FANTASIA A CÉU ABERTO
Eu reconheço minha condição como forasteiro:
Roupas impróprias, costumes excêntricos
Fora de sincronia com vespa e carriça.
Eu admito que eu não sei como
Sentar-me calma e mover-me sem propósito.
Prefiro livros à luz da lua, estatuário para árvores.
Mas este gramado foi aplainado para se contemplar,
Por isso eu chuto minhas sandálias e caminho por seu verde frescor.
Quem afirma que somos meros músculos e fluídos?
Meus pés são primitivos aqui.
Assim como o resto — ah, o ar agora
É um tônico da ausência, gerando nada
Exceto notícias de um vento leve.
Tradução de Dalcin Lima aos 25 de junho de 2016.
REVERIE IN OPEN AIR
I acknowledge my status as a stranger:
Inappropriate clothes, odd habits
Out of sync with wasp and wren.
I admit I don’t know how
To sit still or move without purpose.
I prefer books to moonlight, statuary to trees.
But this lawn has been leveled for looking,
So I kick off my sandals and walk its cool green.
Who claims we’re mere muscle and fluids?
My feet are the primitives here.
As for the rest—ah, the air now
Is a tonic of absence, bearing nothing
But news of a breeze.
REVERIE IN OPEN AIR. In: Poetry Foundation. Disponível em:
MADRUGADA REVISITADA
Imagine que despertaste
com uma segunda chance: O triste mascate
que vende suas lindas mercadorias
e o carvalho ainda continua espalhando
uma sombra maravilhosa. Se não olhares para trás,
o futuro nunca acontecerá.
Que bom levantar-se à luz do sol,
no pródigo cheiro de biscoitos –
ovos e linguiça grelhados.
o céu inteiro é teu
para anotar, desabrochado aberto
para uma página em branco. Vamos,
sacuda as pernas! Nunca saberás
quem está lá embaixo, fritando aqueles ovos
se não levantares e fores ver.
Tradução de Dalcin Lima aos 26 de junho de 2016.
DAWN REVISITED
Imagine you wake up
with a second chance: The blue jay
hawks his pretty wares
and the oak still stands, spreading
glorious shade. If you don't look back,
the future never happens.
How good to rise in sunlight,
in the prodigal smell of biscuits -
eggs and sausage on the grill.
The whole sky is yours
to write on, blown open
to a blank page. Come on,
shake a leg! You'll never know
who's down there, frying those eggs,
if you don't get up and see.
DAWN REVISITED. In: Poetry Foundation. Disponível em:
RAPOSA
Ela sabia o que
ela era e portanto
era capaz
de qualquer coisa
que ninguém
podia imaginar.
Ela gostava do que
ele era, havia
a atração,
imagine.
Ela não imaginava
nada.
Ela não amava
nada mais
do que ela tinha,
que era o bastante
para ela,
que era mais
do que qualquer homem
pudesse controlar.
Tradução de Dalcin Lima aos 25 de junho de 2016.
FOX
She knew what
she was and so
was capable
of anything
anyone
could imagine.
She loved what
she was, there
for the taking,
imagine.
She imagined
nothing.
She loved
nothing more
than what she had,
which was enough
for her,
which was more
than any man
could handle.
FOX. In: Poetry Once a Day. Disponível em: < https://poetrying.wordpress.com/2014/10/11/fox-rita-dove/ >. Acesso em: 25. Jun. 2016.
A PRECE DE DEMÉTER A HADES
Isto é apenas o que eu te desejo: conhecimento.
Para entenderes que cada desejo tem um extremo,
para saberes que somos responsáveis pelas existências
que trocamos. Nenhuma fé vem sem custo,
ninguém crê sem morrer.
Agora pela primeira vez
vejo claramente a trilha que traçaste,
que chão se abriu para arruinar-se,
apesar de teres sonhado com uma fartura
de flores.
Não há maldições, apenas espelhos
que roubaram as almas de deuses e mortais.
E, portanto, eu abandono este destino, também.
Acredite em você mesmo,
siga em frente – veja até onde isso te leva.
Tradução de Dalcin Lima aos 25 de junho de 2016.
DEMETER’S PRAYER TO HADES
This alone is what I wish for you: knowledge.
To understand each desire has an edge,
to know we are responsible for the lives
we change. No faith comes without cost,
no one believes without dying.
Now for the first time
I see clearly the trail you planted,
what ground opened to waste,
though you dreamed a wealth
of flowers.
There are no curses, only mirrors
held up to the souls of gods and mortals.
And so I give up this fate, too.
Believe in yourself,
go ahead - see where it gets you.
DEMETER’S PRAYER TO HADES. In: Poetry Foundation. Disponível em:< http://www.poetryfoundation.org/poetrymagazine/browse?contentId=38445>. Acesso em: 25. Jun. 2016.
