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COLOSSO: MAIS CINCO POEMAS DE SYLVIA PLATH


40 GRAUS DE FEBRE
Pura? Que vem a ser isso?
As línguas do inferno
São baças, baças como as tríplices

Línguas do apático, gordo Cérbero
Que arqueja junto à entrada. Incapaz
De lamber limpamente

O febril tendão, o pecado, o pecado.
Crepita a chama.
O indelével aroma

De espevitada vela!
Amor, amor, escassa a fumaça
Rola de mim como a echarpe de Isadora, e temo

Que uma das bandas venha a prender-se na roda.
A amarela e morosa fumaça
Faz o seu próprio elemento. Não irá alto

Mas rolará em redor do globo
A asfixiar o idoso e o humilde,
O frágil

E delicado bebê no seu berço,
A lívida orquídea
Suspensa do seu jardim suspenso no ar,

Diabólico leopardo!
A radiação faz que ela embranqueça
E a extingue em uma hora.

Engordurar os corpos dos adúlteros
Tal qual as cinzas de Hiroshima e corroê-los.
O pecado. O pecado.

Querido, a noite inteira
Eu passei oscilando, morta, viva, morta, viva.
Os lençóis opressivos como beijos de um devasso.

Três dias. Três noites.
água de limão, canja
Aguada, enjoa-me.

Sou por demais pura para ti ou para alguém.
Teu corpo
Magoa-me como o mundo magoa Deus. Sou uma lanterna —

Minha cabeça uma lua
De papel japonês, minha pele de ouro laminado
Infinitamente delicada e infinitamente dispendiosa.

Não te assombra meu coração. E minha luz.
Eu sou, toda eu, uma enorme camélia
Esbraseada e a ir e vir, em rubros jorros.

Creio que vou subir,
Creio que posso ir bem alto —
As contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu

Sou uma virgem pura
De acetileno
Acompanhada de rosas,

De beijos, de querubins,
Do que venham a ser essas coisas rosadas.
Não tu, nem ele

Não ele, nem ele
(Eu toda a dissolver-me, anágua de puta velha) —
Ao Paraíso.

Tradução de Afonso Félix de Souza. In: A Rua Sétima. Disponível em:< https://aruasetima.wordpress.com/2014/03/01/poemas-de-sylvia-plath/>. Acesso em: 05. Ago. 2016.

FEVER 103°

Pure? What does it mean?
The tongues of hell
Are dull, dull as the triple

Tongues of dull, fat Cerberus
Who wheezes at the gate. Incapable
Of licking clean

The aguey tendon, the sin, the sin.
The tinder cries.
The indelible smell

Of a snuffed candle!
Love, love, the low smokes roll
From me like Isadora’s scarves, I’m in a fright

One scarf will catch and anchor in the wheel,
Such yellow sullen smokes
Make their own element. They will not rise,

But trundle round the globe
Choking the aged and the meek,
The weak

Hothouse baby in its crib,
The ghastly orchid
Hanging its hanging garden in the air,

Devilish leopard!
Radiation turned it white
And killed it in an hour.

Greasing the bodies of adulterers
Like Hiroshima ash and eating in.
The sin. The sin.

Darling, all night
I have been flickering, off, on, off, on.
The sheets grow heavy as a lecher’s kiss.

Three days. Three nights.
Lemon water, chicken
Water, water make me retch.

I am too pure for you or anyone.
Your body
Hurts me as the world hurts God. I am a lanterna —

My head a moon
Of Japanese paper, my gold beaten skin
Infinitely delicate and infinitely expensive.

Does not my heat astound you! And my light!
All by myself I am a huge camellia
Glowing and coming and going, flush on flush.

I think I am going up,
I think I may rise —
The beads of hot metal fly, and I love, I

Am a pure acetylene
Virgin
Attended by roses,

By kisses, by cherubim,
By whatever these pink things mean!
Not you, nor him

Nor him, nor him
(My selves dissolving, old whore petticoats) —
To Paradise.

