ads slot

Últimas Postagens:

SETE POEMAS DE STANLEY KUNITZ


TOQUE ME

O verão está atrasado, meu coração.
Palavras colhidas do ar
de alguns quarenta anos atrás
quando eu estava mais ferozmente apaixonado
e partido quase em dois
espalhado como folhas nesta noite
de chuva e vento sibilante.
É meu coração que está atrasado,
é minha canção que voou.
do lado de fora todo o entardecer
sob um céu brônzeo
delimitando meu jardim abaixo,
ajoelhei-me aos grilos trinando
sob os pés como se prestes
a estourar de suas cascas ríspidas;
e como uma criança novamente
maravilhada de ouvir uma tão clara
e magnífica musica derramar-se
de uma tão pequenina máquina.
O que faz a máquina funcionar?
Desejo, desejo, desejo.
A ânsia de dançar
agita a vida esquecida.
Uma estação apenas,
e acabou.
Portanto, deixe o velho salgueiro quebrado
agitar-se contra as vidraças
e a casa de madeira range.-
Querida, você se lembra
do homem com que você casou? Toque-me,
relembre-me quem eu sou.

Tradução do original inglês por Dalcin Lima, aos 15 de dezembro de 2016.

TOUCH ME
 
Summer is late, my heart.
Words plucked out of the air
some forty years ago
when I was wild with love
and torn almost in two
scatter like leaves this night
of whistling wind and rain.
It is my heart that's late,
it is my song that's flown.
Outdoors all afternoon
under a gunmetal sky
staking my garden down,
I kneeled to the crickets trilling
underfoot as if about
to burst from their crusty shells;
and like a child again
marveled to hear so clear
and brave a music pour
from such a small machine.
What makes the engine go?
Desire, desire, desire.
The longing for the dance
stirs in the buried life.
One season only,
and it's done.
So let the battered old willow
thrash against the windowpanes
and the house timbers creak.
Darling, do you remember
the man you married? Touch me,
remind me who I am.

TOUCH ME. In: The Atlantic on line. Disponível em:< http://www.theatlantic.com/past/unbound/poetry/antholog/kunitz/touchme.htm>. Acesso em: 15. Dez. 2016.

O COMETA HALLEY

A senhorita Murphy no primeiro ano
escreveu o nome dele com giz
pelo quadro negro e disse-nos que
ele estava zunindo abaixo como o ciclone
da Via Láctea numa velocidade medonha
e se extraviasse seu curso
e se espatifasse na terra
não haveria aula amanhã.
Um pregador de barba vermelha das colinas
com uma aparência selvagem em seus olhos
de pé na praça pública
no canto do parquinho infantil
proclamando que fora enviado por Deus
para salvar cada um de nós,
inclusive as criancinhas.
"Arrependei-vos, pecadores!", gritava ele,
agitando sua caderneta escrita à mão.
No jantar, senti-me triste de pensar
que aquela era provavelmente
a última refeição que eu partilharia
com minha mãe e minhas irmãs;
mas eu me sentia excitado também
e mal toquei no meu prato.
Mamãe, então, ralhou comigo
e me mandou mais cedo para a cama.
A família inteira adormeceu,
exceto eu. Eles nunca me ouviram passar
desapercebido pelo hall da escada e subir
os degraus para o ar fresco da noite.

Olhe-me, Pai, no telhado
do edifício de tijolos vermelhos,
ao pé da Green Street —
que é onde moramos, você sabe, no último andar.
Sou o garoto de roupa de dormir de flanela branca
esparramado nesta cama de cascalho áspero
procurando no céu estrelado,
esperando pelo fim do mundo.

Tradução de Dalcin Lima, aos 16 de dezembro de 2012, do original inglês baseado na versão espanhola de el establo de pegaso. In: el establo de pegaso. Disponível em:. Acesso em: 14. Dez. 2016.


HALLEY'S COMET

Miss Murphy in first grade
wrote its name in chalk
across the board and told us
it was roaring down the stormtracks
of the Milky Way at frightful speed
and if it wandered off its course
and smashed into the earth
there'd be no school tomorrow.
A red-bearded preacher from the hills
with a wild look in his eyes
stood in the public square
at the playground's edge
proclaiming he was sent by God
to save every one of us,
even the little children.
"Repent, ye sinners!" he shouted,
waving his hand-lettered sign.
At supper I felt sad to think
that it was probably
the last meal I'd share
with my mother and my sisters;
but I felt excited too
and scarcely touched my plate.
So mother scolded me
and sent me early to my room.
The whole family's asleep
except for me. They never heard me steal
into the stairwell hall and climb
the ladder to the fresh night air.

