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ODE AOS MORTOS CONFEDERADOS E OUTROS POEMAS DE ALLEN TATE


ODE AOS MORTOS CONFEDERADOS


Fileira após fileira impunemente
As lápides dão seus nomes ao elemento,
O vento sopra sem memória;
Nas valas rachadas as folhas desfeitas
Amontoam-se, sacramento imprevisto da natureza
À temporada eterna da morte;
Depois, levadas pelo implacável escrutínio
Do céu até a sua eleição no vasto alento,
Sussurram o rumor da mortalidade.

O outono é desolação no pedaço de terra
De mil acres onde crescem estar memórias
De corpos inesgotáveis que não estão
Mortos, mas nutrem o capim fileira após fértil fileira.
Pensa nos outonos que vieram e se foram! —
Novembro ambicioso com os humores do ano,
Com especial carinho para cada laje,
Mancha os incômodos anjos que se arruínam.
Nas lajes, uma asa quebrada ali, um braço além.
A curiosidade inconsciente do olhar fixo de um anjo
Transforma-te, como eles, em pedra,
Transforma o ar agitado
Até que descendo a um mundo mais denso
Te locomoves, cegamente, no teu espaço submarino
Trêmulo, girando como caranguejo cego.

Enlouquecidas pelo vento, somente o vento,
As folhas, voando, precipitam-se

Tu sabes quem espera perto do muro
A certeza crepuscular do animal,
Essas restituições noturnas do sangue;
Tu sabes — os implacáveis pinheiros, o frio esfumado
Do céu, a chamada repentina, tu sabes da raiva,
Da poça fria, deixada pela onda que sai,
De Zenão e Parmênides emudecidos.
Tu que esperas a decisão irada
Dos desejos que amanhã seriam teus,
Tu sabes da breve pausa da morte
E exaltas a visão
E exaltas a arrogante circunstância
Daqueles que caíram
Camadas sobre camadas, precipitados além da decisão —
Aqui junto ao portão empenado, cercado pelo muro.

Vendo, vendo somente as folhas que,
Voando, precipitam-se e expiram

Volta teus olhos para o passado imoderado,
Para a impenetrável infantaria que acorda
Demônios da terra — eles não permanecerão.
Stonewall, Stonewall, e os campos cobertos de cânhamo
Shiloh, Antietam, Malvern Hill, Bull Run.
Perdidos nesse oriente de obstinados
Amaldiçoarás o sol poente.

Amaldiçoando somente as folhas, chorando
Como um velho à deriva na tempestade

Escuta o grito, as cicutas loucas apontam
Com dedos perturbados o silêncio que
Te sufoca, múmia, no tempo.
A galpa desdentada
E moribunda, numa cave bolorenta,
Ouve somente o vento.
Agora que o sal do sangue deles
Endurece o esquecimento mais salgado do mar,
Sela a maligna pureza da onda,
Que fazer, nós que contamos os dias e inclinamos
Nossas cabeças para comemorar com dor
Em vestes engalanadas com fitas de uma sinistra felicidade,
Que dizer dos ossos imundos,
Nos quais o verde anônimo vai crescendo?
Os braços esfarrapados, as cabeças e olhos esfarrapados`
Perdidos nestes acres de verde demente?
As lázaras aranhas cinzentas vêm, vão e voltam;
Numa confusão de salgueiros sem luz
O canto singular do mocho
Semeia na mente versos invisíveis
Com o murmúrio furioso da cavalaria.

Diremos somente que as folhas,
voando, precipitam-se e expiram

Diremos somente das folhas rumorejantes
Na névoa improvável do cair da noite
Que voa em asa múltipla;
A noite é o princípio e o fim
E aí, nesse meio de transtorno,
Espera, a especulação calada, a maldição paciente
Que petrifica os olhos ou, como o jaguar salta
Sobre sua própria imagem, sua vítima, numa poça na selva.
Que dizer, nós que temos o conhecimento
Gravado no coração? Carregaremos a ação
Até o túmulo? Construiremos mais esperançosos
O túmulo em casa? Túmulo voraz?
Deixa agora
O portão fechado e o muro em ruínas
A dócil serpente, verde nos ramos da amoreira,
Agita a língua no silêncio —
Sentinela do túmulo, que a todos enumera.


