito—descreve o noturno nova iorquino cujo lar é o pálido submundo de cimento onde

Each night he must be carried through artificial tunnels and dream recurrent dreams. Just as the ties recur beneath his train, these underlie his rushing brain…. He has to keep his hands in his pockets, as others must wear mufflers.


Cada noite ele deve ser carregado através de túneis artificiais e sonhar repetidos sonhos. Apenas como os dormentes ocorrem debaixo do seu trem, estes sustentam seu cérebro apressado... Ele tem de manter suas mãos nos bolsos, ao passo que outros devem usar cachecóis.


A fantasia de que o man-moth viajaria pelo sub solo de Nova York e, quando raramente emergia para a rua, procurando a lua como um pequeno buraco no alto do céu tem uma qualidade kakfquiana. Quando questionada em contribuir com seu poema favorito para uma antologia chamada Poet's Choice (Escolha do Poeta), Bishop enviou Man-Moth (Mamute), comentando sobre o erro gráfico que lhe deu a ideia: Um oráculo falou da página do New York Times, gentilmente explicando a Cidade de Nova York para mim, pelo menos no momento.

Outros de seus poemas que têm sido altamente elogiados incluem The Burglar of Babylon (O Ladrão da Babilônia), uma balada situada no Rio de Janeiro; A Miracle for Breakfast (Um Milagre para o Café da Manhã), sobre a fome; Jeronimo's House (A Casa de Jerônimo), uma de seus poemas de Key West; The Moose (O Alce), sobre uma viagem de ônibus; e The Fish (O Peixe), seu mais popular poema.

Muito frequentemente foram seus poemas enfaixados em antologias que imediatamente antes de sua morte Bishop declarou que ela teria qualquer de seus poemas exceto The Fish (O Peixe) incluído numa coletânea e, se os editores insistissem, ela pediria que eles imprimissem três outros poemas com ele. No poema o peixe, usando cinco peças de versos quebrados como medalhas, tinha um adiantamento e seria devolvido ao mar.

Uma das razões para a popularidade deste poema foi o forte elogio que ele recebeu de Randall Jarrell. Bishop, que nunca se comprometeu com nenhuma escola de poesia, era admirada por poetas tão díspares como John Ashbery, Octavio Paz, Robert Lowell e Marianne Moore. Ela também conheceu Ezra Pound, W.H. Auden, Pablo Neruda e Carlos Drummond, um dos mais populares poetas brasileiros, cujo trabalho ela traduziu do português para o inglês.

Mas foi Marianne Moore quem teve a maior influencia de todos eles. Enquanto ainda estava em Vassar, Bishop conheceu Moore através da bibliotecária da faculdade, Fanny Borden, sobrinha do acusado de ter matado a machadada Lizzie Lizzie Borden. Depois de uma entrevista inicial na Biblioteca Pública de New York, as duas poetas tornaram amigas de uma longa amizade. Quando se conheceram, almoçaram juntas quando Bishop ajudou Marianne Moore a furtar alguns pelos de um elefante bebê num circo para substituir fios raros de um bracelete que ela usava. Bishop desviou a atenção do elefante adulto e do guarda enquanto Moore cortava os pelos do filhote.

Moore ajudou a convencer Bishop a desistir dos planos de estudar medicina e, em vez disso, a trabalhar sua poesia. Críticos tem afirmado que as duas poetas partilhavam o mesmo dom de aguda observação e uma suave sagacidade. E cada uma delas era apaixonada por animais. Além de Moore, Bishop afirmava que George Herbert e Wallace Stevens foram importantes influência sobre seu trabalho.

Elizabeth Bishop morreu, de repente, de um rompimento de um aneurisma cerebral em seu apartamento de Boston em 6 de outubro de 1979. Ela tinha 68 anos de idade.

Elizabeth Bishop teve a seguinte produção literária:

Poesia: Elizabeth Bishop: Poems, Prose, and Letters (Library of America, 2008); Edgar Allan Poe & The Juke-Box: Uncollected Poems, Drafts, and Fragments (Farrar, Straus and Giroux, 2006); The Complete Poems 1927-1979 (Farrar, Straus and Giroux, 1983); Geography III (Chatto and Windus, 1977); Poem (Phoenix Book Shop,1973); The Complete Poems (Farrar, Straus and Giroux, 1969); The Ballad of the Burglar of Babylon (Farrar, Straus and Giroux, 1968); Questions of Travel (Farrar, Straus and Giroux, 1965); Poems (Chatto and Windus, 1956); Poems: North and South/A Cold Spring (Houghton Mifflin, 1955); North & South (Houghton Mifflin, 1946) – Prosa: One Art: Letters (Farrar, Straus and Giroux, 1994); The Collected Prose (Farrar, Straus and Giroux, 1984); The Diary of Helena Morley (Ecco Press, 1977); Brazil (Time, inc., 1962) – Antologia: Anthology of Twentieth Century Brazilian Poetry (with Emmanuel Brasil) (Wesleyan University Press, 1972).


Perfil bibliográfico elaborado por Dalcin Lima a partir do texto publicado no site Your Dictionary. Disponível em: <http://biography.yourdictionary.com/elizabeth-bishop>. Acesso em: 25. Dez. 2014.
 
 
 


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Sobre Jus et Humanitas

Sou Dalcin Lima, advogado, tradutor e um apaixonado por Línguas e Literatura, especialmente poesia. Sou protetor de animais em geral.
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