CHOCOLATE
Fruta aveludada, quadrado delicioso
que eu seguro para cheirar
entre o dedo e o polegar –
como tu me entorpeces
com tuas saborosas cortesias!
Se eu não te devoro rapidamente,
derreterás na palma de minha mão.
Investigador de prazer, se eu te deixasse
virarias líquido em toda parte.
Fumo com nó, ponche escuro
da terra e noite e folhas,
para o gosto de ti
qualquer mulher alegremente
se reduziria a ruína.
Demasiado tagarelar: estou pronta
para me apaixonar!
Tradução de Dalcin Lima aos 25 de junho de 2016.
CHOCOLATE
Velvet fruit, exquisite square
I hold up to sniff
between finger and thumb -
how you numb me
with your rich attentions!
If I don't eat you quickly,
you'll melt in my palm.
Pleasure seeker, if i let you
you'd liquefy everywhere.
Knotted smoke, dark punch
of earth and night and leaf,
for a taste of you
any woman would gladly
crumble to ruin.
Enough chatter: I am ready
to fall in love!
CHOCOLATE. In: Poetry Foundation. Disponível em:
GALANTEIO
Afinal, não há precisão
de dizer nada
inicialmente. Uma laranja, descascadas
feito gomos, cintila
como uma tulipa na gravura de um vaso
Nada pode acontecer.
Fora do sol
ela enrolou suas mantas
e a noite espalhou sal
por todo o céu. Meu coração
está sussurrando uma cantiga
que eu tenho ouvido por anos!
A calma é o frescor da polpa —
vamos aspirá-la e consumi-la.
Há maneiras
de fazer do momento
um jardim adornado
de tal modo que o prazer
por ele passeia.
Tradução de Dalcin Lima aos 25 de junho de 2016.
FLIRTATION
After all, there’s no need
to say anything
at first. An orange, peeled
and quartered, flares
like a tulip on a wedgewood plate
Anything can happen.
Outside the sun
has rolled up her rugs
and night strewn salt
across the sky. My heart
is humming a tune
I haven’t heard in years!
Quiet’s cool flesh—
let’s sniff and eat it.
There are ways
to make of the moment
a topiary
so the pleasure’s in
walking through.
FLIRTATION BY RITA DOVE. In: Poetry Out Loud. Disponível:< http://www.poetryoutloud.org/poem/24488>. Acesso em: 11. Jun. 2016.
O JARDIM SECRETO
Eu estava doente, deitada na minha cama de jornais velhos,
quando você chegou com coelhos brancos nos braços;
e pombas espalhavam-se por cima, voando para as fontes,
e caracóis suspiravam debaixo de suas bagagens de pedra...
Agora sua língua cresceu como aipo:
Porque do nosso grito de amor, o repolho escurece em sua ninhada;
a couve-flor pensa em suas crianças pálidas e roliças
e torna-se branco esverdeado numa luz como do oceano.
Eu estava doente, desfalecendo com o cheiro dos sachês de chá,
quando você chegou com tomates, uma boa poesia.
Fui cortejada. Estou sendo conquistada
por um despenhadeiro calcário que deixa rascunhos nos meus seios.
Tradução de Dalcin Lima aos 25 de junho de 2016.
THE SECRET GARDEN
I was ill, lying on my bed of old papers,
when you came with white rabbits in your arms;
and the doves scattered upwards, flying to mothers,
and the snails sighed under their baggage of stone . . .
Now your tongue grows like celery between us:
Because of our love-cries, cabbage darkens in its nest;
the cauliflower thinks of her pale, plump children
and turns greenish-white in a light like the ocean’s.
I was sick, fainting in the smell of teabags,
when you came with tomatoes, a good poetry.
I am being wooed. I am being conquered
by a cliff of limestone that leaves chalk on my breasts.
THE SECRET GARDEN. In: Poetry Out Loud. Disponível:< http://www.poetryoutloud.org/poem/172131>. Acesso em: 11. Jun. 2016.
TESTEMUNHO
De volta quando a terra era nova
e o céu apenas um sussurro,
de volta quando os nomes das coisas
não tiveram tempo de ser colocados;
de volta quando a menor das brisas
fundiu o verão no outono,
quando todos os choupos estremeceram
suavemente no canteiro e nas fileiras...
o mundo chamou e eu respondi.
Cada raio de luz inflamou-se num mirar.
Prendi a respiração e chamei aquilo de vida,
desfalecida entre colheradas de sorvete de limão.
Eu fui pirueta e fanfarra,
fui filigrana e chama.
Como eu contaria minhas bênçãos
quando eu não sabia seus nomes?
de volta quando tudo ainda estava por vir,
e o acaso tornou-se público em todo lugar.
Fiz minha promessa para o mundo,
e o mundo me seguiu até aqui.
Tradução de Dalcin Lima, aos 25 de junho de 2016.
