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DEZ POEMAS DE SANDRA CISNEIROS


FAZES BROTAR A MEXICANA EM MIM


Fazes brotar a mexicana em mim.
O escondido grosso escuro espiral.
O centro de um grito do coração.
Uma bílis amarga.
A tequila de lágrimas em todo o sábado
até o próximo domingo da semana.
Tu és o único que eu deixaria ir com outros amores,
entregar minha casa de mulher sozinha.
Permitir vinho tinto na cama,
mesmo com minha vindima guarnecida de linho.
Talvez. Talvez.

Para ti.

Fazes brotar Dolores del Río em mim.
A raivosa mexicana em mim.
As navajas cruas, brilho e paixão em mim.
O elevado Caim e a dança com o diabo com patas de galo em mim.
A lantejoula brilhando em mim.
A águia e a serpente em mim.
As cornetas de sangue dos mariachis em mim.
A guerra de amor azteca em mim.
A língua feroz obsidiana em mim.
A berrinchuda, bien-cabrona em mim.
A curiosidade de Pandora em mim.
A morte pré-colombiana e a destruição em mim.
O desastre na selva, a ameaça nuclear em mim.
O medo dos fascistas em mim.
Sim, tu fazes. Sim, tu fazes.

Fazes brotar a colonizadora em mim.
O holocausto do desejo em mim.
O terremoto de 85 na Cidade do México em mim.
O Popocatépetl / Iztaccíhuatl em mim.
A onda da recessão em mim.
O Agustín Lara romântico sem esperança em mim.
Os taquitos barbacoa de domingo em mim.
A coberta dos espelhos com um pano em mim.

Doce gêmeo. Meu outro malvado,
eu sou a lembrança que rodeia suas noites insones,
que te arrasta tenso como a lua arrasta o oceano.
eu te declaro todo meu,
arrogante como o Destino Manifesto.
Eu quero te chacoalhar e te rachar em dois.
Eu quero te deflorar e te elevar ao inferno.
Eu quero arrancar as facas da cozinha,
Opacas e afiadas e varrer o ar com cruzes
Me sacas lo mexicana en mi,
goste ou não, querido.

Fazes brotar o Uled-Nayl em mim.
A cadela branca atenciosa em mim.
A lâmina flexível na bota em mim.
O mergulhador do despenhadeiro de Acapulco em mim.
O desastre da montanha Flecha Vermelha em mim.
A dengue em mim.
A assassina ¡Alarma! em mim.
Eu poderia matar em teu nome e pensar
que vale a pena. Brandir um tridente e aterrorizar rivais,
femininos e masculinos, que se demoram e olham para ti
Oh, lânguidos em tua luz. Oh,

Eu sou má. Sou a vil Tlazoltéotl.
Sou a devoradora de pecados.
A deusa da luxuria sem culpa.
A deliciosa libertinagem. Trazes para fora
a primordial perfeição em mim.
A indecente obsessão em mim.
O pecado corporal e venial em mim.
A transgressão original em mim.

Vermelho ocre. Amarelo ocre. Indigo. Cochonilha.
Pinhão. Copal. Pasto doce. Mirra.
Todos vocês santos, abençoados e terríveis.
Virgem de Guadalupe, deusa Coatlicue,
Eu vos invoco.

Quiero ser tuya. Somente tua. Somente tu.
Quiero amarte. Aarte. Amarrarte.
amar da maneira eu uma mexicana ama. Deixe
me te mostrar. Amar da única maneira que eu sei.


Notas do Tradutor: 


Dolores del Río: atriz mexicana da época dourada do cinema, conhecida por sua beleza exótica e comportamento refinado.

Popocatepetl: "Montanha Fumegante ", nome asteca dado ao vulcão ativo situado ao sudoeste da Cidade do México.

Iztaccíhuatl: "Mulher Adormecida ", nome asteca de um vulcão perto de Popocatépetl.