Tradução de Celso Lemos de Oliveira. In: Escritablog. Disponível em:< http://escritablog.blogspot.com.br/2011/04/o-de-um-heroismo-em-grande-estilo-allen.html>. Acesso em: 13. Mai. 2016.

ODE TO THE CONFEDERATE DEAD


Row after row with strict impunity
The headstones yield their names to the element,
The wind whirrs without recollection;
In the riven troughs the splayed leaves
Pile up, of nature the casual sacrament
To the seasonal eternity of death;
Then driven by the fierce scrutiny
Of heaven to their election in the vast breath,
They sough the rumour of mortality.

Autumn is desolation in the plot
Of a thousand acres where these memories grow
From the inexhaustible bodies that are not
Dead, but feed the grass row after rich row.
Think of the autumns that have come and gone!--
Ambitious November with the humors of the year,
With a particular zeal for every slab,
Staining the uncomfortable angels that rot
On the slabs, a wing chipped here, an arm there:
The brute curiosity of an angel’s stare
Turns you, like them, to stone,
Transforms the heaving air
Till plunged to a heavier world below
You shift your sea-space blindly
Heaving, turning like the blind crab.

Dazed by the wind, only the wind
The leaves flying, plunge

You know who have waited by the wall
The twilight certainty of an animal,
Those midnight restitutions of the blood
You know--the immitigable pines, the smoky frieze
Of the sky, the sudden call: you know the rage,
The cold pool left by the mounting flood,
Of muted Zeno and Parmenides.
You who have waited for the angry resolution
Of those desires that should be yours tomorrow,
You know the unimportant shrift of death
And praise the vision
And praise the arrogant circumstance
Of those who fall
Rank upon rank, hurried beyond decision--
Here by the sagging gate, stopped by the wall.

Seeing, seeing only the leaves
Flying, plunge and expire

Turn your eyes to the immoderate past,
Turn to the inscrutable infantry rising
Demons out of the earth they will not last.
Stonewall, Stonewall, and the sunken fields of hemp,
Shiloh, Antietam, Malvern Hill, Bull Run.
Lost in that orient of the thick and fast
You will curse the setting sun.

Cursing only the leaves crying
Like an old man in a storm

You hear the shout, the crazy hemlocks point
With troubled fingers to the silence which
Smothers you, a mummy, in time.

The hound bitch
Toothless and dying, in a musty cellar
Hears the wind only.

Now that the salt of their blood
Stiffens the saltier oblivion of the sea,
Seals the malignant purity of the flood,
What shall we who count our days and bow
Our heads with a commemorial woe
In the ribboned coats of grim felicity,
What shall we say of the bones, unclean,
Whose verdurous anonymity will grow?
The ragged arms, the ragged heads and eyes
Lost in these acres of the insane green?
The gray lean spiders come, they come and go;
In a tangle of willows without light
The singular screech-owl’s tight
Invisible lyric seeds the mind
With the furious murmur of their chivalry.

We shall say only the leaves
Flying, plunge and expire

We shall say only the leaves whispering
In the improbable mist of nightfall
That flies on multiple wing:
Night is the beginning and the end
And in between the ends of distraction
Waits mute speculation, the patient curse
That stones the eyes, or like the jaguar leaps
For his own image in a jungle pool, his victim.

What shall we say who have knowledge
Carried to the heart? Shall we take the act
To the grave? Shall we, more hopeful, set up the grave
In the house? The ravenous grave?

Leave now
The shut gate and the decomposing wall:
The gentle serpent, green in the mulberry bush,
Riots with his tongue through the hush--
Sentinel of the grave who counts us all!


