Em minha mente, eu caso contigo a cada ano
é para acalmar uma extravagância do amor
com costume apagada, pois se acende feroz
e selvagem quando esquecemos que vivemos
em quartos duplos cuja temperatura é controlada
pelo termostato apagado do matrimônio.
Preciso de técnica mnemônica, agora que estamos velhos,
de juramentos e lei para rememorá-lo.
Nossos cachorros estão mortos, nossas crianças nunca se tornaram realidade.
Poderia acabar-me, na minha falta de juízo,
todo o completo suplemento de calor humano em ti
antes de pensar nos outros e desviar-me.
“O amor” é encontrar o querido da família
“Apaixonado” é ser tomado de surpresa.
Uma vez na cara suspeita que usas,
e outra vez, na importância de teus olhos,
tu mudas, e com um nova doce e espinhenta palavra
encontras novas entradas para meu mais íntima força.
Quando paras diante da estufa, sou eu que mais me agito.
Quando acabas de trabalhar eu descanso sem reservas.
No dia, algumas vezes, nossa carreira de três pernas parece lenta.
Discutindo adiante, nos irritamos por estar tão perto.
Mas durante toda a noite nos deitamos como crescentes de Velcro,
voltando-nos juntos até nos readerirmos.
Até ti, com passos largos e uma melhor visão,
minha própria inquietação, para manter-me em condição,
com luz e renunciando a vida de comidas de fumo.
Como quando um colecionador escava dois Monarcas de
só vez, cujos voos frescos vão de uma até a outra
debaixo da rede, assim em votos eu reimagino
e reinovoco aqueles que nos mantém velhos juntos.
O que tentas dar é mais do que quero receber,
ainda que a cada mês quando pegas as tesouras para nosso encontro
e meu cabelo cortado cai e cobre teus pés, eu acredito
que a casa está cheia novamente com o cheiro de perfume.
Tradução do original por Dalcin Lima, em 26 de maio de 2016, baseada na versão espanhola de Andrea Muriel, in: Círculo de Poesía. Disponível em:< http://circulodepoesia.com/2015/05/pulitzer-prize-1991-mona-van-duyn/>. Acesso em: 26. Mai. 2016.
LATE LOVING
“What Christ was saying, what he meant [in the story of Mary and Martha] was that the pleasures of that hair, that ointment, must be taken. Because the accidents of death would deprive us soon enough. We must not deprive ourselves, our loved ones, of the luxury of our extravagant affections. We must not try to second-guess by refusing to love the ones we loved...” — Mary Gordon, Final Payments
If in my mind I marry you every year
it is to calm an extravagance of love
with dousing custom, for it flames up fierce
and wild whenever I forget that we live
in double rooms whose temperature’s controlled
by matrimony’s turned-down thermostat.
I need the mnemonics, now that we are old,
of oath and law in rememorizing that.
Our dogs are dead, our child never came true.
I might use up, in my weak-mindedness,
the whole human supply of warmth on you
before I could think of others and digress.
“Love” is finding the familiar dear.
“In love” is to be taken by surprise.
Over, in the shifty face you wear,
and over, in the assessments of your eyes,
you change, and with new sweet or barbed word
find out new entrances to my inmost nerve.
When you stand at the stove it’s I who am most stirred.
When you finish work I rest without reserve.
Daytimes, sometimes, our three-legged race seems slow.
Squabbling onward, we chafe from being so near.
But all night long we lie like crescents of Velcro,
turning together till we readhere.
Since you, with longer stride and better vision,
my hurrying self, to keep it in condition,
with light and life-renouncing meals of smoke.
As when a collector scoops two Monarchs in
at once, whose fresh flights to and from each other
are netted down, so in vows I re-imagine
I re-invoke what keeps us stale together.
What you try to give is more than I want to receive,
yet each month when you pick up scissors for our appointment
and my cut hair falls and covers your feet I believe
that the house is filled again with the odor of ointment.
LATE LOVING. In: Círculo de Poesía. Disponível em:< http://circulodepoesia.com/2015/05/pulitzer-prize-1991-mona-van-duyn/>. Acesso em: 26. Mai. 2016.
PRÓXIMO A MUDANÇAS
Do “The Year’s Top Trivia,”
Sandford Teller, Information Please Almanac, 1979
“Bob Holt, um homem de 20 de Seattle,
vinha caminhando tranquilamente numa rua do centro da cidade,
disfarçado como um pato silvestre,
quando foi – sem motivo aparente –
atacado por um homem forte, de 1,82 de altura,
um estanho barbado.
o meliante o girou por uma das asas,
arrancou seu bico de pato,
bateu-lhe na cabeça com dito bico,
e se evadiu.