Agustín Lara: (1897-1970) cantor, compositor e ator mexicano do século XX. Compositor, principalmente de boleros, também conhecido com os n los apelativos de "El Músico Poeta" y "El Flaco de Oro".

Uled - Nayl: baile realizado pelas mulheres do harém árabe, sobretudo na Argélia.


Tradução de Dalcin Lima, do original inglês e com base na versão espanhola de Hugo Zonáglez postada no blog Huellas en la Ciénaga. Disponível em:< http://huellasenlacienaga.blogspot.com.br/2013/11/sandra-cisneros-el-amor-ese-pez.html>. Acesso em: 07. Maio. 2016.

YOU BRING OUT THE MEXICAN IN ME


You bring out the Mexican in me.
The hunkered thick dark spiral.
The core of a heart howl.
The bitter bile.
The tequila lágrimas on Saturday all
through next weekend Sunday.
You are the one I’d let go the other loves for,
surrender my one-woman house.
Allow you red wine in bed,
even with my vintage lace linens.
Maybe. Maybe.

For you.

You bring out the Dolores del Río in me.
The Mexican spitfire in me.
The raw navajas, glint and passion in me.
The raise Cain and dance with the rooster-footed devil in me.
The spangled sequin in me.
The eagle and serpent in me.
The mariachi trumpets of the blood in me.
The Aztec love of war in me.
The fierce obsidian of the tongue in me.
The berrinchuda, bien-cabrona in me.
The Pandora’s curiosity in me.
The pre-Columbian death and destruction in me.
The rainforest disaster, nuclear threat in me.
The fear of fascists in me.
Yes, you do. Yes, you do.

You bring out the colonizer in me.
The holocaust of desire in me.
The Mexico City ‘85 earthquake in me.
The Popocatepetl/Ixtaccihuatl in me.
The tidal wave of recession in me.
The Agustín Lara hopeless romantic in me.
The barbacoa taquitos on Sunday in me.
The cover the mirrors with cloth in me.

Sweet twin. My wicked other,
I am the memory that circles your bed nights,
that tugs you taut as moon tugs ocean.
I claim you all mine,
arrogant as Manifest Destiny.
I want to rattle and rent you in two.
I want to defile you and raise hell.
I want to pull out the kitchen knives,
dull and sharp, and whisk the air with crosses.
Me sacas lo mexicana en mi,
like it or not, honey.

You bring out the Uled-Nayl in me.
The stand-back-white-bitch-in me.
The switchblade in the boot in me.
The Acapulco cliff diver in me.
The Flecha Roja mountain disaster in me.
The dengue fever in me.
The ¡Alarma! murderess in me.
I could kill in the name of you and think
it worth it. Brandish a fork and terrorize rivals,
female and male, who loiter and look at you,
languid in you light. Oh,

I am evil. I am the filth goddess Tlazoltéotl.
I am the swallower of sins.
The lust goddess without guilt.
The delicious debauchery. You bring out
the primordial exquisiteness in me.
The nasty obsession in me.
The corporal and venial sin in me.
The original transgression in me.

Red ocher. Yellow ocher. Indigo. Cochineal.
Piñón. Copal. Sweetgrass. Myrrh.
All you saints, blessed and terrible,
Virgen de Guadalupe, diosa Coatlicue,
I invoke you.

Quiero ser tuya. Only yours. Only you.
Quiero amarte. Aarte. Amarrarte.
Love the way a Mexican woman loves. Let
me show you. Love the only way I know how.


YOU BRING OUT THE MEXICAN IN ME. In: Yayita de los cuentos. Disponível em:< http://anjelikah.tumblr.com/post/22760560988/you-bring-out-the-mexican-in-me-by-sandra>. Acesso em: 07. Mai. 2016.


SOLTEIRONAS


Minhas primas e eu,
não nos casamos.
Somos muito velhas
pelos padrões mexicanos.

Todos os familiares
suspeitaram por muito tempo
que não estaríamos mais
de branco.

