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CONSELHO A UM PROFETA E OUTROS POEMAS DE RICHARD WILBUR



CONSELHO A UM PROFETA


Quando vieres, como virás, às ruas da nossa cidade
– O olhar alucinado a dizer-nos do óbvio –
Não para vaticinar a nossa queda, mas para suplicar-nos
Que, pelo amor de Deus, tenhamos piedade

De nós mesmos, poupa-nos a fala sobre as armas,
Seu poder de alcance. Poupa-nos
Os números longuíssimos, que extrapolam da mente.
Nossos lentos corações impensados se atrasarão,
Incapazes de temer o que não viram.

Nem nos assustes falando da extinção da espécie.
Como imaginaríamos sem nós este lugar?
O sol meramente fogo, as folhas nos ignorando,
Um ar de pedra na face da pedra?

Fala, antes, das mudanças do mundo.
Mesmo que não possamos
Conceber o impensável, sabemos por própria experiência
Como a nuvem esperada pode esvair-se, como a geada
Enegrece as vinhas, a paisagem se altera. Poderíamos crer,

Se nos dissesses, por exemplo,
Que o alce de rabo branco desaparecerá para sempre
Na sombra, em timidez total, a calhandra
Não deixará nosso olhar alcançá-la,
O pinheiro abrirá o punho fechado
Das suas raízes, mas beiras geladas da terra.
E cada rio arderá, como um dia Xanto,
Com suas frutas deslizantes,
Surpreendidas num relance. Que seria de nós sem
O arco que descreve o golfinho, o regresso das pombas,

Estas coisas que nossos olhos viram, e que já
Comentamos? Pergunte-nos, profeta, como impeliremos
À ação nossas pessoas, quando essa linguagem viva
Se dissipar, e o espelho obscurecer, ou quebrar-se,

A que contamos a rosa nossa do amor e o nítido
Corcel da nossa coragem, espelho em que testemunhamos
A cantante locusta da alma exposta
E tudo aquilo que um dia quisemos, ou pretendíamos
Querer?

Pergunta-nos, pergunta-nos, se adiante da não-rosa do mundo
Os corações falharão. Vem perguntando
Se haverá ainda arrogância ou alguma pose, alguém de pé,
Quando os anais de bronze do carvalho se encerrarem.

Tradução de Lélia Coelho Frota. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.


ADVICE TO A PROPHET


When you come, as you soon must, to the streets of our city,
Mad-eyed from stating the obvious,
Not proclaiming our fall but begging us
In God’s name to have self-pity,

Spare us all word of the weapons, their force and range,
The long numbers that rocket the mind;
Our slow, unreckoning hearts will be left behind,
Unable to fear what is too strange.

Nor shall you scare us with talk of the death of the race.
How should we dream of this place without us? —
The sun mere fire, the leaves untroubled about us,
A stone look on the stone’s face?

Speak of the world’s own change. Though we cannot conceive
Of an undreamt thing, we know to our cost
How the dreamt cloud crumbles, the vines are blackened by frost,
How the view alters. We could believe,

If you told us so, that the white-tailed deer will slip
Into perfect shade, grown perfectly shy,
The lark avoid the reaches of our eye,
The jack-pine lose its knuckled grip

On the cold ledge, and every torrent burn
As Xanthus once, its gliding trout
Stunned in a twinkling. What should we be without
The dolphin’s arc, the dove’s return,

These things in which we have seen ourselves and spoken?
Ask us, prophet, how we shall call
Our natures forth when that live tongue is all
Dispelled, that glass obscured or broken

In which we have said the rose of our love and the clean
Horse of our courage, in which beheld
The singing locust of the soul unshelled,
And all we mean or wish to mean.

Ask us, ask us whether with the worldless rose
Our hearts shall fail us; come demanding
Whether there shall be lofty or long standing
When the bronze annals of the oak-tree close.


ADVICE TO A PROPHET. In: Poetry Foundation. Disponível em:<http://www.poetryfoundation.org/poem/171788>. Acesso em: 09. Abr. 2016

OUTUNO EM CORRALES


O inverno serão festas e lareiras,
Amantes, bocas ardentes no leito,
Poemas, orações e outros recursos
Contra o mundo vaso e desfeito:

Magias como as do verão imóvel
Sobre a cabeça na relva macia
Que pensa apenas calor e sussurros
E nega o tempo, que se avia.

O frágil edifício do verão
Desfaz-se e o ar é áspero, poeirento:
É como o vento, que no abril desnudo
Deixa o espírito ao relento.

E então sem fábula e sem sonolência
Para construir o que nos origina,
Nós mesmos nos fundimos às montanhas,
O sol imerso nas retinas.

Nossos desejos ─ a poeira do ar;
Os nossos sexos ─ a força das fontes;
Nossa carne, depois de tanta luta,
Repousa em altos horizontes.