ODE TO THE CONFEDERATE DEAD. In: Academy of American Poets. Disponível em: <https://www.poets.org/poetsorg/poem/ode-confederate-dead>. Acesso em: 13. Mai. 2016;


O PARADIGMA

Porque quando se encontram, o ar extensível
Como fino aço abraça o peso
Das mensagens que ambos os corações ostentam
Uma vez pura paixão, agora ódio puro;

Até que o ar tenso como uma fria mão
Apertada a mão fria e, osso a osso,
Sepulta-as em sua terra congelada
(Alguns pés quadrados) onde em ossos

Dois corações prontamente se transformam e transitam
Mais uma vez em seu mundo impenetrável;
Assim desbota cada coração neste espelho
Cuja imagem é a superfície arremessada

Por todo o ar; ar, cristal não é;
Assim é seu efêmero antagonismo
Como um duro espelho quebrado por aquele
Que a qualidade do ar pode ser.

Porque pelo ar se encontram todos os amantes
Logo os converte em ódio seu amor;
O amor é somente o eco da partida
Capturado pelo raio de sol que se estende

Sobre o exílio gelado da terra
E se perde. Cada um é o crime do outro.
Esta é sua igualdade ao nascer,
O ódio, seu ignorante paradigma.


Traduzido do original inglês por Dalcin Lima, aos 13 de maio de 2016, tendo por suporte a tradução espanhola de Luis Benítez. In: Espacio Latino. Disponível em:< http://letras-uruguay.espaciolatino.com/aaa/benitez_luis/allen_tate.htm>. Acesso em: 13. Mai. 2016.


THE PARADIGM


For when they meet, the tensile air
Like fine steel strains under the weight
Of messages that both hearts bear-
Pure passion once, now purest hate;

Till the taut air like a cold hand -
Clasped to cold hand and bone to bone
Seals them up in their icy land
(A few square feet) where into stone

The two hearts turning quickly pass
Once more their impenetrable world;
So fades out each heart´s looking-glass
Whose image is the surface hurled

By all the air; air, glas is not;
So is their fleeting enmity
Like a hard mirror crashed by what
The quality of air must be.

For in the air all lovers meet
After they´ve hated out their love;
Love´s but the echo of retreat
Caught by the sunbeam stretched above.

Their frozen exile from the earth
And lost. Each is the other´s crime.
This is their equity in birth-
Hate is its ignorant paradigm.


THE PARADIGM. In: Poem Hunter. Disponível em:< http://www.poemhunter.com/poem/the-paradigm/>. Acesso em: 13. Mai. 2016.


ODE AO MEDO


Que o dia resplandeça: ó, memória, tua rosa
Golpeia ao pulso da sufocante noite,
A noite perscruta com sua cabeça escura, mas ardente,
Queima ao dia sua tensa e secreta luz.

Agora eles não ousam interpretar teu sonho selvagem,
Ó fera do coração, aqueles santos que amaldiçoam teu nome;
És a correnteza do rio congelado,
Sombra invisível, espreitante e atenta chama.

Meu mais velho companheiro presente na solidão,
Vigilante cão tebano quando o herói cego lutou:
Tu, omnisciente, na encruzilhada presente
Quando Layo, o velho assassino, encharcado bosque.

Agora ao olhar da invulnerável profecia,
Desfalecido e arrasado, nos caça na rua
Nos recessos do meio dia de agosto,
Alerta o mundo acima, rastejando aos pés do ar.

És nossa segurança de uma vida imortal,
Ódio de Deus à mácula universal,
A herança, ó medo, da antiga batalha
Criado com o tecido das veias.

E quando tudo foi dito vi tua forma,
Mais ágil e mais traiçoeira para o mundo
Quando, numa prolongada jornada da infância, uma tormenta seca
Explodiu entre os cedros, arremessado e inflamado pelo sol!