Minhas primas e eu,
somos todas
solteironas de trinta anos.

Não vestiremos crianças
e nem santos —
ainda que os desnudemos

As tias,
desistiram de nós.
Não mais alcançadas — És a seguinte

em vez de —

O que aconteceu na tua infância?
O que te deixaram todas estas adolescentes?
Quem te feriu, querido?

Mas estudamos
casamentos por bastante tempo —

Tia Ariadne,
Tia Vashti,
Comadre Penelope,
querida Malintzin,
Senhora casca de abóbora —

as lições que nos serviram muito.


Tradução de Dalcin Lima, do original inglês e com base na versão espanhola de Hugo Zonáglez postada no blog Huellas en la Ciénaga. Disponível em:< http://huellasenlacienaga.blogspot.com.br/2013/11/sandra-cisneros-el-amor-ese-pez.html>. Acesso em: 07. Maio. 2016.

OLD MAIDS


My cousins and I,
we don't marry.
We're too old
by Mexican standards.

And the relatives
have long suspected
we can't anymore
in white.

My cousins and I,
we're all old
maids at thirty.

Who won't dress children,
and never saints —
though we undress them.

The aunts,
they've given up on us.
No longer nudge — You're next.

Instead —
What happened in your childhood?
What left you all mean teens?
Who hurt you, honey?

But we've studied
marriages too long —

Aunt Ariadne,
Tia Vashti,
Comadre Penelope,
querida Malintzin,
Senora Pumpkin Shell —


OLD MAIDS. In: gravity and light. Disponível em:< http://gravityandlight.blogspot.com.br/2007/12/old-maids-by-sandra-cisneros.html>. Acesso em: 07. Mai. 2016. 

DEIXO QUE ME LEVE


Deixo que me leve
por cima da soleira e por cima
dos joelhos. Servi e segui,
albergada nas minhas coisas
e peregrinei com ele.
Riram-se a minha escolha
quando ele assumiu
e eu fiz
uma vigília que
tornou deserta,
minha vida.
trabalhei o amor
impetuosamente costurado
e alimentei-o.
Acamado e desposado.
Ele nunca desapontou,
feriu, abandonou.
Marido, amor, minha vida –
poema.


Tradução de Dalcin Lima, do original inglês e com base na versão espanhola de Hugo Zonáglez postada no blog Huellas en la Ciénaga. Disponível em:< http://huellasenlacienaga.blogspot.com.br/2013/11/sandra-cisneros-el-amor-ese-pez.html>. Acesso em: 07. Maio. 2016.


I LET HIM TAKE ME


I let him take me
over the threshold and over
the knee. I served and followed,
harbored up my things
and pilgrimed with him.
They snickered at my choice
when he took over
and I vigiled that
solitude,
my life.
I labored love,
fierce stitched
and fed him.
Bedded and wifed him.
He never disappointed,
hurt, abandoned.
Husband, love, my life –
poem.


I LET HIM TAKE ME. In: Huellas en la Ciénaga. Disponível em:< http://huellasenlacienaga.blogspot.com.br/2013/11/sandra-cisneros-el-amor-ese-pez.html >. Acesso em: 07. Mai. 2016.

NATUREZA MORTA COM BATATAS, PÉROLAS, CARNE CRUA, LANTEJOULAS, GORDURA E CASCO DE CAVALO.

Para Franco Mondini(*)


Em espanhol é naturaleza muerta e de maneira alguma é vida.

E certamente não é natural. Mas o quê é natural?
Você e eu. Eu te compro um drinque.
A uma mulher que não se comporta como mulher.
A um homem que não se comporta como homem.

A morte é natural, pelo menos em espanhol, creio.

A vida? Fico na dúvida.