FEVER 103°. In: Poetry Foundation. Disponível em:< https://www.poetryfoundation.org/poetrymagazine/poems/detail/29479>. Acesso em: 05. Ago. 2016.


PALAVRAS

Golpes
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.

A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rocha

Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro

Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.

Tradução de Ana Cristina César. In: A Rua Sétima. Disponível em:< https://aruasetima.wordpress.com/2014/03/01/poemas-de-sylvia-plath/>. Acesso em: 05. Ago. 2016.


WORDS

Axes
After whose stroke the wood rings,
And the echoes!
Echoes traveling
Off from the center like horses.

The sap
Wells like tears, like the
Water striving
To re-establish its mirror
Over the rock

That drops and turns,
A white skull,
Eaten by weedy greens.
Years later I
Encounter them on the road----

Words dry and riderless,
The indefatigable hoof-taps.
While
From the bottom of the pool, fixed stars
Govern a life.

WORDS. In: American Poems. Disponível em:< http://www.americanpoems.com/poets/sylviaplath/1462>. Acesso em: 05. Ago. 2016.


OUTONO DE RÃ

O verão envelhece, mãe impiedosa.
Os insetos vão escassos, esquálidos.
Em nossos lares palustres nós apenas
Coaxamos e definhamos.

As manhas se dissipam em sonolência.
O sol brilha pachorrento
Entre caniços ocos. As moscas não chegam a nós.
O charco nos repugna.

A geada cobre até aranhas. Obviamente
O deus da plenitude
Está morando longe daqui. Nosso povo rareia
Lamentavelmente.

Tradução de Jorge Wanderley. In: A Rua Sétima. Disponível em:< https://aruasetima.wordpress.com/2014/03/01/poemas-de-sylvia-plath/>. Acesso em: 05. Ago. 2016.


FROG AUTUMN

Summer grows old, cold-blooded mother.
The insects are scant, skinny.
In these palustral homes we only
Croak and wither.

Mornings dissipate in somnolence.
The sun brightens tardily
Among the pithless reeds. Flies fail us.
he fen sickens.

Frost drops even the spider. Clearly
The genius of plenitude
Houses himself elsewhwere. Our folk thin
Lamentably.

FROG AUTUMN. In: American Poems. Disponível em:< http://www.americanpoems.com/poets/sylviaplath/9043>. Acesso em: 05. Ago. 2016.

COGUMELOS

 
Varando a noite, com
Brandura, brancura,
Silêncio absoluto,

Do artelho aos narizes
Tomamos posse da argila
E do ar adquirido.

Ninguém nos avista,
Nos detém, nos agride;
Evadem-se os grãozinhos.

Punhos suaves insistem
Em brandir agulhas,
O recheio folhudo,

Até o calçamento.
Nossos martelos, marretas,
Sem olhos e ouvidos,

De voz nem um fio
Alargam as gretas,
Ombro abrindo fendas. Nós

Vivevos a pão e água,
Migalhas de sombra,
Com modos afáveis,

Inquirindo pouco ou nada.
São tantos de nós!
São tantos de nós!

Somos estantes, somos
Mesas, somos humildes,
Somos comestíveis,

Aos trancos e arranques
Apesar de nós mesmos
Nossa espécie se expande:

Pela manhã, havemos
De herdar o planeta.
E nosso pé porta adentro.

Tradução de Flávio Quintiliano. In: Sylvia Plath (1932-1963) - Poems translated into Portuguese. Disponível em:< http://www.sylviaplath.de/plath/portpoems.html>. Acesso em: 05. Ago. 2016.

MUSHROOMS

Overnight, very
Whitely, discreetly,
Very quietly

Our toes, our noses
Take hold on the loam,
Acquire the air.

Nobody sees us,
Stops us, betrays us;
The small grains make room.