Holt, que estava vestido como um pato
para promover uma estação de rádio local,
não teve nenhuma explicação para o incidente.
Ele falou para a polícia,
‘eu não falei com ele,
não bati minhas asas
nem fiz alguma coisa do tipo'”
Esta é uma trivialidade, afinal,
ou uma história profunda?
Os deuses costumavam fazer isso,
para eles mesmos e para os mortais,
às vezes por misericórdia,
às vezes por um poder cego inclemente,
mas o resto de nós apenas sensibiliza-se em raras ocasiões
de nossas inalteráveis vidas pela dar-lhe um sentido,
de como se sentiria ser touro ou cisne,
ou uma obsessivamente inquieta aranha ou mesmo
um podado e saqueado
loureiro,
porque “Sair de si mesmo…,” disse Vargas Llosa,
“é uma maneira... de experimentar
os riscos da liberdade”.
Com a ajuda das plumas de papel
fornecida pela estação local de rádio,
amoldando-se a sua nova forma,
chegando a ter uma cabeça verde, um peito ruivo,
com um nítido colar branco no pescoço e um bico amarelo,
caminhando calmamente,
um homem de Seattle começou tornar-se aviário
em uma rua do centro da cidade,
ainda que a metamorfose foi completada pela metade
já que ele não podia dizer mais tarde,
“Não grasnei para ele”,
mas não pude dizer aos detetives, “Não bati minhas asas
nem fiz algo parecido”.
E o estranho barbado?
Profético como Leda, ele sentiu a presença
que para os demais não era evidente,
e estava apenas protegendo seu ninho,
o tijolo e o concreto de Sears e estações de serviço
donde o braço que termina em quatro dedos
e um polegar contrário
ao toque de um botão
aquece e esfria a pele vulnerável
e o cérebro em sua querida caixa de lábios esvaziando-se de linguagem
e ilumina os esconderijos do espaço
e atrai a cadência dos automóveis
e Beethoven para cobrir
a silenciosa rotação do mundo,
cujo botão está além de seu alcance,
a não ser que de regresso ao ninho, com um toque alado
da imaginação humana,
se transformem antigas crenças,
às vezes por misericórdia,
às vezes por cega inclemência –
em vastas e silenciosas águas,
por cuja costa de juncos
Bob Holt estava costeando para aterrissar,
sem bater suas asas.
Tradução do original por Dalcin Lima, em 26 de maio de 2016, baseada na versão espanhola de Andrea Muriel, in: Círculo de Poesía. Disponível em:< http://circulodepoesia.com/2015/05/pulitzer-prize-1991-mona-van-duyn/>. Acesso em: 26. Mai. 2016.
NEAR CHANGES
from “The Year’s Top Trivia,”
Sanford Teller, Information Please Almanac, 1979
“Bob Holt, a 20-year old Seattle man,
was quietly walking on a downtown street,
disguised as a mallard duck,
when he was–for no apparent reason–
attacked by a husky, 6-foot tall
bearded stranger.
The perpetrator spun him around by one wing,
tore off his duck bill,
hit him over the head with it,
and ran away.
Holt, who was dressed as a duck
to promote a local radio station,
had no explanation for the incident.
He told police,
‘I didn’t speak to him,
I didn’t flap my wings
or do anything like that.’”
Is this trivia, after all,
or a profound story?
The gods used to do it,
to themselves and to mortals,
sometimes in mercy,
sometimes out of blind merciless power,
but the rest of us only yearn in odd moments
of our fixed lives for the sense of it,
of how it would feel to be bull or swan,
or obsessively weaving spider or even
the plucked and plundered
tree of bay,
for “Emerging from one’s own self…,” says Llosa,
“is a way…of experiencing
the risks of freedom.”
With the help of paper feathers
supplied by a local radio station,
settling into his new shape,
having become green-headed, rufous-breasted,
with bold white neckring and yellow bill,
walking quietly along,
a Seattle man began to turn avian
on a downtown street,
though the metamorphosis was only half completed
since he could not quite say later,
“I didn’t quack at him,”
but could say to fact-finders, “I didn’t flap my wings
or do anything like that.”
And the bearded stranger?
Prescient as Leda, he sensed the presence
which to others was not apparent,
and was only protecting his nest,
the brick and concrete of Sears and service stations
where the arm that ends in four fingers
and an opposable thumb
at one touch of a button
warms and cools the vulnerable flesh
and the brain in its dear, lip-voiding box of language
and lights the concealments of space
and brings forth the cadence of cars
and Beethoven to cover
the soundless spin of the globe
whose button is beyond its reach,
lest that nest return, at the wingéd touch
of the human imagination,
which transforms past belief,
sometimes in mercy,
sometimes in blind mercilessness,
to vast and silent waters
toward whose reedy edge
Bob Holt was coasting in for a landing,
without flapping his wings.