Veja o exemplo da Contessa, quem nos seus tempos era divina

e agora porta uma verruga do tamanho deste diamante.
Então ragazzo, você é Veneza.
A você. A Veneza.
Não aquela de Casanova.

mas a das pensões baratas, ao lado da rodoviária.
Eu recomendo uma cama estreita manchada de sêmen, mijos e pena
face à parede.
As manchas, os detritos são românticos.
Você é positivamente Pasolini.
Dançando tango e fandango até a morte.
Se deixarmos. Eu não deixo!
Ninguém me supera, sou Piazzola.

Dançarei o tango com você na minha calçinha fio dental de renda
manchada com fluxo de primeiro dia
e uma teta só pendurada do meu vestido como as cataratas do Niágara.
Você falou 'duress' ou 'dress'?
Vamos cantar um dueto de Puccini – eu gosto de La Traviesa.
Serei teu macaco treinado.
Serei lantejoula e pulseira.
Serei Mae, Bette, Joan e Marlene para ti –
Serei qualquer coisa que você pedir. Mas peça algo glamuroso.
E que me faça rir.
Outro?
O que eu quero dizer, querido, é
que nada há de romântico na fome
para os famintos

O que eu quero dizer é que o medo não é emocionante
quando é você que tem medo.
O que eu quero dizer é que
a pobreza não é charmosa quando é a tua casa
da qual não se pode escapar.

A corrosão não é bela para os corroídos.
O que é beleza?
Batom num pênis.
Um beijo numa ferida purulenta.

Um salto agulha que pode perfurar um coração.
Um tijolo atravessando o pára-brisas que quer dizer eu te amo.

Uma mágoa que bate na porta.
Olha, eu preciso te confessar, aqui não é Veneza nem Buenos
Aires.
Que vivan las perras.
“Que me sirvan otro trago…”
É San Antonio.
O espelho não é uma feirinha.
É um incêndio. E estes são os vestígios
do que se pôde levar ou salvar.

As pérolas? Comprei na loja Winn’s.
Meu casaco de pele? Acrílico genuíno.
Graças a deus aqui não é Berlin.
Outro drinque?
Barman, outra garrafa, mas-
Ay caray e ah, meu deus!-
O loirinho bonito não quer mais nos servir.
Aos campos da morte! Aos campos da morte!

Que grosso. Que vulgar.
Beba até o fundo, meu docinho. Tenho a grana.
E ele, não sabe quem nos somos?
Que vivan los de abajo de los de abajo,
los de rienda suelta, as bruxas, as mulheres,
os perigosos, os bizarros.
Eu conheço um bar
onde nos pagarão os drinques

se eu botar minha saia na cabeça e você entrar vestindo nada mais
além do meu sutiã preto.


(*) A tradutora Miriam Adelman dedicou esta tradução ao seu amigo Franco Mondini.


Tradução de Miriam Adelman, com revisão de Marcia Cavendish Wanderley. In: Convite a Palavra. Disponível em:< http://conviteapalavra.blogspot.com.br/2009/03/nova-traducao-de-poema-de-sandra.html>. Acesso em: 07. Mai. 2016.


STILL LIFE WITH POTATOES, PEARLS, RAW MEAT, RHINESTONES, LARD AND HORSES’ HOOVES.


