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SETE POEMAS DE JUDITH HARRIS




 PRIMEIRA NEVADA EM SCHENECTADY (*)


Os nativos disseram que demorava meses,
ao passo que saímos de viagem pelas estalagens históricas,
pegadas congeladas, as mesmas pegadas que o atendente do bar nos disse que
George Washington desceu
depois de feito alojamento lá por uma noite — enquanto

velejava Hudson acima, recrutando soldados,
uma carta de agradecimento assinada agora emoldurada,
no papel de parede florido do corredor,
as escadas, estreitas e íngremes, rangendo
como juntas artríticas, as asas de estanho

de pombas plangentes, audíveis no carvalho musculoso.
Subimos no banco traseiro do táxi,
o taxista fugindo das crosta de gelo,
o taxímetro tique-taqueando, nenhuma torradeira matutina, nenhum transeunte,
as lavanderias, o salão de tatuagem, todos desertos.

Dirigimos descendo a Rua Principal,
os pneus desviando para se afastar do gelo escuro
além dos tijolos em ruína da Prefeitura,
e os arruinados trilhos da estrada de ferro.
Lojas, fechadas, uma padaria de esquina, portas cravadas de pregos.
A antiquada cadeia e a prisão militar
convertidas em museus turísticos.

Oh mundo, oh neve, como pausou aqui
na orla da madrugada, surda, no silêncio,
flocos de neve presos na auréola do clarão de luz
acumulando-se nas lixeiras, num galinheiro,
uma branca coberta tipo edredom estende-se
sobre os campos como se tentasse esquentar o gelo glacial,

enquanto sentados atrás, conduzidos cegamente numa fuga,
numa curva fechada na rampa de saída, rumo ao aeroporto
e podemos distinguir caranguejeira albinas
espalhadas por milhas,
a neve decaindo e subindo, abaixo de uma miragem profunda,
banhando de branco os celeiros estragados pelo tempo
e um cemitério instalado dentro de uma campina,
que foi uma vez um patriótico campo de batalha,
a neve cobrindo as lápides inclinadas,
encobertas e agora sem nome,
anjos de pedra reunindo-se a proteger os túmulos,
intocados, ordenados.

Tradução de Dalcin Lima, aos 21 de junho de 2016.

(*) Nota do tradutor: Schenectady é uma cidade localizada no Condado de Schenectady, Nova Iorque, Estados Unidos. In: Google search.

FIRST SNOW IN SCHENECTADY


It held off for months the locals said,
as we start down the historic Inn's
icy steps, the same steps the bartender told us
George Washington descended
after taking lodging there for a night—as he

sailed up the Hudson, recruiting soldiers,
a signed letter of gratitude now framed,
on a hallway's floral wallpaper,
the stairs, narrow and arduous, creaking
as arthritic joints, the tinny wings

of mourning doves, audible in the muscled oak.
We climb into the back seat of the taxi,
the cabbie brushing off scabs of ice,
meter ticking, no early breakfasters, no passersby,
the dry cleaners, tattoo parlor, all deserted.

We drive down Main Street,
tires swerving to avert black ice
past the crumbling bricks of the State House,
and the dilapidated railroad tracks.
Shops, foreclosed, a corner bakery, nailed-up.
The obsolete jail and stockade
converted into tourist museums.

Oh world, oh snow, how it pauses here
at the ledge of dawn, listless, in silence,
snowflakes caught in a halo of light's glare
piling up on dumpsters, a chicken coop,
a white eiderdown coverlet spread out
upon the fields as if trying to warm the frigid cold,

as we sit back, driven blindly into a fugue,
into a sharp curve on the exit ramp, toward the airport
and we can make out albino spider-birches
stretched out for miles,
snow sloping and rising, under deep revision,
white-washing the time-weathered barns
and a graveyard set within a meadow,
once a patriot's battleground,
snow covering the toppled headstones,
veiled and nameless now,
stony angels flocking to protect the tombs,
untouched, unbidden.

FIRST SNOW IN SCHENECTADY. In: Cortland Review. Disponível em:< http://www.cortlandreview.com/features/12/spring/harris.php.>. Acesso: 21. Jun. 2016.


COLETANDO FOLHAS NA ESCOLA PRIMÁRIA


Elas eram ovais e lisas,
e algumas tinham tom de batatas —
algumas tinham sido comidas por mariposa
ou manchadas, os bordos
estavam resinosos, e crepitavam
como fogueira de acampamento.

Nós as colocávamos abaixo do papel de desenho
e esfregávamos nossos lápis de cor
sobre elas, fazendo um raio x
da expansão de seus esqueletos,
catacumbas de nervura negra.

