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OS MISTÉRIOS PERMANECEM: SETE POEMAS DE HILDA DOOLITTLE (H.D.)


OS QUE DORMEM AO VENTO (*) 

Brancos
mais que a crosta
que a maré arrasta,
ardem-nos a areia revirada
e as conchas partidas.

Não dormimos mais
ao vento —
despertamos, fugindo
ao portão da cidade.

Arranquem —
arranquem um altar pra nós,
puxem os rochedos,
empilhem-nos com pedras brutas —
não dormimos
mais ao vento,
propiciem-nos.

Entoem um ululuar
que nunca cessa,
tracem um círculo e homenageiem
com uma canção.

Quando o rugir da vaga em queda
a interromper,
jorre medido o verbo
de águias-marinhas e gaivotas
e aves marinhas clamando
discórdias.


THE WIND SLEEPERS

Whiter
than the crust
left by the tide,
we are stung by the hurled sand
and the broken shells.

We no longer sleep
in the wind—
we awoke and fled
through the city gate.

Tear—
tear us an altar,
tug at the cliff-boulders,
pile them with the rough stones—
we no longer
sleep in the wind,
propitiate us.

Chant in a wail
that never halts,
pace a circle and pay tribute
with a song.

When the roar of a dropped wave
breaks into it,
pour meted words
of sea-hawks and gulls
and sea-birds that cry
discords.


ENTARDECER

A luz passa
de crista em crista
de flor em flor —
as hepáticas, abertas
sob a luz
vão sumindo —
as pétalas se introvertem,
as pontas azuis se curvam
ao mais azul do seu âmago
e as flores se perdem.

Ainda brancos os cornisos em botão,
mas sombras se lançam
das raízes dos cornisos —
rasteja o negror de raiz em raiz,
cada folha
corta outra folha no capim,
sombra segue sombra,
e tanto folha quanto
sombra-de-folha se perdem.


EVENING

The light passes
from ridge to ridge,
from flower to flower—
the hypaticas, wide-spread
under the light
grow faint—
the petals reach inward,
the blue tips bend
toward the bluer heart
and the flowers are lost.

The cornel-buds are still white,
but shadows dart
from the cornel-roots—
black creeps from root to root,
each leaf
cuts another leaf on the grass,
shadow seeks shadow,
then both leaf
and leaf-shadow are lost.


VIOLETA DO MAR 
 
 A violeta branca
é perfumada na haste,
a violeta-do-mar,
feito ágata, frágil,
jaz de frente a todo vento
entre as conchas rotas
na areia da barra.

Grandes violetas azuis
pairam na colina,
mas quem daria por elas
quem daria por elas
uma raiz das outras que fosse?

Violeta
frágil te agarras
à borda da barra,
mas pegas a luz —
geada, um astro bordeja em seu fogo.


SEA VIOLET 


The white violet
is scented on its stalk,
the sea-violet
fragile as agate,
lies fronting all the wind
among the torn shells
on the sand-bank.

The greater blue violets
flutter on the hill,
but who would change for these
who would change for these
one root of the white sort?

Violet
your grasp is frail
on the edge of the sand-hill,
but you catch the light—
frost, a star edges with its fire.


NOITE

A noite cindiu
uma doutra
e enrugou as pétalas
de volta à haste
e bem enfileiradas embaixo dela;

embaixo em ritmo inquebrantável,
embaixo até partir-se a casca,
e até cada folha curvada
ser arrancada da haste;

embaixo em ritmo grave,
embaixo até as folhas
se recurvarem
até caírem sobre a terra,
e até estarem todas partidas.

Ó noite,
toma as pétalas
das rosas na mão,
mas deixa o carpelo firme
da rosa
a perecer no ramo.


NIGHT

The night has cut
each from each
and curled the petals
back from the stalk
and under it in crisp rows;

under at an unfaltering pace,
under till the rinds break,
back till each bent leaf
is parted from its stalk;

under at a grave pace,
under till the leaves
are bent back
till they drop upon earth,
back till they are all broken.

O night,
you take the petals
of the roses in your hand,
but leave the stark core
of the rose
to perish on the branch.