Traduzido do original inglês por Dalcin Lima, aos 13 de maio de 2016, tendo por suporte a tradução espanhola de Luis Benítez. In: Espacio Latino. Disponível em:< http://letras-uruguay.espaciolatino.com/aaa/benitez_luis/allen_tate.htm>. Acesso em: 13. Mai. 2016.


ODE TO FEAR


Let the day glare: O memory, your tread
Beats to the pulse of suffocating night-
Night peering from his dark but fire-lit head
Burns on the day his tense and secret light.

Now they dare not to gloss your savage dream,
O beast of the heart, those saints who cursed your name;
You are the current of the frozen stream,
Shadow invisible, ambushed and vigilant flame.

My eldest companion present in solitude,
Watch-dog of Thebes when the blind hero strove:
You, omniscient, at the cross-roads stood
When Laius, the slain dotard, drenched the grove.

Now to the eye of prphecy immune,
Fading and harried, you stalk us in the street
From the recesses of the August noon,
Alert world over, crouched on the air´s feet.

You are our surety to immortal life,
God´s hatred of the universal stain-
The heritage, O Fear, of ancient strife
Compounded with the tissue of the vein.

And I when all is said have see your form
Most agile and most treacherous to the world
When, on a child´s long day, a dry storm
Burst on the cedars, lit by the sun and hurled!


ODE TO FEAR. In: Poem Hunter. Disponível em:< http://www.poemhunter.com/best-poems/allen-tate/ode-to-fear-2/>. Acesso em: 13. Mai. 2016.


ESTRANHO


Esta é a cidade onde o funeral
Cravou sua marcha empoeirada sobre profundos sucos
Acima da ladeira coberta com margaridinhas
Até o trecho de ervas daninhas a todos finalmente conhecido.

De suas virtudes grande línguas falam em voz alta
Como eu, um estranho, caminhando pelas ruas
Alegre com as fofocas: sonoro murmúrio de uns poucos
Malicioso piadista que forçou um gracejo da mortalha.

A morte era para isso.
Eu não veria nunca mais estes homens
E todavia, como uma vivacidade de um mal relembrado —
Uma questão de consciência, diz-se —
O frio coração da morte estava batendo em meu cérebro:
Uma nova figuração de um velho fenômeno.

Esta é a cidade onde mulheres andam pelas ruas
Vendendo ovos, seios murchos, mãos como açoite de couro;
Tinas de lavar roupas são o símbolo de de suas virtudes
Mas é hora de cantar quando elas morrem,

E então o símbolo muda com a mudança de lugar.
Deixa os abanos abanarem enquanto os carregadores de caixão sobem a colina.
Deixa a laje nova mudar de expressão ao pôr do sol:
A noite desce com um encanto sombrio.


Tradução de Dalcin Lima aos 13 de maio de 2016.


STRANGER


This is the village where the funeral
Stilted its dusty march over deep ruts
Up the hillside covered with queen’s lace
To the patch of weeds known finally to all.

Of her virtues large tongues were loud
As I, a stranger, trudged the streets
Gay with huckstering: loud whispers from a few
Sly wags who squeezed a humor from the shroud.

For this was death.
I should never see these men again
And yet, like the swiftness of remembered evil —
An issue for conscience, say —
The cold heart of death was beating in my brain:
A new figuration of an old phenomenon.

This is the village where women walk the streets
Selling eggs, breasts ungathered, hands like rawhide;
Of their virtues the symbol can be washtubs
But when they die it is a time of singing,

And then the symbol changes with change of place.
Let the wags wag as the pall-bearers climb the hill.
Let a new slab look off into the sunset:
The night drops down with sullen grace.


STRANGER. In: Poetry Foundation. Disponível em:< http://www.poetryfoundation.org/poems-and-poets/poems/detail/54016>. Acesso em: 13. Mai. 2016. 


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Sobre Jus et Humanitas

Sou Dalcin Lima, advogado, tradutor e um apaixonado por Línguas e Literatura, especialmente poesia. Sou protetor de animais em geral.
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