In Spanish it’s naturaleza muerta (natural death) and not life at all.
But certainly not natural. What’s natural?
You and me. I’ll buy you a drink.
To a woman who doesn’t act like a woman.
To a man who doesn’t act like a man.
Death is natural, at least in Spanish, I think.
Life? I’m not so sure.
Consider The Contessa, who in her time was lovely
and now sports a wart the size of this diamond.
So, ragazzo, you’re Venice.
To you.To Venice.
Not the one of Casanova.
The other one of cheap pensiones by the railway station.
I recommend a narrow bed stained with semen, pee, and sorrow facing the wall.
Stain and decay are romantic.
You’re positively Pasolini.
Likely to dangle and fandango yourself to death.
If we let you. I won’t let you!
Not to be outdone I’m Piazzolla.
I’ll tango for you in a lace G-string
stained with my first-day flow
and one sloppy tit leaping like a Niagara from my dress.
Did you say duress or dress?
Let’s sing a Puccini duet–I like La Traviesa.
I’ll be your trained monkey.
I’ll be sequin and bangle.
I’ll be Mae, Joan, Bette, Marlene for you–
I’ll be anything you ask. But ask me something glamorous.
Only make me laugh.
Another?
What I want to say, querido (my darling), is
hunger is not romantic to the hungry.
What I want to say is
fear is not so thrilling if you’re the one afraid.
What I want to say is
poverty’s not quaint when it’s your house you can’t escape from.
Decay’s not beautiful to the decayed.
What’s beauty?
Lipstick on a penis.
A kiss on a running sore.
A reptile stiletto that could puncture a heart.
A brick through the windshield that means I love you.
A hurt that bangs on the door.
Look, I hate to break this to you, but this isn’t Venice or Buenos Aires.
This is San Antonio.
That mirror isn’t a yard sale.
It’s a fire. And these are remnants
of what could be carried out and saved.
The pearls? I bought them at the Winn’s.
My mink? Genuine acrylic.
Thank God this isn’t Berlin.
Another drink?
Bartender, another bottle, but–
!Aycaray and oh dear!–
The pretty blond boy is no longer serving us.
To the death camps! To the death camps!
How rude! How vulgar!
Drink up, honey. I’ve got money.
Doesn’t he know who we are?
Quevivan los de abajo de los de abajo (long live the lowest of the low),
los de riendasuelta (the unleashed), the witches, the women,
the dangerous, the queer.
Quevivanlasperras (cheer for the bitches).
"Que me sirvanotrotrago (that they may serve me another drink) . . ."
I know a bar where they’ll buy us drinks
if I wear my skirt on my head and you come in wearing nothing
but my black brassiere.


STILL LIFE WITH POTATOES, PEARLS, RAW MEAT, RHINESTONES, LARD, AND HORSE HOOVES. In: Sandra Cisneros. Disponível em:< http://dwwproject2012.weebly.com/still-life-with-potatoes-pearls-raw-meat-rhinestones-lard-and-horse-hooves.html>. Acesso em: 07. Mai. 2016.


MULHER SOLTA


Dizem que sou uma fera.
E uma festa em si. Quando no começo
pensava que isso é o que era uma mulher.

Dizem que sou uma cadela.
Ou uma bruxa. Afirmei
o mesmo e nunca assustei.

Dizem que sou uma macha, um inferno sobre rodas
viva a vulva, fogo e enxofre,
odiando os homens, devastando
monstro-mulher lésbica.
Não necessariamente
mas me agrada o elogio.

a multidão chega com paus e pedras
para me mutilar e lastimar-me
de todas as maneiras, quando abro minha boca,
cambaleiam com ginebra.

Diamantes e pérolas
caem de minha língua.
Ou sapos e serpentes.
Dependendo do ânimo que tenho.

Agrada-me o desejo que provoco.
O sussurro dos rumores
como crinolina.

Sou a mulher do mito e a mentira.
(Certo. Fui artífice de algumas delas).
Construí minha casa de péssima reputação.
Ladrilho a ladrilho. Trabalhosa,
amada e bem construída.

Vivo assim.
O coração como uma vela, lastro, timão, proa.
Ruidosa. Indulgente em excesso.
Meu pecado e êxito –
Penso em mim com gula.
Pelo que todos dizem sou
um perigo para a sociedade.
Sou Pancha Villa.
Quebro as leis,
altero a ordem natural,
enojo o Papa e faço chorar os padres.
Estou além da mandíbula da lei.
Sou a bandida, inimiga pública das mais procuradas.
Meu retrato feliz com um sorriso na parede.

Imponho terror entre os homens.
Não me podem molestar o que pensam.
Que se vá a ching chang chong!
Por isto, a cruz, o calvário.
Em outras palavras, sou anarquia.