O rio vadio no leito seco
Exibe as rugas do passado, agora...
Os choupos gastam ouro como água
E as ervas leves vão-se embora.

Num mundo mais vasto que a rima e o sonho
Ouvimos as frases da palha e da pedra
Levantamo-nos no vento e, curvando-nos ante este tempo,
Praticamos a pureza de nossos corpos.

Tradução de Jorge Wanderley. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.

FALL IN CORRALES


Winter will be feasts and fires in the shut houses,
Lovers with hot mouths in their blanched bed
Prayers and poems made, and all recourses
Against the world huge and dead:

Charms, all charms, as in stillness of plumb summer
The shut head lies down in bottomless grasses,
Willing that its thought be all heat and hum,
That it not dream the time passes.

Now as these light buildings of summer begin
To crumble, the air husky with blown tile,
It is as when in bald April the wind
Unhoused the spirit for a while:

Then there was no need by tales or drowsing
To make the thing that we were mothered by;
It was ourselves who melted in the mountains,
And the sun dove into every eye.

Our desires dwelt in the weather as fine as bomb-dust;
It was our sex that made the fountains yield;
Our flesh fought in the roots, and at last rested
Whole among cows in the risen field.

Now in its empty bed the truant river
Leaves but the perfect rumples of its flow;
The cottonwoods are spending gold like water;
Weeds in their light detachments go;

In a dry world more huge than rhyme or dreaming
We hear the sentences of straws and stones,
Stand in the wind and, bowing to this time,
Practice the candor of our bones.


FALL IN CORRALES. In: Voetica Poetry Spoken. Disponível em:< http://voetica.com/voetica.php?collection=1&poet=44&poem=1385>. Acesso em: 09. Abr. 2016.


O BELO SE TRANSFORMA

Quem atravessa uma campina outonal, em toda a parte,
Encontra as rendas da Rainha Ana: ─ lírios
Sobre a água: magia e arte
Que ao caminhante fazem transformar
A relva seca em lago, como tua sombra mínima
Aplaina minha alma de azul lucerna.

O belo se transforma como a floresta
Que um camaleão altera a ela adaptando a pele;
Como o louva-a-deus que assesta
Numa folha verde e nela se invagina
Tanto que mais enfolhece a folha e prova
Que o verdor é maior do que se imagina.

Tuas mãos seguram rosas como dizendo, eloquentes,
Que as rosas não são só tuas; o belo se transforma
Tão delicadamente
Procurando a partilha
Das coisas, da alma das coisas (para achá-las de novo)
Que, por momentos, aquilo que se toca, foge ─ de volta à Maravilha


Tradução de Jorge Wanderley. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.


THE BEAUTIFUL CHANGES


One wading a Fall meadow finds on all sides
The Queen Anne’s Lace lying like lilies
On water; it glides
So from the walker, it turns
Dry grass to a lake, as the slightest shade of you
Valleys my mind in fabulous blue Lucernes.

The beautiful changes as a forest is changed
By a chameleon’s tuning his skin to it;
As a mantis, arranged
On a green leaf, grows
Into it, makes the leaf leafier, and proves
Any greenness is deeper than anyone knows.

Your hands hold roses always in a way that says
They are not only yours; the beautiful changes
In such kind ways,
Wishing ever to sunder
Things and things’ selves for a second finding, to lose
For a moment all that it touches back to wonder.


THE BEAUTIFUL CHANGES. In: Poetry Foundantion. Disponível em:< http://www.poetryfoundation.org/poem/171800> Acesso em: 09. Abr. 2016.

O MECANIC(O)ISTA


Ao avançar, ele, com visão auto-abolida,
Vê de perto a a(mor) divinhizante margarida.

E pois com as pessoas só uma pessoa aprende,
Assustada a planta nega-se por seu turno, e prende,

Sacundindo, no escape às medrosas aragens,
Antódios soando a canhestras engrenagens.


Tradução de Octavio Mora. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980.


THE MECHANIST


Advancing with a self-denying gaze, he
Looks closely at the love-divining daisy.

Since none but persons may of persons learn,
The frightened plant denies herself in turn,

And sways away as if to flee her fears,
Clashing her flower heads like clumsy gears.


THE MECHANIST. In: Quingumbo, Nova Poesia Norte-Americana, Org Kerry Shawn Keys, Escrita, SP: 1980. 




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Sobre Jus et Humanitas

Sou Dalcin Lima, advogado, tradutor e um apaixonado por Línguas e Literatura, especialmente poesia. Sou protetor de animais em geral.
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1 comentários:

  1. Muito bom o propósito de incluir o ser humano num ambiente natural, de plantas,rios,trazendo a ideia de que fazemos parte da natureza e assim devemos, reciprocamente, considerá-la parte essencial de nossa vida.

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