As coloríamos de verde e marrom,
e laranja, e
as recortávamos ao longo das bordas,
etiquetando-as de caducas
ou sempre-vivas.

O dia todo, no ar abafado da sala de aula,
com seu globo de olho vesgo,
e mapas náuticos do fundo do oceano,
eu olhava aquelas folhas

perdidas em seus próprios mundos
pendentes nos alfinetes dos flanelógrafos:
sem ramos ou raízes,
ou mesmo um céu para se pendurar.

Tradução de Dalcin Lima aos 21 de junho de 2016.


GATHERING LEAVES IN GRADE SCHOOL

They were smooth ovals,
and some the shade of potatoes—
some had been moth-eaten
or spotted, the maples
were starched, and crackled
like campfire.

We put them under tracing paper
and rubbed our crayons
over them, X-raying
the spread of their bones
and black, veined catacombs.

We colored them green and brown
and orange, and
cut them out along the edges,
labeling them deciduous
or evergreen.

All day, in the stuffy air of the classroom,
with its cockeyed globe,
and nautical maps of ocean floors,
I watched those leaves

lost in their own worlds
flap on the pins of the bulletin boards:
without branches or roots,
or even a sky to hold on to.

GATHERING LEAVES IN GRADE SCHOOL. In: Poetry Foundation. Disponível em: . Acesso em: 21. Jun. 2016.


FINAL DE UM DIA DE MERCADO


Às cinco, o mercado fecha.
Raízes de bardana, salsinha e nabo sueco
são despejadas de volta nos caminhões.
O antiquado revendedor derruba suas bancas.

A luz salpica, num casaco de inverno
compradores procuram por pechincha:
um bule para chá ou bijuteria,
uma saca arrebatada de hortaliças sem valor para um guisado.

Agora é a hora do crepúsculo, a esposa do fazendeiro
embrulhada no seu casaco de lã e avental de bolso
faz sua prestação de contas numa caixa de metal
e acena para seu filho crescido

de volta de uma excursão pelo Iraque,
enquanto o mesmo espera no vagão da estação
com uma música sertaneja tocando bem alto,
e sua perna protética metralhando a locomotiva.

Tradução de Dalcin Lima aos 21 de junho de 2016.


END OF MARKET DAY


At five, the market is closing.
Burdock roots, parsley, and rutabagas
are poured back into the trucks.
The antique dealer breaks down his tables.

Light dappled, in winter parkas
shoppers hunt for bargains:
a teapot, or costume jewelry,
a grab bag of rubbishy vegetables for stew.

Now twilight, the farmer’s wife
bundled in her tweed coat and pocket apron
counts out her cash from a metal box,
and nods to her grown-up son

back from a tour in Iraq,
as he waits in the station wagon
with the country music turned way up,
his prosthetic leg gunning the engine.

END OF MARKET DAY. In: Poetry Foundation. Disponível em: . Acesso em: 21. Jun. 2016.


MINHA MÃE VAI VOTAR


Andamos cinco quarteirões
até a escola primária,
os saltos altos de minha mãe
estalando pelo cascalho do pátio.
Entramos por uma porta lateral.

Pelo corredor abaixo,
decorado com máscaras do Halloween,
pôsteres de segurança do departamento de saúde —
seguimos as setas
até a sala do terceiro ano.

Minha mãe entrou sozinha
na cabina eleitoral, puxou a cortina atrás de si.
Podia ver apenas as costas de
suas panturrilhas nas meias enrugadas de nylon.

Desaparecendo em parte, reaparecendo novamente
um livro de bolso encurvado no seu cotovelo,
um broche de nosso prefeito alfinetado na sua lapela.
Ainda que eu pudesse ver – escolher
é seguir o que já
foi decidido.

Caminhamos de volta
encontrando um novo caminho de volta rua abaixo
batizado com nome de flores
ou de homens de renome.
Eu falava seus nomes em voz alta enquanto achávamos

nosso caminho para casa, à casa enganchada,
a luz do devotado alpendre deixada acesa,
a costumeira torta de carne.
Eu me recordo que, na sala de aula convertida
num local de votação —
havia duas mães, palestrando
apertadas nas cadeiras das carteiras das crianças.

Tradução de Dalcin Lima aos 20 de junho de 2016.


MY MOTHER GOES TO VOTE


We walked five blocks
to the elementary school,
my mother’s high heels
crunching through playground gravel.
We entered through a side door.

Down the long corridor,
decorated with Halloween masks,
health department safety posters—
we followed the arrows
to the third grade classroom.

My mother stepped alone
into the booth, pulling the curtain behind her.
I could see only the backs of her
calves in crinkled nylons.

A partial vanishing, then reappearing
pocketbook crooked on her elbow,
our mayor’s button pinned to her lapel.
Even then I could see—to choose
is to follow what has already
been decided.