NEAR CHANGES. In: Círculo de Poesía. Disponível em:< http://circulodepoesia.com/2015/05/pulitzer-prize-1991-mona-van-duyn/>. Acesso em: 26. Mai. 2016.
SONETO PARA MINIMALISTAS
Da nova peônia,
meu último hino,
um esquilo por diversão
quebrou a haste florida.
Eu pensei, onde está a alegria
sem o fresco vicejar,
que é a estratégia do velho coração
para disfarçar a sepultura?
Então um espontâneo
talo brotado do azedo
bicado dos pássaros neste ano
irrompeu numa frenética flor.
O mundo é perverso,
mas poderia ser pior.
Tradução do original por Dalcin Lima, em 26 de maio de 2016.
SONNET FOR MINIMALISTS
From a new peony,
my last anthem,
a squirrel in glee
broke the budded stem.
I thought, Where is joy
without fresh bloom,
that old hearts’ ploy
to mask the tomb?
Then a volunteer
stalk sprung from sour
bird-drop this year
burst in frantic flower.
The world’s perverse,
but it could be worse.
SONNET FOR MINIMALISTS. In: Knopf Doubleday Publishing Group. Disponível em:< http://knopfdoubleday.com/2013/04/18/april-16-knopf-poem-a-day-mona-van-duyns-sonnet-for-minimalists/>. Acesso em: 26. Mai. 2016.
NA CAMA COM UM LIVRO
Nos procedimentos policiais, eles estão morrendo por toda a cidade,
a vida lhes foi arrancada por arma de fogo, para-choque, faca,
martelo, droga, etcetera e nenhuma pista em absoluto.
Por todo o livro os apelos vêm: corpo encontrado
na cama, carro, rua, lago, parque, oficina, biblioteca,
e alguém vá buscá-lo e escrevê-lo.
A morte começa com a completa rotina da vida
nessas histórias de nossos concidadãos.
Ninguém viu o que aconteceu, ou todo mundo viu,
mas ninguém pode lembrar o carro. Que diferença faz
quando o garoto nunca se apaixonará, a garota nunca terá
um filho, o homem nunca verá um neto, a solteirona
nunca terá outro copo de chocolate quente antes de deitar-se?
Como a vida, os mortos estão mortos, sua consciência,
tão querida para eles como a minha para mim, apagou-se.
O que tem a mente que fazer com isso, quando a terra está desolada?
Deito-me, com meus queridos, segurando um guarda-chuva fictício
enquanto a nossa volta cai a chuva real e ácida.
O cabo cresce mais e mais pesado em minha mão.
A diferença da vida, amanhã à noite abaixo da lâmpada da cabeceira
por uma conexão rápida do pensamento alguém descobrirá porque
e os policiais e suas esposas e eu nos sentiremos melhor.
Mas tudo isso vai até o final do livro.
Entretanto, hoje à noite,
sem uma pista, entro numa pequena repetição do sono.
Tradução do original por Dalcin Lima, em 27 de maio de 2016, baseado na versão espanhola presente no site Academia Paraninfo. Disponível em:< https://academiaparaninfo.wordpress.com/2016/02/08/mona-van-duyn-in-bed-with-a-book-poesias-escogidas-en-ingles-traducidas-al-espanol-biografia-y-obras/>. Acesso em: 27. Mai. 2016.
IN BED WITH A BOOK
In police procedurals they are dying all over town,
the life ripped out of them, by gun, bumper, knife,
hammer, dope, etcetera, and no clues at all.
All through the book the calls come in: body found
in bed, car, street, lake, park, garage, library,
and someone goes out to look and write it down.
Death begins life’s whole routine to-do
in these stories of our fellow citizens.
Nobody saw it happen, or everyone saw,
but can’t remember the car. What difference does it make
when the child will never fall in love, the girl will never
have a child, the man will never see a grandchild, the old maid
will never have another cup of hot cocoa at bedtime?
Like life, the dead are dead, their consciousness,
as dear to them as mine to me, snuffed out.
What has mind to do with this, when the earth is bereaved?
I lie, with my dear ones, holding a fictive umbrella,
while around us falls the real and acid rain.
The handle grows heavier and heavier in my hand.
Unlike life, tomorrow night under the bedlamp
by a quick link of thought someone will find out why,
and the policemen and their wives and I will feel better.
But all that’s toward the end of the book. Meantime, tonight,
without a clue I enter sleep’s little rehearsal.
IN BED WITH A BOOK. In: The Writer’s Almanac. Disponível em: <http://writersalmanac.publicradio.org/index.php?date=2003/07/23>. Acesso em: 27. Mai. 2016.
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