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O CÉU DOS ANIMAIS: TRÊS POEMAS DE JAMES DICKEY



ARAME DE CERCA 



Muito esticado, percorre 
Muito deste chão para estar quieto 
Ou fazer algo mais do que vibrar 
E desaparecer à esquerda ou à direita 
Até onde os olhos enxergam 

Subindo morros, entrando em matas, 
Descendo estradas, para chegar enfim 
Outra vez onde se ata, 
De volta do outro lado, 
De animais, que definem sua condição terrena 

Ao mudar-se a relva em neve 
Enquanto imóveis se postam e sonham 
Com relva e neve. 
O falcão hibernal pousado em seu mourão, 
Sentindo a corrente sutil dos arames, 

Torna-se um tordo, vê que está errado, 
A seguir um menino, e um homem que apóia 
A palma no fio mais alto e de muita tensão 
Com a fazenda toda convergindo lenta 
E nervosamente na sua mão. 

Cortado o arame em qualquer lugar 
Todo o sangue dele se derramaria 
Deixando-o postado e pasmado 
Com a face branca de uma faca Hereford. 
Desde anos de circundar trigo, 

Gado, cavalos, máquinas que tentam tornar-se 
Ferrugem, a cada segundo chega o zumbido, 
Um som que organiza estes alqueires 
E os mantém tensos e encantados. 
Por causa da leve mão gelada 

Sobre o fio mais alto afinado em Mi 
Como a corda baixa de um violão 
O cereal morto é mais 
Equilibrado na morte que antes, 
Os animais são mais conscientes 

Dentro do amplo amplexo humano 
Sustentado e estendido até sumir 
Pelas estacas baixas e inquebráveis 
Por onde a terra governada 
Parece salmodiar: corretamente, 

Com os olhos fechados, 
Quer ao lado dos animais 
Ou não, quer desaparecendo 
À direita, à esquerda, por arvoredo ou descendo estradas, 
Quer lá fora, ao redor, ou dentro. 


Tradução de Paulo Vizioli. In: Quincumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Ed. Bilíngue, antologia organizada por Kerry Shawn Keys, 1980, Ed. Escrita 



FENCE WIRE 



Too tight, it is running over 
Too much of this ground to be still 
Or to do anything but tremble 
And disappear left and right 
As far as the eye can see 

Over hills, through woods, 
Down roads, to arrive at last 
Again where it connects, 
Coming back from the other side 
Of animals, defining their earthly estate 

As the grass become snow 
While they are standing and dreaming 
Of grass and snow. 
The winter hawk that sits upon its post, 
Feeling the air current of the wires. 

Turns into a robin, sees that this is wrong, 
Then into a boy, and into a man who holds 
His palm on the top tense strand 
With the whole farm feeding slowly 
And nervously into his hand. 

If the wire were cut anywhere 
All his blood would fall to the ground 
And leave him standing and staring 
With a face as white as a Hereford’s 
From years of surrounding again, 

Cows, horses, machinery trying to turn 
To rust, the humming arrives each second, 
A sound that arranges these acres 
And holds them highstrung and enthralled. 
Because of the ligh, chilled hand 

On the top thread tuned to na E 
Like the low string of a guitar 
The dead corn is more 
Balanced in death than it was, 
The animals more aware 

Within the huge human embrace 
Held up and borne out of sight 
Upon short, unbreakable poles 
Wherethrough the ruled land intones 
Like a psalm: properly, 

With its eyes closed, 
Whether on the side of the animals 
Or not, whether disappearing 
Right, left, through trees or down roads, 
Whether outside, around, or in. 


James Dickey, Fence Wire. In: The New Yorker. Disponível em: < https://www.newyorker.com/magazine/1962/02/24/fence-wire>. Acesso em: 29. Mar. 2018. 



O CÉU DOS ANIMAIS 



Cá estão. Suaves olhos abertos. 
Se viveram num bosque 
São o bosque. 
Se nos prados viveram 
São a grama girando 
Sob seus pés para sempre. 

Não tendo alma chegaram, 
Mesmo assim, sem perguntas. 
Seus instintos brotam plenos 
E eles crescem. 
Suaves olhos abertos 

Para igualá-los, viceja a paisagem, 
Excede-se ansiosa 
Além do que é pedido: 
A selva mais rica, 
O campo mais fértil. 

Para alguns deles, 
Não seria o lugar 
Se não houvesse o sangue. 
A caça, como convém, 
Mas com garras e dentes aperfeiçoados, 

Mais mortais do que acreditam ser. 
Aproximam-se, furtivos. 
Saltam dos braços das árvores, 
E seu assalto 
Sobre o dorso brilhante das presas 

Pode levar anos 
Num régio e alegre arremate. 
Os que são caçados 
Sabem-no como a própria vida 
E recompensa: caminhar 

Sob as árvores, é estar consciente 
Do que acima é beatitude. 
E não sentir pavor 
Porém acordo, complacência, 
Chegando à plenitude sem sofrer 

No meio da jornada, 
Tremem, perambulam 
Sob a árvore, e 
Tombam, e são massacrados. 
Mas erguem-se, caminham de novo. 