We marched back out
finding a new way back down streets
named for flowers
and accomplished men.
I said their names out loud, as we found

our way home, to the cramped house,
the devoted porch light left on,
the customary meatloaf.
I remember, in the classroom converted
into a voting place—
there were two mothers, conversing,
squeezed into the children’s desk chairs.

MY MOTHER GOES TO VOTE. In: Poetry Foundation. Disponível em: < http://www.poetryfoundation.org/poems-and-poets/poems/detail/55821>. Acesso em: 20. Jun. 2016.

PENSANDO EM MINHA MORTE


O céu é azul tímido.
Palavras não cantam, aqui,
e os pinheiros enferrujados
mantêm pendentes suas pesadas cabeças.

Não consigo lembrar o som
de uma voz
ou o cheiro da pele de alguém.
Estou finalmente sozinha aqui.

Um sentimento, como pedra,
não lembra de mim, não lembra qualquer coisa
que eu toquei, não lembra meu rosto,

meu prolongado silêncio.
Eu me transformo no céu sem
um simples reflexo.

Tradução de Dalcin Lima aos 20 de junho de 2016.


IMAGINING MY DEATH


The sky is milky blue.
No words sings, here,
and the rusty pines
keep hanging their heavy heads.

I can’t remember the sound
of a voice
or the smell of someone’s skin.
I am finally alone, here.

A feeling, like stone,
Forget me now, forget whatever
I touched, forget my face,

my prolonged silence.
I become the sky without
a single reflection.

IMAGINING MY DEATH. In: Solstice a Magazine of Diverse Voices. Disponível em: < http://solsticelitmag.org/review-night-garden-judith-harris/>. Acesso em: 20. Jun. 2016.

IN YOUR ABSENCE


Not yet summer,
but unseasonable heat
pries open the cherry tree.

It stands there stupefied,
in its sham, pink frills,
dense with early blooming.

Then, as afternoon cools
into more furtive winds,
I look up to see
a blizzard of petals
rushing the sky.

It is only April.
I can’t stop my own life
from hurrying by.
The moon, already pacing.

IN YOUR ABSENCE. In: Poetry Foundation. Disponível em: < http://www.poetryfoundation.org/poem/181361>. Acesso em: 06. Fev. 2016.


NA TUA AUSÊNCIA


Não é verão ainda,
mas um calor insazonável
espreita de boca escancarada a cerejeira.

Ela fica lá estupefata,
Em seu fingimento, babados róseos,
densa com prematuro florescimento.

Então, enquanto a tarde esfria
a mais furtiva brisa,
levanto os olhos para ver
um temporal de pétalas
precipitando-se do céu.

É apenas abril.
Não posso interromper minha própria vida
Às pressas.
A lua, já avançando.

Tradução de Dalcin Lima aos 06 de fevereiro de 2016.

MOCKINGBIRD(*)


I can hear him,
now, even in darkness,
a trickster under the moon,
bristling his feathers,
sounding as merry
as a man whistling in a straw hat,
or a squeaky gate
to the playground, left ajar
or the jingling of a star,
having wandered too far
from the pasture.

(*) O Mockingbird, ou Mimus Polyglottos, também conhecido como o “rouxinol americano”, é um pássaro que predomina na América do Norte. O Mockingbird é um excelente cantor que tem a característica curiosa de imitar na perfeição o som de outros pássaros. “To Mock” é o verbo Inglês que significa zombar, chacotear, escarnecer, “rir-se de”. O Mockingbird é um cantor alto e persistente que canta todo o dia e frequentemente à noite e vai adicionando novos sons e reportórios ao seu canto, durante toda a sua vida. Goza a vida a cantar. Um pássaro feliz. Fonte: O Canto do Jo. Disponível em:< http://cantodojo.blogspot.com/2008/03/porque-que-sou-um-mockingbird.html>. Acesso em: 25 jan. 2012.

MOCKINGBIRD. In: Poetry Foundation. Disponível em: < http://www.poetryfoundation.org/poem/242588>. Acesso em: 06. Fev. 2016.


PASSARINHO


Posso ouvi-lo,
agora, mesmo no escuro,
um malandro sob o luar, eriçando as penas,
parecendo tão alegre
quanto um homem sibilando um chapéu de palha
ou um portão guinchante
de um parquinho de diversões, deixado entreaberto
ou o tilintar de um estrela,
tendo, perambulado por tão longe
da pastagem.

Tradução de Dalcin Lima aos 06 de fevereiro de 2016. 







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Sobre Jus et Humanitas

Sou Dalcin Lima, advogado, tradutor e um apaixonado por Línguas e Literatura, especialmente poesia. Sou protetor de animais em geral.
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