(*) Poemas de Hilda Doolittle, traduzidos por Adriano Scandolara. In: Escamandro. Disponível em:. Acesso em: 20. Fev. 2016. 


PAPOULAS DE MAR

Casca de âmbar
estriado de ouro,
fruto na areia
marcada com um grão abundante,

tesouro
derramado próximo dos arbustos de pinheiros
para alvejar nos penhascos:

teu talo enredou raiz
entre seixos molhados
e a rede arremessada ao mar
e conchas raspadas
e búzios rachados.

Formosa, estendida amplamente,
fogo sobre a folha,
que campina produz
tão fragrante folha
como tua brilhante folha?

Tradução de Dalcin Lima, aos 20 de fevereiro de 2016, baseado na versão espanhola de Santiago Ospina e Juan Afanador. In: Otro Páramo. Disponível em:< http://www.otroparamo.com/713/>. Acesso em: 20. Fev. 2016.


SEA POPPIES

Amber husk
fluted with gold,
fruit on the sand
marked with a rich grain,

treasure
spilled near the shrub-pines
to bleach on the boulders:

your stalk has caught root
among wet pebbles
and drift flung by the sea
and grated shells
and split conch-shells.

Beautiful, wide-spread,
fire upon leaf,
what meadow yields
so fragrant a leaf
as your bright leaf?

SEA POPPIES. In: Otro Páramo. Disponível em:< http://www.otroparamo.com/713/>. Acesso em: 20. Fev. 2016.


ROSA DE MAR

Rosa, áspera rosa,
desfigurada e com poucas pétalas,
flor magra, delgada,
escassa de folhas,

mais preciosa
que uma rosa molhada
única em um talo —
presa na correnteza.

Atrofiada, com folha pequena,
és lançada na areia,
és alçada
na areia encrespada
que se move no vento.

Pode uma rosa cheirosa
gotejar tão acre fragrância
endurecida numa folha?

Tradução de Dalcin Lima, aos 20 de fevereiro de 2016, baseado na versão espanhola de Santiago Ospina e Juan Afanador. In: Otro Páramo. Disponível em:< http://www.otroparamo.com/713/>. Acesso em: 20. Fev. 2016.


SEA ROSE

Rose, harsh rose,
marred and with stint of petals,
meagre flower, thin,
sparse of leaf,

more precious
than a wet rose
single on a stem—
you are caught in the drift.

Stunted, with small leaf,
you are flung on the sand,
you are lifted
in the crisp sand
that drives in the wind.

Can the spice-rose
drip such acrid fragrance
hardened in a leaf?

SEA ROSE. In: Otro Páramo. Disponível em:< http://www.otroparamo.com/713/>. Acesso em: 20. Fev. 2016.

OS MISTÉRIOS PERMANECEM

Os mistérios permanecem,
sigo o mesmo
ciclo do tempo da semeadura
e o sol e a chuva;
Demeter na grama,
multiplico,
renovo e bendigo
Baco na vinha;
sustento a lei,
abraço os mistérios verdadeiros,
o primeiro destes
a nomear os mortos entre os vivos;
sou o vinho e o pão.
Abraço a lei,
sustento os mistérios verdadeiros,
sou o vinho,
as ramas, vós
e vós.

Tradução de Dalcin Lima, aos 20 de fevereiro de 2016, baseado na versão espanhola de Sandra Toro. In: el placard. Disponível em:< http://el-placard.blogspot.com.br/2013/01/poemas-de-hilda-doolittle.html >. Acesso em: 20. Fev. 2016.

THE MYSTERIES REMAIN

The mysteries remain,
I keep the same
cycle of seed-time
and of sun and rain;
Demeter in the grass,
I multiply,
renew and bless
Bacchus in the vine;
I hold the law,
I keep the mysteries true,
the first of these
to name the living, dead;
I am the wine and bread.
I keep the law,
I hold the mysteries true,
I am the vine,
the branches, you
and you.

THE MYSTERIES REMAIN. In: el placard. Disponível em:< http://el-placard.blogspot.com.br/2013/01/poemas
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Sobre Jus et Humanitas

Sou Dalcin Lima, advogado, tradutor e um apaixonado por Línguas e Literatura, especialmente poesia. Sou protetor de animais em geral.
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