Sou um objetivo – bom,
tiroteio forte,
língua afiada
pensamento agudo,
de rápido falar,
pés soltos,
língua solta,
deixei solta,
mulher solta.
Cuidado, querido.

Sou uma cadela. Fera. Macha.
Wáchale!
Ping! Ping! Ping!
Quebro coisas.


Tradução de Dalcin Lima, do original inglês e com base na versão espanhola de Hugo Zonáglez postada no blog Huellas en la Ciénaga. Disponível em:< http://huellasenlacienaga.blogspot.com.br/2013/11/sandra-cisneros-el-amor-ese-pez.html>. Acesso em: 07. Maio. 2016.

LOOSE WOMAN


They say I’m a beast.
And feast on it. When all along
I thought that’s what a woman was.

They say I’m a bitch.
Or witch. I’ve claimed
the same and never winced.

They say I’m a macha, hell on wheels,
viva-la-vulva, fire and brimstone,
man-hating, devastating,
boogey-woman lesbian.
Not necessarily,
but I like the compliment.

The mob arrives with stones and sticks
to maim and lame and do me in.
All the same, when I open my mouth,
they wobble like gin.

Diamonds and pearls
tumble from my tongue.
Or toads and serpents.
Depending on the mood I’m in.

I like the itch I provoke.
The rustle of rumor
like crinoline.

I am the woman of myth and bullshit.
(True. I authored some of it.)
I built my little house of ill repute.
Brick by brick. Labored,
loved and masoned it.

I live like so.
Heart as sail, ballast, rudder, bow.
Rowdy. Indulgent to excess.
My sin and success–
I think of me to gluttony.

By all accounts I am
a danger to society.
I’m Pancha Villa.
I break laws,
upset the natural order,
anguish the Pope and make fathers cry.
I am beyond the jaw of law.
I’m la desperada, most-wanted public enemy.
My happy picture grinning from the wall.

I strike terror among the men.
I can’t be bothered what they think.
¡Que se vayan a la ching chang chong!
For this, the cross, the calvary.
In other words, I’m anarchy.

I’m an aim-well,
shoot-sharp,
sharp-tongued,
sharp-thinking,
fast-speaking,
foot-loose,
loose-tongued,
let-loose,
woman-on-the-loose
loose woman.
Beware, honey.

I’m Bitch. Beast. Macha.
¡Wáchale!
Ping! Ping! Ping!
I break things.


LOOSE WOMAN. In: Sandra Cisneros. Disponível em:< http://dwwproject2012.weebly.com/loose-woman.html>. Acesso em: 07. Mai. 2016.


TEU NOME É MEU


E sagrado de mim E teu espírito
E esse duplo divino
A morte confirmada em meu sexo
Uma respiração completa E este silêncio
Confio E berro! Este corpo este
Espírito que me deste
Um presente de chuva de Taxco
Fino como a prata
Um antigo prazer
Obsidiana e jade
Os séculos que te conheci
Mesmo antes conheci teu homem
Mãe sexual de minha elegância
De tua boca de onça.


Tradução de Dalcin Lima, do original inglês e com base na versão espanhola de Hugo Zonáglez postada no blog Huellas en la Ciénaga. Disponível em:< http://huellasenlacienaga.blogspot.com.br/2013/11/sandra-cisneros-el-amor-ese-pez.html>. Acesso em: 07. Maio. 2016.


YOUR NAME IS MINE


And holy to me And your spirit
And that twin of divine
Death granted me in my sex
A complete breath And this silence
I trust And howl This body this
Spirit you gave me
A gift of Taxco rain
Fine as silver
An antique pleasure
Obsidian and jade
The centuries I knew you
Even before I knew your man
Sex mother me the elegance
Of your jaguar mouth.


YOUR NAME IS MINE. In: Sandra Cisneros lah. Disponível em:< http://sandracisneroslah.blogspot.com.br/2012/02/your-name-is-mine.html>. Acesso em: 07. Mai. 2016.