Soft fists insist on
Heaving the needles,
The leafy bedding,

Even the paving.
Our hammers, our rams,
Earless and eyeless,

Perfectly voiceless,
Widen the crannies,
Shoulder through holes. We

Diet on water,
On crumbs of shadow,
Bland-mannered, asking

Little or nothing.
So many of us!
So many of us!

We are shelves, we are
Tables, we are meek,
We are edible,

Nudgers and shovers
In spite of ourselves.
Our kind multiplies:

We shall by morning
Inherit the earth.
Our foot's in the door.

MUSHROOMS. In: All Poetry. Disponível em:< https://allpoetry.com/poem/8498359-Mushrooms-by-Sylvia-Plath>. Acesso em: 05. Ago. 2016.

COLOSSO 


Nunca conseguirei juntar-te todo,
compor-te, colar-te e unir-te devidamente.
Zurros de machos, grunhidos de porco e cacarejos obscenos
saem dos teus lábios.
É bem pior que num curral.

Talvez te consideres um oráculo,
porta-voz dos mortos, ou de um outro deus.
Há trinta anos que trabalho
para dragar o lodo da tua garganta.
Pouco mais sei!

Trepando pequenas escadas com frascos de cola e baldes de lisol
rastejo como uma formiga de luto
sobre as terras cobertas de erva da tua fonte
para reparar as imensas placas do teu crânio e limpar
os túmulos brancos, vazios dos teus olhos.

Um céu azul saído da Oresteia
arqueia-se sobre nós. Ó pai, tu só
és vigoroso e histórico como o Forum Romano.
Abro a minha merenda numa colina de ciprestes negros.
Os teus ossos estriados e os teus cabelos como o acanto
[estão espalhados

na sua velha anarquia até à linha do horizonte.
Seria preciso mais que o golpe de um relâmpago
para criar tal ruína.
De noite escondo-me na cornucópia
do teu ouvido esquerdo, abrigada do vento,

contando as estrelas, rubras ou cor-de-ameixa.
O sol ergue-se sob o pilar da tua língua,
as minhas horas casam-se com a sombra.
Já não escuto o raspar de uma quilha
nas brancas pedras do desembocadouro.

Tradução de Maria de Lurdes Guimarães. In: canal de poesia. Disponível em:< http://canaldepoesia.blogspot.com.br/2008/11/sylvia-plath-colosso.html>. Acesso em: 05. Ago. 2016.


THE COLOSSUS

I shall never get you put together entirely,
Pieced, glued, and properly jointed.
Mule-bray, pig-grunt and bawdy cackles
Proceed from your great lips.
It's worse than a barnyard.

Perhaps you consider yourself an oracle,
Mouthpiece of the dead, or of some god or other.
Thirty years now I have labored
To dredge the silt from your throat.
I am none the wiser.

Scaling little ladders with glue pots and pails of Lysol
I crawl like an ant in mourning
Over the weedy acres of your brow
To mend the immense skull-plates and clear
The bald, white tumuli of your eyes.

A blue sky out of the Oresteia
Arches above us. O father, all by yourself
You are pithy and historical as the Roman Forum.
I open my lunch on a hill of black cypress.
Your fluted bones and acanthine hair are littered

In their old anarchy to the horizon-line.
It would take more than a lightning-stroke
To create such a ruin.
Nights, I squat in the cornucopia
Of your left ear, out of the wind,

Counting the red stars and those of plum-color.
The sun rises under the pillar of your tongue.
My hours are married to shadow.
No longer do I listen for the scrape of a keel
On the blank stones of the landing.

THE COLOSSUS. In: American Poems. Disponível em:< http://www.americanpoems.com/poets/sylviaplath/1441>. Acesso em: 05. Ago. 2016.

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Sobre Jus et Humanitas

Sou Dalcin Lima, advogado, tradutor e um apaixonado por Línguas e Literatura, especialmente poesia. Sou protetor de animais em geral.
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