TESTIMONIAL
Back when the earth was new
and heaven just a whisper,
back when the names of things
hadn't had time to stick;
back when the smallest breezes
melted summer into autumn,
when all the poplars quivered
sweetly in rank and file . . .
the world called, and I answered.
Each glance ignited to a gaze.
I caught my breath and called that life,
swooned between spoonfuls of lemon sorbet.
I was pirouette and flourish,
I was filigree and flame.
How could I count my blessings
when I didn't know their names?
Back when everything was still to come,
luck leaked out everywhere.
I gave my promise to the world,
and the world followed me here.
TESTIMONIAL. In: Poetry Out Loud. Disponível:< http://www.poetryoutloud.org/poem/29339>. Acesso em: 11. Jun. 2016.
DE CORAÇÃO PARA CORAÇÃO
Não é vermelho
nem doce.
Não se derrete
nem transborda,
quebra ou endurece,
também não pode sentir
dor,
anseio,
pesar.
Não tem
uma extremidade para saltar,
não é mesmo
simétrico —
apenas uma densa ninhada
de músculo,
bem delineada,
silente. Todavia,
eu o sinto por dentro
de sua gaiola ressoa
uma grosseira tatuagem:
eu quero, eu quero —
mas não posso abrí-lo:
não há chave.
não posso demonstrar
abertamente meus sentimentos,
ou dizer-te do
fundo dele
como eu sinto. Aqui
tudo é teu, agora —
mas terás de
me levar...
também.
Tradução de Dalcin Lima, aos 11 de junho de 2016.
HEART TO HEART
It's neither red
nor sweet.
It doesn't melt
or turn over,
break or harden,
so it can't feel
pain,
yearning,
regret.
It doesn't have
a tip to spin on,
it isn't even
shapely—
just a thick clutch
of muscle,
lopsided,
mute. Still,
I feel it inside
its cage sounding
a dull tattoo:
I want, I want—
but I can't open it:
there's no key.
I can't wear it
on my sleeve,
or tell you from
the bottom of it
how I feel. Here,
it's all yours, now—
but you'll have
to take me,
too.
HEART TO HEART. In: Poetry Foundation. Disponível:< http://www.poetryfoundation.org/poems-and-poets/poems/detail/51662>. Acesso em: 11. Jun. 2016.
A SENHORA LIBERDADE ENTRE NÓS
não baixe seus olhos
nem olhe resoluto para onde
você acha que deve estar indo
não resmungue oh não
para um outro alguém
consiga um trabalho empine uma pipa
enterre seus mortos
com suas as sandálias antiquadas
com suas saias de chumbo
com suas bochechas manchadas, costeletas e um monte de bugigangas
ela se eleva entre nós numa censura cega
ela ajustou seu cabelo debaixo do boné doado
e o enfeitou com plumas e estrelas
jogado por cima dos ombros ela ostenta
as camadas do arco-íris da caridade e sussurra
para todos vocês mesmo o menor de vocês
não atravesse para o outro lado da praça
não procure um outro artigo para se encaixar na agenda de um turista
reflita seu olhar molhado de lágrimas sua expressão cintilante
ela que trouxe de volta a misericórdia para as ruas
e educadamente não descansará no campo do oleiro
tendo se revestido da pele grossa desta cidade
sua descarga rangente sua queimadura de sol e seu lacrimejar
ela descansa em sua plumagem arejada
ossuda resoluta
não pense que você pode esquecê-la
nem mesmo tente
ela não vai sair do lugar
não há preferência apenas aceite seu universo
coroando-a com o céu
pois ela é uma de nós
e ela é cada um de nós.
Tradução de Dalcin Lima aos 01 de fevereiro de 2016.
LADY FREEDOM AMONG US
don't lower your eyes
or stare straight ahead to where
you think you ought to be going
don't mutter oh no
not another one
get a job fly a kite
go bury a bone
with her oldfashioned sandals
with her leaden skirts
with her stained cheeks and whiskers and heaped up trinkets
she has risen among us in blunt reproach
she has fitted her hair under a hand-me-down cap
and spruced it up with feathers and stars
slung over her shoulder she bears
the rainbowed layers of charity and murmurs
all of you even the least of you
don't cross to the other side of the square
don't think another item to fit on a tourist's agenda
consider her drenched gaze her shining brow
she who has brought mercy back into the streets
and will not retire politely to the potter's field
having assumed the thick skin of this town
its gritted exhaust its sunscorch and blear
she rests in her weathered plumage
bigboned resolute
don't think you can forget her
don't even try
she's not going to budge
no choice but to grant her space
crown her with sky
for she is one of the many
and she is each of us
LADY FREEDOM AMONG US. In: Xroads Virginia. Disponível em:< http://xroads.virginia.edu/~cap/liberty/dovepoem.html >. Acesso em: 06. Fev. 2016.
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