DULZURA


Faz amor comigo em Espanhol.
Não com essa outra língua.
Quero-te juntito a mi,
terno como a linguagem
cantarolada por bebês.
Quero ser assim
embalada, mi bien
querido, assim amada.

Quero-te dentro
da boca do meu coração,
dentro da harpa dos meus pulsos,
a doce carne da manga,
no ouro que baloiça
nas minhas orelhas e pescoço.

Diz o meu nome. Di-lo.
Do modo que é suposto dizê-lo.
Quero saber que já te conhecia
mesmo antes de te conhecer


Tradução de J L Miranda. In: Canto da Alma. Disponível em:< http://cantodaalma-cantodaalma.blogspot.com.br/2015/08/sandra-cisneros-dulzura.html >. Acesso em: 07. Mai. 2016.


DULZURA


Make love to me in Spanish.
Not with that other tongue.
I want you juntito a mi
tender like the language
crooned to babies.
I want to be that
lullabied, mi bien
querido, that loved. 

I want you inside
the mouth of my heart,
inside the harp of my wrists,
the sweet meat of the mango,
in the gold that dangles
from my ears and neck.

Say my name. Say it.
The way it's supposed to be said.
I want to know that I knew you
even before I knew you.


DULZURA. In: livejournal. Disponível em:< http://applebong.livejournal.com/213792.html>. Acesso em; 07. Mai. 2016.

UM ÚLTIMO POEMA PARA RICHARD


24 de dezembro e estamos de novo
desta vez por bem eu sei
porque eu não descartei – e de certa forma nós oscilamos

sem sapatos. sem portas irritantes.
nós empacotamos as roupas e seguimos
nossos caminhos separados.

você deixou pra trás essa sua camisa de flanela
que eu gostava mas lembrou de levar sua escova de dentes.
onde você está esta noite?

Richard, é véspera de natal de novo
e os velhos fantasmas voltam pra casa.
eu estou sentada junto à árvore de natal
me perguntando onde foi que nós erramos.

tudo bem, não deu certo,
e todas as memórias dizem a você que não foram boas.
mas tivemos bons tempos.
o amor era bom.
eu amava seu sono torto ao meu lado e nunca dormi com medo.

devia haver estrelas para grandes guerras 
como a nossa. Deveria haver prêmios 
e abundância de champanhe para os sobreviventes.

depois de todos os anos de degradação,
os inúmeros feriados fracassados,
devia haver algo para comemorar a dor.

algum dia nós vamos esquecer aquele grande desastre chamado Brasil
até lá, Richard, eu te quero muito bem.
eu desejo a você amores e abundância de água quente,
e mulheres mais amáveis do que eu fui com você.
eu esqueci porquê mas eu te amei um dia,
lembra?

talvez nesta época, bêbada e sentimental,
eu esteja disposta a admitir que uma parte de mim,
enlouquecida e suicida, madura para anarquia,
ainda ama.


Tradução de Gemini Storyteller. In: EMMA GUNST. Disponível em:< http://emmagunst.blogspot.com.br/2013/10/sandra-cisneros-un-ultimo-poema-para.html >. Acesso em: 08. Mai. 2016.


ONE LAST POEM FOR RICHARD


December 24th and we’re through again.
This time for good I know because I didn’t
throw you out — and anyway we waved.

No shoes. No angry doors.
We folded clothes and went
our separate ways.

You left behind that flannel shirt
of yours I liked but remembered to take
your toothbrush. Where are you tonight?

Richard, it’s Christmas Ever again
and old ghost come back home.
I’m sitting by the Christmas tree
wondering where did we go wrong.

Okay, we didn’t work, and all
memories to tell you the truth aren’t good.
But sometimes there were good times.
Love was good. I loved your crooked sleep
beside me and never dreamed afraid.

There should be stars for great wars
like ours. There ought to be awards
and plenty of champagne for the survivors.