Tradução Jane Arduíno Pertcarati e Mário Livramento. In: Quincumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Ed. Bilíngue, antologia organizada por Kerry Shawn Keys, 1980, Ed. Escrita 



THE HEAVEN OF ANIMALS 



Here they are. The soft eyes open. 
If they have lived in a wood 
It is a wood. 
If they have lived on plains 
It is grass rolling 
Under their feet forever. 

Having no souls, they have come, 
Anyway, beyond their knowing. 
Their instincts wholly bloom 
And they rise. 
The soft eyes open. 

To match them, the landscape flowers, 
Outdoing, desperately 
Outdoing what is required: 
The richest wood, 
The deepest field. 

For some of these, 
It could not be the place 
It is, without blood. 
These hunt, as they have done, 
But with claws and teeth grown perfect, 

More deadly than they can believe. 
They stalk more silently, 
And crouch on the limbs of trees, 
And their descent 
Upon the bright backs of their prey 

May take years 
In a sovereign floating of joy. 
And those that are hunted 
Know this as their life, 
Their reward: to walk 

Under such trees in full knowledge 
Of what is in glory above them, 
And to feel no fear, 
But acceptance, compliance. 
Fulfilling themselves without pain 

At the cycle’s center, 
They tremble, they walk 
Under the tree, 
They fall, they are torn, 
They rise, they walk again. 


James Dickey, “The Heaven of Animals” in: Poetry Foundation. Disponível em:< https://www.poetryfoundation.org/poems/42711/the-heaven-of-animals>. Acesso: 29. Mar. 2018. 



ESCUTANDO OS CÃES DE CAÇA 



Quando, no ouro das chamas, 
Recolhido em silêncio, 
Entre aqueles que são irmãos dos cães de caça 

O primeiro tom, o primeiro som Você ouve, 
De um cão em sua pista, de rosto a rosto Você espreita 
Aquele que se ilumina. 

Quando a luz de desvela, 
No interior do círculo escuro de fogo, 
Você sabe que o homem eleito escutou 

Algo como o que lhe é mais caro 
Exprimir-se num voz maravilhosa e sem remédio, 
Que há muito tempo lutava por escutar. 

À muitas milhas de distância, no escuro, 
O seu cão encantado pode sentir 
Como brilham os seus traços, como os de um salvador. 

E começa a caçar, 
Numa agonia de orgulho desesperado. 
Entre nós, nenhum coração se acende 

Pela raposa vermelha, 
Saindo da pista e a ela regressando 
Pulando pedras, saltando sobre a água. 

Aquele que corre com a raposa 
Deve permanecer como a sua própria imagem, 
Nada revelando de si mesmo 

Às chamas sensíveis, 
Não deixando transparecer alegria humana, 
Em sua face, para ser vista. 

E é duro 
Quando a raposa entre em seu abrigo, 
Manter em surdina o coração, 

Permanecer com o fogo 
Escondido em nossos traços secretos, 
E todos os olhos regressando 

Da floresta escura, 
Até que chegam, surpresos, 
A uma face que não brilha, 

De dentro de si mesma, 
Que prende a sua própria luz, e absorve mais, 
Como a face dos mortos, quietamente sentado, 

Não dando sinal, 
Nada revelando, quem quer 
Que esteja lutando para escutar. 


Tradução de Henrique Mesquita. In: Quincumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Ed. Bilíngue, antologia organizada por Kerry Shawn Keys, 1980, Ed. Escrita 



LISTENING TO FOXHOUNDS 



When in that gold 
Of fires, quietly sitting 
With the men whose brothers are hounds, 

You hear the first tone 
Of a dog on scent, you look from face 
To face, to see whose will light up. 

When that light comes 
Inside the dark light of the fire, 
You know which chosen man has heard 

A thing like his own dead 
Speak out in a marvelous, helpless voice 
That he has been straining to hear. 

Miles away in the dark, 
His enchanted dog can sense 
How his features glow like a savior’s, 

And begins to hunt 
In a frenzy of desperate pride. 
Among us, no one’s eyes give off a light 

For the red fox 
Playing in and out of his scent, 
Leaping stones, doubling back over water. 

Who runs with the fox 
Must sit here like his own image, 
Giving nothing of himself 

To the sensitive flames, 
With no human joy rising up, 
Coming out of his face to be seen. 

And it is hard, 
When the fox leaps into his burrow, 
To keep that singing down, 

To sit with the fire 
Drawn into one’s secret features, 
And all eyes turning around 

From the dark wood 
Until they come, amazed, upon 
A face that does not shine 

Back from itself, 
That holds its own light and takes more, 
Like the face of the dead, sitting still, 

Giving no sign, 
Making no outcry, no matter 
Who may be straining to hear. 


James Dickey, Listening to Foxhounds. In: The New Yorker. Disponível em: < https://www.newyorker.com/magazine/1960/11/26/listening-to-foxhounds>. Acesso em: 29. Mar. 2018.
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Sobre Jus et Humanitas

Sou Dalcin Lima, advogado, tradutor e um apaixonado por Línguas e Literatura, especialmente poesia. Sou protetor de animais em geral.
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