Look for me, Father, on the roof
of the red brick building
at the foot of Green Street—
that's where we live, you know, on the top floor.
I'm the boy in the white flannel gown
sprawled on this coarse gravel bed
searching the starry sky,
waiting for the world to end.

HALLEY'S COMET. In: The Writer’s Almanac. Disponível em:< http://writersalmanac.publicradio.org/index.php?date=2008/08/07> Acesso em: 14. Dez. 2016.

BÊNÇÃO

Que Deus desterre de tua casa
a mosca, a barata, o camundongo

que faz desordem detrás das paredes
até fazer cair o reboco;

que repreenda de tua porta
o hipócrita e o mentiroso;

que não permita que o medo, tímido,
brando e felino suba por tua escada,

nem os agentes de tuas dúvidas:
que Deus os conduza com um silvo.

Que não permita nada contaminado do mal,
que nada possa murchar

a fronte mais terna de teu coração
invada teu sangue terno e profundo.

Contra o gotejar da noite
que Deus feche bem as janelas,

proteja teus espelhos
de surpresas, delírios,

não admita que o vento arrastado
dentro de tua mente fechada

alise o lago do sonho
com sonhos. Se tens de chorar

que Deus te dê lágrimas mas que te deixe
sigilo para teu pesar,

e ilhas para teu orgulho,
e amor para que aninhes ao teu lado.

Permita Deus que até os ossos
Sejas tu mesma;

permita que seja eu (minha doçura)
doce companhia.

Tradução de Dalcin Lima do original inglês Benediction, aos 14 de dezembro de 2014, baseado na versão espanhola de Jorge Aulicino. In: otra iglesia es imposible. Disponível em: . Acesso em: 14. Dez. 2016.


BENEDICTION

God banish from your house
The fly, the roach, the mouse

That riots in the walls
Until the plaster falls;

Admonish from your door
The hypocrite and the liar;

No shy, soft, tigrish fear
Permit upon your stair,

Nor agents of your doubt.
God drive them whistling out.

Let nothing touched with evil,
Let nothing that can shrivel

Heart's tenderest frond, intrude
Upon your still, deep blood.

Against the drip of night
God keep all windows tight,

Protect your mirrors from
Surprise, delirium,

Admit no trailing wind
Into your shuttered mind

To plume the lake of sleep
With dreams. If you must weep

God give you tears, but leave
You secrecy to grieve,

And islands for your pride,
And love to nest in your side.

God grant that, to be the bone,
Yourself may be your own;

God grant that may be
(my sweet) sweet company.

BENEDICTION. In: otra iglesia es imposible. Disponível em: . Acesso em: 14. Dez. 2016.

FIM DE VERÃO
 
Uma agitação do ar,
uma perturbação da luz
me advertiram que um ano desamado
giraria seus gonzos sobre aquela noite.

Coloquei-me de pé no campo desencantado
entre o restolho e as pedras,
atônito enquanto uma lagartinha
balbucia para mim a canção medular de meus ossos.

O azul derramou-se pelo azul do verão,
uma águia desprendeu-se de sua torre sem nuvens,
o teto do silo inflamou-se e eu soube
que uma parte de minha vida se acabou.

Já a porta de ferro do norte
ressoa ao abrir-se: pássaros, folhas, neves
mandam as gentes irem adiante,
e um vento cruel sopra.

Tradução de Dalcin Lima do original inglês Benediction, aos 14 de dezembro de 2014, baseado na versão espanhola de Jorge Aulicino. In: otra iglesia es imposible. Disponível em: . Acesso em: 14. Dez. 2016.


END OF SUMMER
 
An agitation of the air,
A perturbation of the light
Admonished me the unloved year
Would turn on its hinge that night.

I stood in the disenchanted field
Amid the stubble and the stones
Amaded, while a small worm lisped to me
The song of my marrow-bones.

Blue poured into summer blue,
A hawk broke from his cloudless tower,
The roof of the silo blazed, and I knew
That part of my life was forever over.

Already the iron door of the North
Clangs open: birds,leaves,snows
Order their populations forth,
And a cruel wind blows.

END OF SUMMER. In: otra iglesia es imposible. Disponível em: . Acesso em: 14. Dez. 2016.