After all the years of degradations,
the several holidays of failure,
there should be something
to commemorate the pain.

Someday we’ll forget that great Brazil disaster.
Till then, Richard, I wish you well.
I wish you love affairs and plenty of hot water,
and women kinder than I treated you.
I forget the reason, but I loved you once,
remember?

Maybe in this season, drunk
and sentimental, I’m willing to admit
a part of me, crazed and kamikaze,
ripe for anarchy, loves still.


ONE LAST POEM FOR RICHARD. In: EMMA GUNST. Disponível em:< http://emmagunst.blogspot.com.br/2013/10/sandra-cisneros-un-ultimo-poema-para.html >. Acesso em: 08. Mai. 2016.

ME CHAMASTE CORAZÓN


Aquilo foi o bastante
para eu te perdoar
Espírito de um tigre
de sua jaula.
Me chamaste corazón
Daquele momento em diante
coloquei o telefone
de volta ao ganho.

Tua vozinha.
O calor de teus olhos,
como eu teria colocado
minha boca em cada um deles.

Disseste coração
e a palavra ardia
como um ramo de jacarandá.


Tradução de Dalcin Lima, do original inglês e com base na versão espanhola de Hugo Zonáglez postada no blog Huellas en la Ciénaga. Disponível em:< http://huellasenlacienaga.blogspot.com.br/2013/11/sandra-cisneros-el-amor-ese-pez.html>. Acesso em: 08. Maio. 2016.

YOU CALLED ME CORAZÓN


That was enough
for me to forgive you.
To spirit a tiger
from its cell.

Called me corazón
in that instant before
I let go the phone
back to its cradle.

You voice small.
Heat of your eyes,
how I would've placed
my mouth on each.

Said corazón
and the word blazed
like a branch of jacaranda.


YOU CALLED ME CORAZÓN. In: Poetry Society. Disponível em: < https://www.poetrysociety.org/psa/poetry/poetry_in_motion/atlas/chicago/you_cal_me_cor_n/>. Acesso em: 08. Mai. 2016 


24 DE DEZEMBRO, PARIS–NOTRE DAME


O Sena corre ao longo.
Alegremente, alegremente.
O rio. A chuva.
Água n’água.

Um guarda-chuva azul desaparece na bruma.
Uma criança nos braços da mãe.
Pilares pulando delirantes.
O vento na veia das árvores.
A chuva no rio.

Amanhã encontrarão um corpo aqui –
desembrulhado como um poema,
dissolvido como bolacha.
Dizem que é o corpo de uma mulher.
Ofélia Encontrada.
Desfeito o nó fácil e espiralado.
Sem um som.

Um ano termina
alegremente. Alegremente
um outro começa.
Saio para a rua mais uma vez.
Os pulsos cheios de vida.
O coração começa mais uma vez.


Tradução de Dalcin Lima em 08 de maio de 2016.

DECEMBER 24th, PARIS–NOTRE DAME


The Seine runs along.
Merrily, merrily.
The river. The rain.
Water into water.

A blue umbrella fading into fog.
A child into his mother’s arms.
Buttresses leaping delirious.
Wind through the vein of trees.
The rain into the river.

Tomorrow they might find a body here–
unraveled like a poem,
dissolved like wafer.
Say the body was a woman’s.
Ophelia Found.
Undid the easy knot and spiraled.
Without a sound.

A year ends
merrily. Merrily
another one begins.
I go out into the street once more.
The wrists so full of living.
The heart begging once again.


DECEMBER 24th, PARIS–NOTRE DAME. In: Floyce Alexander. Disponível:< http://floycemcalexander.blogspot.com.br/2010/12/on-two-poems-by-sandra-cisneros.html>. Acesso em: 08. Mai. 2016. 

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Sobre Jus et Humanitas

Sou Dalcin Lima, advogado, tradutor e um apaixonado por Línguas e Literatura, especialmente poesia. Sou protetor de animais em geral.
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