UMA VELHA E DESAFINADA CANÇÃO
 
Chamo-me Solomon Levi,
o deserto é a minha casa,
o peito da minha mãe picava,
e não tive pai.

As areias murmuravam, Separem-se,
e as pedras ensinaram-me, Sê duro.
Danço, pela alegria de sobreviver,
na berra da estrada.

Tradução de Isaac Pereira. In: POETAS DO MUNDO (Aos Poetas e Poemas do Mundo). Disponível em: <http://poetasdomundo.blogspot.com.br/2007/02/stanley-kunitz.html>. Acesso em: 24. Dez. 2014.


AN OLD CRACKED TUNE
 
My name is Solomon Levi,
the desert is my home,
my mother's breast was thorny,
and father I had none.

The sands whispered, Be separate,
the stones taught me, Be hard.
I dance, for the joy of surviving,
on the edge of the road.

AN OLD CRACKED TUNE. In: Famous Poets and Poems. Disponível em: < http://famouspoetsandpoems.com/poets/stanley_kunitz/poems>. Acesso em: 24. Dez. 2014.

A ZANGA

A palavra que disse em raiva
pesa menos que uma semente de salsa,
mas por ela passa a estrada
que leva à minha sepultura,
naquele talhão comprado
nas encostas salgadas de Truro
onde os pinheiros dominam a baía.
Estou já meio-morto que chegue,
desviado da minha própria natureza
e da minha força de viver.
Se pudesse chorar, chorava.
Mas sou velho demais para ser
a criança de alguém.
Liebchen,
com quem me vou zangar
senão nos murmúrios do amor,
essa chama áspera e irregular?

Traduzido por Fernando Silva. In: Nothingandall. Disponível em:<http://nothingandall.blogspot.com.br/2012/05/zanga-stanley-kunitz.html>. Acesso em: 24. Dez. 2014.


THE QUARRELL

The word I spoke in anger
weighs less than a parsley seed,
but a road runs through it
that leads to my grave,
that bought-and-paid-for lot
on a salt-sprayed hill in Truro
where the scrub pines
overlook the bay.
Half-way I'm dead enough,
strayed from my own nature
and my fierce hold on life.
If I could cry, I'd cry,
but I'm too old to be
anybody's child.
Liebchen,
with whom should I quarrel
except in the hiss of love,
that harsh, irregular flame?


THE QUARRELL In: Famous Poets and Poems. Disponível em: <http://famouspoetsandpoems.com/poets/stanley_kunitz/poems>. Acesso em: 24. Dez. 2014.

O RETRATO

A minha mãe nunca perdoou o meu pai
por se ter suicidado,
especialmente num momento tão inoportuno
e num parque público,
naquela primavera
em que me preparava para nascer.
Ela fechou o seu nome
no seu armário mais fundo
e não o quis deixar sair,
embora eu pudesse ouvi-lo a bater.
Quando desci do sótão
com o retrato a pastel na minha mão
de um estranho de lábios grandes
com um intrépido bigode
e equilibrados olhos castanhos escuros,
ela rasgou-o em pedaços
sem dizer uma palavra
e esbofeteou-me com força.
Aos sessenta e quatro anos
ainda consigo sentir a minha bochecha
a arder.

Traduzido por LP. Disponível em: <http://arspoetica-lp.blogspot.com.br/2008_04_01_archive.html>. Acesso em: 24. Dez. 2014.

THE PORTRAIT
 
My mother never forgave my father
for killing himself,
especially at such an awkward time
and in a public park,
that spring
when I was waiting to be born.
She locked his name
in her deepest cabinet
and would not let him out,
though I could hear him thumping.
When I came down from the attic
with the pastel portrait in my hand
of a long-lipped stranger
with a brave moustache
and deep brown level eyes,
she ripped it into shreds
without a single word
and slapped me hard.
In my sixty-fourth year
I can feel my cheek
still burning.

THE PORTRAIT. In: Famous Poets and Poems. Disponível em:< http://famouspoetsandpoems.com/poets/stanley_kunitz/poems>. Acesso em: 24. Dez. 2014.


Compartilhe no Google Plus

Sobre Jus et Humanitas

Sou Dalcin Lima, advogado, tradutor e um apaixonado por Línguas e Literatura, especialmente poesia. Sou protetor de animais em geral.
    Blogger Comment
    Facebook Comment

2 comentários:

  1. Existe tanto dolor en sus poemas q imagino su tristeza hasta mismo en el más grande....

    ResponderExcluir